A Comissão Europeia anunciou a suspensão da investigação sobre a compra da Downtown Music Holdings pela Universal Music Group (UMG), por meio da Virgin Music Group (VMG), porque alguns documentos exigidos não foram entregues dentro do prazo. A decisão foi tomada em 4 de setembro com base no artigo 11(3) do regulamento de fusões da União Europeia, que permite “parar o relógio” em casos de informações incompletas ou imprecisas.
A medida não encerra a investigação, mas interrompe o prazo legal para a análise. Até então, a Comissão Europeia tinha até 10 de dezembro para emitir uma decisão, após já ter estendido em 10 dias a contagem inicial de 90 dias definida em julho. Agora, um novo calendário será definido quando a investigação for retomada. Isso coloca em pausa, também, a aquisição final da companhia.
Origem da investigação da Comissão Europeia

O negócio, avaliado em US$ 775 milhões, não atingiu sozinho os limiares da EU Merger Regulation. Porém, foi submetido à análise na Holanda e na Áustria, onde se enquadrou nos critérios de notificação baseados em faturamento. Segundo comunicado da Comissão em abril, o caso foi então encaminhado a Bruxelas porque “a transação ameaça afetar de forma significativa a concorrência em determinados mercados da cadeia de valor da música, nos quais ambas as empresas atuam, na Áustria e nos Países Baixos, assim como em muitos outros Estados-membros”.
Em sua análise preliminar, divulgada em 21 de julho, a Comissão Europeia destacou que a aquisição “pode permitir que a UMG obtenha dados comercialmente sensíveis de gravadoras concorrentes”. O órgão alertou que esse acesso poderia prejudicar os rivais e “fortalecer ainda mais a UMG, que já é líder no mercado de distribuição no atacado de música gravada no Espaço Econômico Europeu”.
Reação do setor independente
Entidades do setor independente reforçaram a pressão contra a transação. A IMPALA, a IMPF e a AIM afirmam que a compra reduz rotas de distribuição alternativas, ameaça a diversidade cultural e amplia a concentração de mercado em favor da maior gravadora do mundo.
Para Helen Smith, presidente-executiva da IMPALA, “este é mais um movimento de apropriação de mercado”. Ela defendeu que autoridades europeias e de outros territórios bloqueiem a aquisição.
“O tempo chegou para reduzir a posição de mercado da UMG ao que já havia sido estabelecido. Este é um enorme avanço na participação de mercado da UMG e reduz seriamente as rotas independentes para o mercado. Nós esperamos que a nova Comissão Europeia estabeleça o padrão internacional.”

Resposta da Universal e da Downtown
Do lado da UMG e da Downtown, a narrativa é de que o negócio trará ganhos de escala e investimentos para clientes e parceiros. Em carta aberta, o CEO da Downtown, Pieter van Rijn, criticou o que chamou de “campanhas de desinformação” promovidas por entidades independentes. Ele afirmou que a escolha pela Universal ocorreu porque “nos foi apresentado um parceiro que queria investir na Downtown, em nossa equipe e em nossos clientes”.
Van Rijn garantiu que não há risco no compartilhamento de dados, argumentando que tanto a Virgin quanto a Downtown operam “em uma cultura construída sobre a confiança”.

Um impasse prolongado
A suspensão do processo aumenta a incerteza em torno da transação, que a UMG havia prometido concluir ainda em 2025. Com o relógio regulatório pausado, a decisão pode ficar para 2026.
Enquanto isso, a disputa pública entre majors e independentes ganha força. De um lado, a UMG defende o negócio como forma de ampliar tecnologia, suporte e inovação para artistas. Do outro, associações independentes alertam para o risco de concentração, perda de canais alternativos de distribuição e fragilização dos ecossistemas musicais nacionais.
Independentemente do desfecho, a investigação expõe como o controle sobre distribuição digital e dados de mercado se tornou peça central na disputa por poder dentro da indústria musical.
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