Carioca do subúrbio de Madureira, o pianista Jonathan Ferr é tido atualmente como um dos principais nomes do jazz brasileiro. Apontado pelo jornal EL País como o “garoto-estandarte do jazz carioca”, Ferr juntou de tudo para trilhar caminhos musicais que desconstroem a erudição como algo inerente a estilos mais complexos.
Usando elementos de outros ritmos – como funk e hip-hop – para fazer um jazz mais urbano e popular, o pianista é um representante brasileiro do afrofuturismo: movimento que mescla tradições africanas com ficção científica e fantasia para rever o passado negro e criar novas narrativas. Jonathan explora as fronteiras do jazz com o broken beat e outros eletrônicos, além de utilizar recursos como o vocoder, instrumento que faz com que os timbres de voz soem robóticos.
Com mais de 212 mil visualizações em seu canal do YouTube, o artista acaba de lançar seu novo álbum “Cura”, o primeiro pelo slap, selo da Som Livre. O projeto chega ainda com uma websérie que será lançada no dia 01/06.
Composta por oito music visualizers – uma para cada faixa inédita. A série retrata o encontro de um casal que se apaixona e vive um drama da vida cotidiana, em um processo contínuo de busca pela referida cura do título do disco.
“Esperança” o primeiro single que foi lançado do disco, traz um poema de autoria Ferr declamado por Serjão Loroza e um clipe repleto de simbolismos. A faixa, delicada em sua melodia, contém uma mensagem forte e ainda mais potencializada pela locução grave de Loroza. Veja:
Mas, afinal, quem é Jonathan Feer? Qual a sua trajetória? O artista é o destaque de hoje do “Quem é”. Lançado em fevereiro, o quadro do POPline.Biz é Mundo da Música traz nomes que estão dando o que falar no mercado como Brena Gonçalves, Saudade, Hiran, Kika Boom, Luan Estilizado, Illy, DJ Guuga, Gabriela Rocha, Hotelo, Kant, Zé Vaqueiro, Malu, Diego & Victor Hugo, Krawk, Vitor Fernandes, Rai Saia Rodada, Salvador da Rima, Kawe, Nathan, MC Drika, OUTROEU e mais.
Acompanhe os artistas que estão se destacando na indústria musical acessando nosso Instagram, @poplinebizmm
Quem é Jonathan Ferr?
Se ao ouvir falar em jazz e piano você automaticamente pensa em músicos de figurinos clássicos e cores sóbrias, pode esquecer essa persona. Jonathan aprendeu desde muito pequeno a admirar a música. Seus pais tinham uma coleção de vinis e eram ouvintes assíduos de rádio. Chegou a pensar, quando criança, em ser baterista. “Vivia batucando em panelas da minha mãe”, revela o artista. Mas bastou ver a capa do disco de um pianista para despertar sua curiosidade pelo instrumento.
Ganhou um tecladinho de brinquedo e começou a tirar músicas de ouvido. Aos 9 anos, Jonathan já estava tocando sozinho, autodidata. Depois começou a fazer aulas perto de casa, mas quando seus pais não puderam mais pagar, o jovem começou a vender água sanitária e cloro na sua rua para sustentar seu sonho.
“Não era algo que atrapalhava minha educação ou algo assim, sempre fazia duas vezes por semana para garantir minhas aulas de piano. Muita gente comprava para ajudar. Depois consegui bolsa de estudos e fui indo”, conta o pianista.
O músico estudou na Escola de Música Villa-Lobos, onde aprendeu a ler partitura e conhecer sobre música erudita. Dentre os artistas que o influenciaram no jazz, o pianista destaca Ed Motta, Banda Black Rio, Arthur Maia e alguns internacionais como Miles Davis, Count Basie e McCoy Tiner. “Realmente vejo o jazz como a música do futuro, que me traz liberdade artística”, destaca o artista.
Chegou a tocar em diversas bandas até achar a sonoridade que queria. “Vi muita gente fazendo coisas do mais do mesmo e queria buscar minha identidade, algo com que as pessoas se conectassem mesmo”, explica.
Com dois álbuns lançados (2018 e 2019), Jonathan traz em “Cura”, seu mais recente projeto, oito faixas autorais que alcançam o feito de simultaneamente ser uma obra essencialmente pessoal do artista, enquanto transmite uma mensagem universal a quem escuta. A única faixa que foge a essa regra, e não à toa, é “Sino da Igrejinha”. Canção de domínio público e familiar aos cultos de matrizes africanas, ela foi a escolhida para ser a primeira da tracklist. “Dentro dos terreiros, essa é uma música cantada para a entidade responsável por abrir os caminhos para todas as coisas”, explica Ferr, evidenciando mais uma faceta de sua personalidade plural.