A edição 2025 do estudo “Por Elas Que Fazem a Música”, lançado pela União Brasileira de Compositores (UBC), traz à tona um cenário persistente de desigualdade de gênero na indústria musical. Os dados mostram que as mulheres recebem apenas 10% do total de direitos autorais distribuídos no país, um reflexo da disparidade que ainda marca o setor.
Além disso, o estudo aponta que 66% das mulheres já foram vítimas de assédio no ambiente profissional, evidenciando os obstáculos que vão além da questão financeira. O relatório, divulgado bem a tempo do Dia Internacional da Mulher, também destaca que, entre os 100 maiores arrecadadores da UBC em 2024, apenas 12 são mulheres.
Apesar disso, houve um avanço simbólico: a artista mais bem posicionada subiu oito lugares em relação a 2023, alcançando a 13ª colocação. Esse movimento sugere que mudanças estão em curso, mesmo que de forma lenta.
Distribuição de renda e participação feminina na música

Ao analisar a distribuição de renda entre as mulheres na UBC, o estudo revela que as autoras concentram 73% do total recebido pelas associadas. Por outro lado, as versionistas têm a menor participação, com apenas 0,5% da arrecadação.
As intérpretes correspondem a 22,5%, as músicas executantes a 2,5% e as produtoras fonográficas a 1,5%. Esses números mostram que, embora haja uma presença feminina significativa em algumas áreas, como a autoria, outras ainda carecem de maior representatividade.
Outro dado que chama a atenção é o crescimento de 210% no número de mulheres associadas à UBC desde a primeira edição do relatório. Esse aumento expressivo reflete um interesse maior por parte das mulheres em buscar reconhecimento na indústria, mas ainda não se traduz em uma distribuição equitativa de renda.
A desigualdade geográfica também é um fator relevante: 60% das associadas estão no Sudeste, enquanto o Norte concentra apenas 3% das respondentes do estudo.

Assédio e discriminação: desafios persistentes
Além da análise econômica, o levantamento da UBC traz um levantamento preocupante sobre assédio e discriminação na indústria musical. Segundo a pesquisa, 76% das mulheres afirmam já ter sofrido discriminação de gênero no mercado da música, enquanto 66% relatam ter sido vítimas de assédio no ambiente profissional.
Para completar, a percepção de desigualdade é quase unânime: 97% das participantes acreditam que os homens recebem mais oportunidades ou são favorecidos no trabalho.

Os relatos coletados ilustram a gravidade do problema. Uma profissional, que preferiu não se identificar, contou que foi abandonada em um hotel após se recusar a dividir o quarto com um empresário.
Já a técnica de som Jessyca Souza Meireles relatou ter sido agarrada por um colega de trabalho durante um evento. Esses casos mostram que, além da desigualdade financeira, as mulheres enfrentam desafios que afetam sua segurança e bem-estar no ambiente profissional.
UBC como exemplo de equidade de gênero
Apesar do cenário desafiador, a UBC tem se destacado como uma entidade comprometida com a equidade de gênero. Atualmente, 57% da equipe é composta por mulheres, que ocupam 61% dos cargos de liderança. Em 2023, a organização elegeu Paula Lima como sua primeira Diretora-Presidenta, um marco importante na busca por mudanças estruturais na indústria.
Paula Lima ressalta a importância do estudo como ferramenta de transformação.
“O relatório ‘Por Elas Que Fazem a Música’ mostra, de forma ampla e objetiva, a nossa realidade no cenário musical. Os números evidenciam uma poderosa evolução, que deve ser celebrada, mas também revelam os desafios que ainda precisam ser enfrentados. O estudo nos fortalece enquanto rede e reforça a importância de ocuparmos mais espaços estratégicos. A UBC acredita na música e nas mulheres que fazem a música. Nosso compromisso é amplificar essa voz e buscar a igualdade de gênero, ainda que o caminho seja complexo”, afirma.
Fernanda Takai, diretora vogal da UBC, complementa:
“As mulheres têm falado mais de seus pontos de vista, expandindo nosso universo musical. Ainda precisamos ampliar essa participação no mercado, tanto na produção quanto na arrecadação. Esse movimento não pode mais ser contido”.
Mila Ventura, gerente de comunicação da UBC e coordenadora do projeto, reforça que os avanços conquistados são irreversíveis.
“Expandir, produzir e arrecadar são passos fundamentais para impulsionar essa transformação. Os números mostram que 90% das mulheres já tiveram seus talentos subestimados na indústria musical, um dado que, infelizmente, não surpreende. A UBC permanece firme ao lado das mulheres, trabalhando incansavelmente para garantir que elas tenham voz, reconhecimento e oportunidades iguais”, diz.
O estudo “Por Elas Que Fazem a Música 2025” está disponível na íntegra no site da UBC, oferecendo um panorama detalhado sobre a participação feminina na indústria musical e os desafios que ainda precisam ser superados.