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Profissão Video Content: Agregadora musical

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Redação

O POPline.Biz é Mundo da Música retoma a sua série especial dentro do quadro “Guia MM” que traz referências em atuação no mercado musical para explicar como funciona a rotina, os desafios e as oportunidades da sua profissão no setor.

Para entender o papel do Video Content dentro de uma agregadora musical, o POPline.Biz é Mundo da Música, entrevistou Gabriel Gaspar, chefe da operação de vídeo da Believe no Brasil.  

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Jornalista de formação, Gabriel Gaspar exerceu a profissão de 2004 a 2016. No início da carreira, ele chegou a fazer assessoria de imprensa na área de música, trabalhou na parte de cultura do MSN e depois migrou para Economia/Tecnologia, trabalhando como repórter e editor na Gazeta Mercantil e no Diário do Comércio, da Indústria e Serviços (DCI). 

De volta à área da cultura: ele foi pauteiro e produtor do programa Metrópolis da TV Cultura. Mas, a partir de 2011, quando Gabriel foi para a França para fazer um mestrado em literatura, com especialização em Política Externa. Lá, ele entrou na principal rádio pública francesa, a RFI, onde trabalhou como editor, apresentador e repórter. Além disso, fez correspondências para diversos veículos do Brasil, incluindo CBN, BandNews, GloboNews e Rádio Nacional, entre outros. 

“Tive a oportunidade de cobrir a crise migratória de 2015, o início dos recentes conflitos na Síria e na Líbia, duas visitas de Estado (incluindo uma da presidente Dilma Rousseff durante a gestão François Hollande), a ascensão do autoproclamado Estado Islâmico e os atentados que essa organização promoveu em solo francês. Mas nunca perdi meu laço com a cultura: apresentava um programa semanal chamado Agenda Europa, que era veiculado tanto na grade da RFI quanto pela CBN paulista”, conta Gabriel Gaspar.

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Gabriel Rocha Gaspar, Senior Video Manager da Believe. Foto: Reprodução/LinkedIn

Já de volta ao Brasil, em 2017, Gabriel se inscreveu para vaga de Video Channel Manager na Believe. Segundo ele, a área parecia sintetizar as  suas experiências prévias, unindo música, tecnologia e negócios. Além disso, tratava-se de uma empresa francesa, onde a sua proficiência no idioma também seria valorizada. A única ponta solta, à época, era o conhecimento no mercado de distribuição de vídeo. Por isso, antes mesmo de ser convocado para uma entrevista, ele fez  todos os cursos que o YouTube disponibiliza sobre Gestão de Direitos na plataforma, Marketing Musical, gerenciamento de conteúdo musical etc. 

Quando foi chamado para conversar com o recrutador, Gabriel já tinha toda a qualificação técnica necessária para o exercício da função. Hoje, depois de seis anos no cargo, ele chefia a operação de vídeo da Believe no Brasil.  

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Gabriel Rocha Gaspar, Senior Video Manager da Believe. Foto: Reprodução/LinkedIn

POPline.Biz:  Como funciona a sua rotina e quais as principais atividades de um “Video Content”?

Gabriel Gaspar: Eu diria que há quatro pilares para o bom exercício do trabalho de Video and Audience Development Management (Gerenciamento de Vídeo e Desenvolvimento de Audiência), como chamamos nosso departamento na Believe: qualificação técnica, curiosidade, comunicatividade e organização de processos. E cada um desses pilares se materializa em uma parte de nosso trabalho.

A qualificação técnica é o que nos permite exercer aquilo que chamamos de housekeeping, ou seja, literalmente garantir que a casa esteja arrumada: nos certificar de que todo o conteúdo de nossos clientes esteja corretamente monetizado no máximo de seu potencial, bem como perfeitamente estruturado para a descoberta em busca em termos técnicos, que o SEO esteja perfeitamente aplicado.

