Turnês de reunião revelam força inesperada no streaming, aponta Chartmetric

Sem um hit pop dominante neste verão, Chartmetric aponta que as turnês de reunião de grandes bandas elevam audiências nas plataformas digitais.
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Nathália Pandeló
Creed e Oasis estão entre artistas que viram seus streams crescerem graças a turnês de reunião
Creed e Oasis estão entre artistas que viram seus streams crescerem graças a turnês de reunião (Crédito: Divulgação)

A temporada de 2025 surpreendeu ao não consagrar um “hit do verão” nos moldes de anos anteriores, quando turnês de Taylor Swift e Beyoncé ou ascensões meteóricas de artistas como Sabrina Carpenter e Chappell Roan dominaram o mercado. Em vez disso, segundo o Chartmetric, a principal narrativa da indústria veio das turnês de reunião, que reacenderam a popularidade de bandas icônicas dos anos 1990 e 2000. O fenômeno, batizado de “efeito das turnês de reunião”, tem se refletido em números expressivos de streaming e engajamento nas redes sociais.

Entre os principais destaques, a volta do Oasis aos palcos no Live ’25 Tour e o concerto de despedida do Black Sabbath em julho demonstraram como a nostalgia pode remodelar o consumo musical digital. Até mesmo o Creed, banda de rock dos anos 1990 que esteve fora dos palcos por mais de uma década, colhe frutos com a retomada de shows.

Oasis cresce em streaming e conquista nova geração

Aumento de streams do Oasis com nova turnê, segundo o Chartmetric
Aumento de streams do Oasis com nova turnê, segundo o Chartmetric (Crédito: Reprodução)

O reencontro dos irmãos Liam e Noel Gallagher em Cardiff, no dia 4 de julho, marcou o início do Live ’25 Tour e gerou impacto imediato nas plataformas. Antes do retorno, o Oasis contabilizava cerca de 24 milhões de ouvintes mensais no Spotify. Apenas quatro semanas depois, o número saltou para 30,7 milhões, o que representa um crescimento superior a 6 milhões em um mês. A cada dia de turnê pelo Reino Unido, a banda registrava a entrada de mais de 100 mil novos ouvintes.

O efeito não se limitou ao Spotify. Segundo o Chartmetric, no TikTok, o grupo tinha 887,8 mil seguidores em junho. Um mês depois, o número já ultrapassava 1,2 milhão, aumento de 41,1%. Mais da metade desse público (51,3%) pertence à faixa de 18 a 24 anos, o que mostra que as músicas de álbuns como “Definitely Maybe” e “(What’s The Story) Morning Glory?” chegaram a ouvintes que sequer haviam nascido quando esses discos foram lançados.

Black Sabbath tem despedida marcada por recordes

Aumento de streams do Black Sabbath cm show de despedida, segundo o Chartmetric
Aumento de streams do Black Sabbath cm show de despedida, segundo o Chartmetric (Crédito: Reprodução)

Já o Black Sabbath reuniu sua formação original para o concerto “Back to the Beginning”, em 5 de julho, com Ozzy Osbourne nos vocais. O show foi o primeiro desde 2005 a reunir os integrantes fundadores e rapidamente se tornou histórico. O impacto foi ampliado pela morte de Osbourne, em 22 de julho, apenas semanas depois da apresentação.

Mesmo antes da notícia do falecimento, a banda já passava por um crescimento em sua audiência. No dia anterior ao show, o grupo tinha 16 milhões de ouvintes mensais no Spotify, contra 13 milhões ao longo do primeiro semestre de 2025. De acordo com o Chartmetric, uma semana após a apresentação, o número chegou a 18,4 milhões. No YouTube, a média diária de visualizações dobrou de 1,03 milhão para 2,14 milhões no período pós-show.

Clássicos e lados B ganham fôlego, aponta Chartmetric

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O efeito das turnês de reunião não ficou restrito às faixas mais populares. Entre julho e agosto, “Wonderwall” acumulou mais de 40 milhões de novos streams, enquanto “Don’t Look Back in Anger” somou quase 29 milhões no mesmo período. Até músicas fora do setlist da turnê, como “Shakermaker” e “Hey Now!”, tiveram aumentos consideráveis, o que indica um movimento de redescoberta completa do catálogo do Oasis.

No caso do Black Sabbath, clássicos como “Iron Man” e “War Pigs” também aceleraram em streams, com ganhos de 10,9 milhões e 8,5 milhões respectivamente em apenas um mês, números superiores aos do período anterior à reunião.

Creed e o retorno dos anos 90

O Creed, banda que caiu no desgosto popular e ausente dos palcos desde 2012, também experimenta crescimento com sua Summer of ’99 Tour. Em 2025, os ouvintes mensais no Spotify aumentaram de 11,3 milhões para 13,9 milhões, reflexo direto do interesse renovado em torno do grupo.

Esse movimento demonstra como as turnês de reunião funcionam como catalisadores de engajamento, colocando novamente em circulação catálogos que já tinham alcance global, mas que agora se beneficiam de novas formas de consumo digital e da nostalgia de diferentes gerações.

Impacto mercadológico das turnês

O fenômeno do efeito das turnês de reunião revela que o mercado da música não depende apenas de lançamentos inéditos para movimentar audiências. A força simbólica de reencontros históricos e shows de despedida pode redefinir a dinâmica de consumo em plataformas de streaming e redes sociais. Mais do que marcos nostálgicos, essas turnês se consolidam como estratégias para reposicionar os catálogos e engajar novas faixas etárias.

Se 2025 não teve um “hit do verão” no sentido tradicional, teve playlists dominadas por faixas de 20 ou 30 anos atrás, agora revitalizadas pela emoção coletiva de ver ídolos retornarem aos palcos. Para o mercado, o aprendizado que fica é que as turnês de reunião são motores de transformação digital para catálogos inteiros.

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