Artistas latinos ganham espaço em festivais brasileiros e internacionais

Festivais como Lollapalooza, Coachella e Rock in Rio ampliam presença de artistas latinos, abrindo caminho para turnês e novos públicos no Brasil.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Música latina continua crescendo - Peso Pluma e Karol G
Peso Pluma e Karol G são expoentes do novo cenário da América Latina (Crédito: Divulgação)

O Brasil sempre foi um país onde a música em espanhol encontra público fiel, mas nem sempre consegue alcançar sucesso comercial que sustente turnês solo de grande porte. Esse cenário tem mudado gradualmente, e um dos principais vetores dessa transformação são os festivais. 

Eventos como Lollapalooza Brasil e Rock in Rio têm incluído artistas hispânicos em seus line-ups, oferecendo primeiras oportunidades de contato com plateias nacionais. Ao mesmo tempo, festivais internacionais de peso, como o Coachella, nos Estados Unidos, têm consolidado artistas latinos em posições de destaque, o que impacta também o mercado brasileiro.

No line-up do Lollapalooza Brasil 2026, o único nome hispânico estrangeiro é o trio mexicano The Warning, que se apresenta em inglês, além do grupo norte-americano Cypress Hill, formado por integrantes de origem cubana e mexicana. Ainda que a presença pareça tímida, o dado é relevante quando se observa o histórico do festival, dominado por nomes dos Estados Unidos e da Europa. Para artistas latinos, trata-se de uma vitrine que dificilmente conseguiriam replicar em turnês solo no Brasil, dadas as barreiras comerciais e linguísticas ainda presentes no mercado.

O avanço latino no Coachella

O Coachella, festival realizado anualmente na Califórnia, é um dos maiores termômetros para medir tendências globais da música ao vivo. Em 2023, Bad Bunny tornou-se o primeiro artista latino a ocupar o posto de headliner. No ano seguinte, a edição reuniu 21 artistas latinos, entre eles Peso Pluma, Young Miko, Bizarrap e Karol G. Já em 2025, nomes como The Marías, Iván Cornejo e CA7RIEL & Paco Amoroso marcaram presença, ainda que em número menor do que no ano anterior.

Esse crescimento reflete a força da música latina nos Estados Unidos, hoje responsável por cifras bilionárias. A Recording Industry Association of America (RIAA) mostrou que a receita do segmento superou a marca de US$ 1,4 bilhão em 2023, consolidando o gênero como motor da indústria fonográfica no país. Ao transbordar para festivais de grande porte, esses artistas expandem a base de fãs e criam um efeito cascata que se estende a outros mercados, como o brasileiro.

Bad Bunny (Crédito: Eric Rojas)
Bad Bunny (Crédito: Eric Rojas)

Rock in Rio abre espaço para latinos

No Brasil, o Rock in Rio seguiu a tendência dos mercados americano e europeu e também tem dado destaque a artistas latinos. Em 2024, Karol G foi anunciada como headliner, uma chancela para o alcance de artistas que cantam em espanhol em um festival historicamente associado ao pop e ao rock anglófono. Essa escolha demonstra como a música latina deixou de ser um nicho para se tornar uma aposta segura em termos de público.

O histórico do festival, desde a estreia em 1985, mostra uma abertura gradual para diferentes gêneros. A presença de artistas latinos, antes pontual, passa a fazer parte de uma estratégia de diversidade sonora que acompanha a transformação do próprio mercado. Ao incluir estrelas de peso do reggaeton e do pop latino, o Rock in Rio amplia seu apelo e se conecta com tendências globais.

Lollapalooza e a ponte com a América Latina

No Lollapalooza, o papel dos artistas latinos também ganha relevância. O colombiano J Balvin foi o primeiro latino a ser headliner do festival em Chicago, em 2019, sinalizando uma mudança estrutural. Desde então, nomes como Latin Mafia, Young Miko e Ca7riel & Paco Amoroso passaram a figurar nas edições latino-americanas do evento, como Chile e Argentina.

Para artistas hispânicos, o Brasil funciona como vitrine estratégica. Mesmo que a barreira do idioma ainda limite o alcance radiofônico e televisivo, os festivais oferecem um ponto de contato direto com o público local. É por esse motivo que muitas turnês passam primeiro por São Paulo dentro da agenda sul-americana, em datas ligadas a grandes festivais.

O impacto econômico da música latina

O crescimento da música em espanhol nos palcos acompanha o rendimento de seus lançamentos. Relatórios de mercado apontam que a indústria musical da América Latina deve crescer de US$ 2,2 bilhões em 2025 para US$ 4,7 bilhões em 2033, a uma taxa anual de quase 10%. Esse avanço ajuda a explicar a presença cada vez mais robusta de artistas hispânicos em circuitos internacionais, uma vez que o poder de consumo da região também se reflete em investimentos das grandes empresas do setor.

Ao mesmo tempo, festivais globais tornaram-se parte de um mercado de turismo musical avaliado em US$ 7,8 bilhões em 2025, com expectativa de chegar a US$ 14,09 bilhões até 2032. Considerando todo esse contexto, a presença de artistas latinos em festivais como Lollapalooza Brasil, Coachella e Rock in Rio ganha ainda mais sentido: trata-se de uma aposta não só cultural, mas também econômica, que conecta públicos regionais e internacionais.

Novos públicos e novas possibilidades

A cada edição de grandes festivais, o espaço dedicado à música latina se amplia. Mesmo que o Brasil ainda não seja território fértil para turnês solo de artistas hispânicos, os festivais têm oferecido uma plataforma importante para reduzir distâncias e despertar interesse. 

Esse movimento, que começou de forma tímida, ganha consistência à medida que nomes latinos se consolidam no topo de festivais internacionais e conquistam público em mercados onde antes eram apenas convidados ocasionais.

A presença desses artistas em palcos de grande visibilidade amplia a diversidade dos line-ups e ajuda a redefinir o mapa cultural e comercial da música ao vivo. Com isso, o Brasil se torna parte de um circuito maior, em que a América Latina já não é periférica, mas sim protagonista em ascensão.

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