Brasileira Vivian Aguiar-Buff concorre ao Emmy por trilha sonora de animação

Musicista e diretora musical da DreamWorks, Vivian está entre os indicados ao 3rd Annual Children’s & Family Emmy Awards por seu trabalho na animação “Orion e o Escuro”.
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Nathália Pandeló
Vivian Aguiar-Buff (Crédito: Anna Azarov)
Vivian Aguiar-Buff posa com seu Emmy (Crédito: Anna Azarov)

A musicista e diretora musical da DreamWorks, Vivian Aguiar-Buff, está entre os indicados ao 3rd Annual Children’s & Family Emmy Awards na categoria de Melhor Direção Musical e Composição. A brasileira assina a supervisão musical do filme “Orion e o Escuro”, produção da Netflix baseada no livro infantil de Emma Yarlett

O longa tem direção de Sean Charmatz e roteiro de Charlie Kaufman, conhecido por obras como “Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” e “Quero Ser John Malkovich”.

Esta é a segunda indicação consecutiva de Vivian ao prêmio. Em 2023, ela venceu a mesma categoria pelo trabalho na série “Kung Fu Panda: O Cavaleiro Dragão”, também da DreamWorks. 

Emmy infantil já é importante na indústria

O Emmy voltado a produções infantis e familiares é um dos principais reconhecimentos para profissionais desse segmento nos Estados Unidos. Para Vivian, a nomeação ocorre em um período de incerteza no setor. 

“Ter sido indicada ao Emmy num momento tão turbulento da nossa indústria tem ainda mais significado, é um sinal para continuar seguindo em frente e abrindo caminho em Hollywood para as novas gerações de artistas da América Latina e do mundo”, comenta a musicista radicada nos Estados Unidos há mais de 14 anos.

Trajetória e atuação na supervisão musical

Vivian Aguiar-Buff (Crédito: Anna Azarov)
Vivian Aguiar-Buff (Crédito: Anna Azarov)

Formada em cinema pela FAAP, Vivian começou sua carreira no mercado publicitário antes de se especializar em música para o audiovisual. Ao longo dos anos, passou por produtoras como O2 Filmes e Remote Control Productions, onde teve contato com grandes projetos. 

Em 2015, fundou a 1M1 Arte, empresa dedicada à supervisão musical e composição para filmes e séries, ao lado do advogado e produtor musical Luiz Augusto Buff.

A supervisão musical, função que Vivian exerce atualmente na DreamWorks, envolve a escolha, adaptação e combinação de músicas com as cenas de um filme ou série. Além de coordenar o trabalho de compositores, a função exige um olhar estratégico para que a trilha sonora fortaleça a narrativa e o impacto emocional da obra. 

Nos últimos anos, a presença de profissionais latinos nesse setor tem aumentado, com mais oportunidades para nomes que antes tinham dificuldade de inserção no mercado norte-americano.

A evolução da indústria musical no audiovisual

Nos últimos anos, a supervisão musical passou a ocupar um espaço mais estratégico dentro das produções audiovisuais. Com o crescimento das plataformas de streaming e a expansão da oferta de conteúdos, a escolha da trilha sonora se tornou um elemento ainda mais essencial para diferenciar obras no mercado. 

Produções voltadas para o público infantil, como “Orion e o Escuro”, exigem um cuidado especial na composição musical, que precisa dialogar com o universo dos personagens e contribuir para a construção da história.

Além do trabalho na DreamWorks, Vivian também atua na formação de novos profissionais. Professora na Berklee College of Music, ela ministra cursos sobre supervisão musical e carreira no mercado audiovisual. 

A presença de profissionais com experiência no setor acadêmico tem ajudado a preparar músicos e compositores para atuar na indústria de trilha sonora, que exige um conhecimento técnico e um olhar atento às mudanças do mercado.

O impacto do Me Too no setor de trilha sonora

A indústria cinematográfica passou por mudanças após o Me Too. Desde 2017, o movimento trouxe à tona denúncias de assédio sexual e abuso de poder em várias áreas, incluindo o cinema e a música. A discussão sobre equidade de gênero no entretenimento levou à reavaliação de práticas e dinâmicas de trabalho dentro dos estúdios. 

No segmento de trilha sonora e supervisão musical, a entrada de compositoras e coordenadoras de música tem sido mais frequente, reduzindo a disparidade que antes predominava.

Embora a presença feminina tenha aumentado, a proporção entre homens e mulheres na supervisão musical ainda está longe do equilíbrio. As mudanças, no entanto, abriram caminho para profissionais que antes enfrentavam barreiras para alcançar cargos de liderança.

Não há dados específicos sobre supervisão musical no cinema, mas informações relacionadas ao setor audiovisual em geral oferecem uma perspectiva sobre essa realidade.

No Brasil, a desigualdade de gênero também é evidente. Dados da Agência Nacional do Cinema (Ancine) indicam que, entre 2007 e 2015, as mulheres ocuparam cerca de 40% dos cargos no setor. Em 2015, elas receberam, em média, 13% menos que os homens. 

Além disso, em 2016, apenas 20,3% dos filmes lançados no país foram dirigidos por mulheres, com uma concentração maior em documentários, que geralmente possuem orçamentos menores.

A baixa representatividade feminina em áreas como produção e supervisão musical pode ser atribuída a fatores como a falta de referências, oportunidades e reconhecimento. A democratização da tecnologia tem facilitado o acesso de mulheres a essas funções, permitindo a criação de estúdios caseiros e a produção independente. No entanto, a ausência de modelos femininos consolidados e a sub-representação nos créditos de produções ainda são obstáculos.

Reconhecimento e expansão da presença latina

Vivian Aguiar-Buff construiu sua carreira nesse cenário e conquistou reconhecimento internacional em um segmento onde a presença feminina segue em crescimento.

Além da atual indicação ao Emmy, Vivian já recebeu outros prêmios por seu trabalho em trilha sonora. Em 2017, venceu o Prêmio Cinemúsica de Melhor Trilha Sonora Original pelo filme “Amor.com”

No ano seguinte, foi premiada no Los Angeles Brazilian Film Festival Awards pelo trabalho em “Não Se Aceitam Devoluções”. Essas premiações evidenciam o reconhecimento de profissionais brasileiros no mercado internacional e a crescente valorização da música como um elemento essencial dentro das produções audiovisuais.

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