Quincy Jones, produtor e arranjador norte-americano, morreu nesta segunda-feira (4) aos 91 anos. Considerado um dos nomes mais influentes da indústria musical, Jones foi responsável por momentos decisivos na carreira de artistas como Michael Jackson, Ray Charles e Frank Sinatra. Ao longo de mais de sete décadas, ele quebrou barreiras raciais, misturou gêneros e revolucionou a produção musical, elevando-a a um novo patamar de sofisticação e técnica.
Sua família comunicou o falecimento por meio de uma nota:
“Essa noite, com os corações cheios, porém partidos, precisamos compartilhar a notícia do falecimento de nosso pai e irmão Quincy Jones. Apesar de ser uma grande perda para nossa família, celebramos a grande vida que ele teve e sabemos que jamais haverá outro como ele.”
Jones faleceu em sua casa em Bel Air, cercado pela família, incluindo filhos e irmãos. Para a indústria musical, sua partida representa o encerramento de uma era marcada pela inovação e pela promoção da diversidade artística.
Influência na produção musical e parcerias icônicas
A contribuição de Quincy Jones para a música popular se estende por muitas décadas. Como produtor, ele deu vida a álbuns icônicos de Michael Jackson, incluindo “Thriller” (1982), o mais vendido da história, e “Off the Wall” (1979), ambos responsáveis por redefinir os padrões da música pop com um som que misturava elementos do funk, rock e R&B. Esse trabalho transformou a carreira de Jackson e consolidou a posição de Jones como um visionário na produção musical.
Antes disso, Jones já era um nome reconhecido no mundo do jazz, colaborando com grandes nomes como Dizzy Gillespie e Count Basie. Ele também trabalhou como arranjador de Frank Sinatra, para quem produziu a famosa reinterpretação de “Fly Me to the Moon” em ritmo de swing. Ao longo da carreira, Jones soube incorporar influências de gêneros diversos, criando uma sonoridade que conectava diferentes públicos e épocas.
Quincy Jones teve uma forte conexão com a música brasileira, que começou na década de 1960, quando ele conheceu e colaborou com artistas como o maestro e compositor Tom Jobim e o multi-instrumentista e compositor Eumir Deodato. Fascinado pela bossa nova, Jones foi influenciado pelo ritmo brasileiro em suas próprias composições e arranjos, o que pode ser notado na mistura de jazz com elementos de bossa em alguns de seus trabalhos.
Ele também produziu álbuns de artistas brasileiros e promoveu o estilo internacionalmente, valorizando a música do Brasil em gravações e colaborações, como em “Sinatra at the Sands “(1966), onde adicionou uma leve influência da bossa nova nos arranjos.
Não por acaso, compôs o tema de de jazz “Soul Bossa Nova” em 1962, destacando a influência do estilo que ele conheceu durante uma turnê no Brasil com Gillespie. A faixa inclui o som característico da cuíca, uma conexão inegável com a sonoridade brasileira.
Um produtor que personifica o pop
A produção do hit beneficente “We Are the World” em 1985, organizada por Quincy, é outro exemplo de sua influência. Reunindo estrelas como Lionel Richie, Stevie Wonder e Diana Ross, ele demonstrou sua habilidade em coordenar grandes projetos e colaborar com artistas de perfis variados.
A faixa, que arrecadou milhões para o combate à fome na África, tornou-se um dos singles mais vendidos de todos os tempos e marcou um momento especial na história da música. Este ano, ele foi revisitado no documentário “A Noite Que Mudou o Pop”, da Netflix.
Além disso, em 2018, o documentário “Quincy”, co-dirigido pela filha do lendário produtor, Rashida Jones (Parks & Recreation, The Office) relembrou sua trajetória.
Contribuições para cinema e TV
Além de seu legado na música, Quincy Jones foi um pioneiro em Hollywood, onde abriu caminho para músicos e compositores negros. Ele foi o primeiro homem afro-americano a ocupar uma posição de direção musical em uma grande emissora, trabalhando para a NBC.
Entre seus sucessos como compositor de trilhas sonoras, destacam-se trabalhos como “No Calor da Noite” (1967) e “O Agente da U.N.C.L.E.” (1964). Essas obras ajudaram a consolidar sua carreira no cinema e influenciaram gerações de compositores ao misturar elementos do jazz com a música orquestral.
Jones também atuou como produtor executivo do filme “A Cor Púrpura” (1985), ao lado do diretor Steven Spielberg. O filme, estrelado por Whoopi Goldberg e Oprah Winfrey, recebeu 11 indicações ao Oscar, e sua trilha sonora foi um dos muitos projetos de Jones que demonstravam sua habilidade em traduzir emoções e histórias complexas em música. Esses feitos tornaram Jones uma referência para a inclusão de artistas negros em produções audiovisuais, fortalecendo sua posição como figura histórica na luta por representatividade.
Outro marco na TV foi seu trabalho como produtor da série “The Fresh Prince of Bel-Air”, estrelada por Will Smith. “Um Maluco no Pedaço”, como ficou conhecida no Brasil, trouxe ao público uma representação positiva de uma família negra nos Estados Unidos, influenciando a cultura pop e abrindo portas para produções diversificadas e inclusivas nas décadas seguintes.
Um legado de colaboração e inovação
Jones recebeu ao longo da vida 28 prêmios Grammy, além de honrarias de renome, como a Legião de Honra da França e o Prêmio Rudolph Valentino na Itália. No final da década de 1980, ele lançou o álbum “Back on the Block”, que uniu lendas do jazz, rap e R&B, antecipando a convergência entre esses estilos que seria explorada nas décadas seguintes.
Sua influência vai além das obras individuais. Ele trouxe à tona a importância do trabalho colaborativo e impulsionou novos artistas a explorarem diferentes estilos musicais. Para as futuras gerações, seu legado continuará a inspirar não só pelo impacto cultural, mas também pelo exemplo de inovação e respeito pela diversidade musical que ele sempre buscou promover. A relação próxima com músicos de vários perfis, como Herbie Hancock, Ella Fitzgerald e Ice-T, foi um testemunho de seu espírito aberto e colaborativo.
Com o falecimento de Quincy Jones, a música perde um de seus maiores arquitetos. Contudo, suas inovações técnicas, a diversidade de seu repertório e seu compromisso com a inclusão permanecem, garantindo que seu nome seja lembrado como uma das pedras angulares da música popular.