A curiosidade é o que nos permite estar sempre a par dos principais desenvolvimentos do mercado, seja em termos de ferramentas, seja em termos de tecnologias ou de modelos de negócios. Precisamos ser pesquisadores vorazes, capazes de antecipar tendências, entender os rumos do mercado e como a música pode se beneficiar de novas tecnologias. 

A comunicatividade é a consequência natural dessa curiosidade. Afinal, um conhecimento só pode ser chamado assim se ele for compartilhado. É preciso que um VAD Manager seja também um professor, tenha capacidade de orientar os clientes com o máximo repertório técnico e o máximo conhecimento de mercado possíveis. Por fim, como lidamos com grandes quantidades de clientes e dados, é fundamental que esse profissional tenha uma excelente organização de processos

Além de um conhecimento profundo dos processos que são definidos pela própria empresa, há também a necessidade de desenvolvimento e adaptação de processos adaptados à realidade do mercado local. Mas se não houver processos estabelecidos a priori, um VAD Manager não só não é eficaz como se torna incapaz de avaliar a própria eficácia.

 Em termos de rotina, hoje passo a maior parte do tempo na pesquisa e no desenvolvimento de estratégias de crescimento, além da gestão e orientação do time. Mas quando era Channel Manager, minha atividade se centrava mais no housekeeping e no esforço de informar e atender aos clientes, sanando dúvidas, resolvendo problemas e orientando planos de ação.  

POPline.Biz: Quando falamos sobre conteúdos audiovisuais, o predomínio dos vídeos curtos nos últimos anos, chama atenção. Na sua concepção, quais os desafios para manter o equilíbrio estratégico entre produções mais longas e mais curtas?

Gabriel Gaspar: Eu diria que são mídias distintas, mas complementares. Hoje, a chamada Geração-Z (pessoas nascidas no início deste século) compõe o maior grupo populacional do planeta. E é um grupo demográfico muito marcado pelo pragmatismo – pesquisas indicam que a maior parte desse público assiste a versões curtas de vídeos para decidir se assistirão às versões extendidas – e pela busca de recompensas imediatas. Indício disso é o fato de que a comunicação nos aplicativos de vídeos curtos tende a ser “gameficada”, ou seja, funciona na base de desafios e recompensas. Paralelamente, a televisão tradicional vem perdendo cada vez mais espaço – não como meio, mas como modo de consumo. 

As pessoas não estão abandonando as grandes telas, mas estão utilizando esses dispositivos para montar sua própria grade horária. O resultado disso é que temos, ao mesmo tempo, o recuo da audiência das redes televisivas tradicionais eventos como Oscar e Grammy têm registrado suas menores audiências históricas e o crescimento do volume de horas assistidas e longforms (vídeos com mais de 20 minutos) postados. E a pandemia acelerou essa mudança cultural, já que nos acostumamos a gastar mais tempo em plataformas VOD, seja por meio das lives, das conferências, dos vídeos de relaxamento, meditação, treino etc. Ou seja, o equilíbrio está dado pelo próprio padrão de consumo. A questão, que não vou responder rs, é como manter o fluxo de oferta constante e interessante para atender a esse padrão já estabelecido. 

POPline.Biz: Nos últimos anos, vimos grandes produções audiovisuais de videoclipes “perdendo espaço” para os visualizers e também, versões ao vivo de shows. Diante da sua análise, quais fatores indicam essa transição no mercado? 

Gabriel Gaspar: Eu não sei se chamaria de transição de mercado, acho que é mais uma resposta às condições objetivas do consumo. Veja, há hoje uma super oferta de conteúdo. As pessoas estão conectadas 24×7, provendo dados que constroem os algoritmos de sugestão das plataformas, numa espécie de relação dialética controlada. Isso obriga o produtor de conteúdo a calcular bem sua alocação de verba: é necessário manter a oferta para aproveitar essa super atenção do público e não ser “esquecido” pelos algoritmos. E é financeiramente inviável produzir um videoclipe de alta qualidade por dia.

Então, é preciso construir estratégias de manutenção da oferta que não estraçalhem o orçamento. Lyric videos, visualizers, videocaps, cortes de shows são produções mais baratas podem ajudar a suprir essa demanda.   

POPline.Biz:  Você acredita que existe uma “formação ideal” para atuar nessa área? Quais os principais desafios que a sua atuação possui hoje e quais as perspectivas de crescimento que você enxerga? O setor está em crescimento?

Gabriel Gaspar: Penso que estamos numa indústria em mutação, inserida num mundo em mutação. Isso exige adaptabilidade, pensamento visionário, pesquisa constante, curiosidade. Não há uma formação específica que te garanta essas habilidades, mas toda formação tende a fornecer ferramentas para esse tipo de pensamento inquisitivo, se o sujeito estiver disposto a desenvolvê-lo. Eu tendo a contratar pessoas inquietas, que não aceitam as aparências do mundo de forma acrítica. Interessam-me profissionais que fazem a mesma pergunta que uma criança em fase de alfabetização: por quê? Essa é a mais importante das formações, a habilidade de se questionar. O resultado é que em nossa equipe, temos profissionais de marketing, de relações internacionais, de jornalismo, como eu. O que essas pessoas têm em comum é essa capacidade de auto-atualização que nasce da curiosidade, de perguntar-se porquê e agir com base nesse questionamento. 

Creio que o grande desafio que enfrentamos agora é de ordem técnica-cultural: com as atividades pautadas pelo pensamento binário cada vez mais cobertas pelo que se convencionou chamar de “inteligência artificial”, precisamos encontrar nossa relevância na complexidade daquilo que a máquina nunca vai conseguir fazer, que é o não-binário.

A máquina já sabe responder “o quê”; responder “por quê” exige pensar fora dos modelos pré-estabelecidos – e o computador, como o próprio nome diz, é um compilador; ele só é capaz de construir o que já existe. Se soubermos delegar a atividade binária de forma a liberar nossos cérebros para a construção do pensamento complexo, emocionalmente engajado e socialmente comprometido, temos sim uma tendência de crescimento interessante. Caso contrário, seremos substituídos sem plano B. Por sorte… Ou melhor, por humanidade, estamos em um setor cujo produto é a intangibilidade. 

A arte vai crescer enquanto existir pensamento; o que não podemos fazer é reduzir a arte à eterna repetição de padrões para agradar algoritmos porque isso a máquina faz melhor do que nós. E o resultado vai ser o crescimento numérico em detrimento do crescimento cultural. De qualquer forma, o crescimento está assegurado. A questão é: qual crescimento?

POPline.Biz: Por fim, quais dicas você daria para quem deseja fazer uma transição de carreira ou investir na profissionalização para atuar neste setor?

Gabriel Gaspar: Antes de mais nada, eu faria todos os cursos que o YouTube oferece gratuitamente em sua plataforma, estudaria a fundo, para saber do que estamos falando e até decidir se isso te interessa de fato. É uma área muito técnica, mas que exige rapidez e adaptabilidade. E alguém só consegue se adaptar e mudar de rumo, se tiver conhecimento profundo dos fundamentos de uma área. Então, consolide esses fundamentos. 

Os cursos do YouTube são um bom caminho para começar. Faça-os mais de uma vez. Leia o Google Trends Report, clique nos links que ele oferece, aprofunde-se nas fontes. Procure os relatórios anuais da indústria, veja quais os gêneros que crescem pelo mundo, ouça música, veja/leia entrevistas com os produtores que te interessam. Conheça os métodos e funções de diferentes atores dessa cadeia produtiva. De forma muito resumida, adquira todo o conhecimento que estiver imediatamente disponível. 

A partir desse conhecimento, você aprenderá a buscar conhecimento secundário, terciário, quaternário e desenvolverá as habilidades inquisitivas necessárias para trabalhar em um organismo vivo, mutante, como as indústrias da música e da tecnologia. Em outras palavras, não perca tempo buscando fórmulas; construa conhecimento sólido.