Nova pesquisa TIC Cultura mostra avanço da digitalização e uso ainda limitado de Inteligência Artificial em equipamentos culturais

Pesquisa TIC Cultura 2024 revela que IA está presente em apenas 10% dos equipamentos, enquanto a conectividade se aproxima da universalização.
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Nathália Pandeló
TIC Cultura 2024
TIC Cultura 2024 (Crédito: Reprodução)

O uso de Inteligência Artificial em equipamentos culturais brasileiros ainda é restrito, mas o avanço da digitalização tem transformado a infraestrutura tecnológica do setor. A nova edição da TIC Cultura 2024, divulgada nesta terça-feira (7) pelo Cetic.br|NIC.br, mostra que, embora a conectividade esteja praticamente universalizada, a adoção de aplicações baseadas em IA ainda se limita a pequenas parcelas das instituições.

Segundo o estudo, apenas 20% dos arquivos e 16% dos cinemas afirmaram ter utilizado tecnologias de IA nos últimos 12 meses. Em pontos de cultura, esse índice foi de 9%, enquanto bens tombados, museus e teatros registraram 4%. As bibliotecas aparecem com o menor percentual, de 2%. A pesquisa, realizada entre outubro de 2024 e abril de 2025, entrevistou gestores de 1.818 equipamentos culturais em todo o país, incluindo arquivos, bens tombados, bibliotecas, cinemas, museus, pontos de cultura e teatros.

“A adoção mais estratégica de aplicações baseadas em IA ainda é restrita no setor, por outro lado, os dados demonstram uma maturidade crescente dos equipamentos culturais brasileiros na incorporação das tecnologias digitais, apoiada pela universalização da conectividade e pelo maior uso de dispositivos próprios”, afirmou Alexandre Barbosa, gerente do Cetic.br.

Conectividade próxima da universalização

TIC Cultura mostra a distribuição de equipamentos no país (Crédito: Reprodução)
TIC Cultura mostra a distribuição de equipamentos no país (Crédito: Reprodução)

Os dados mostram que o acesso à Internet está praticamente universalizado entre os equipamentos culturais brasileiros. Arquivos e cinemas atingiram 100% de conectividade, enquanto os pontos de cultura chegaram a 96%. A taxa também cresceu entre os bens tombados, que passaram de 74% em 2022 para 92% em 2024. Apenas museus (87%) e bibliotecas (83%) ainda apresentam percentuais menores.

O levantamento aponta também para uma ampliação do acesso gratuito via Wi-Fi ao público. As bibliotecas registraram crescimento de 54% para 65% na oferta do serviço, seguidas pelos pontos de cultura, que passaram de 53% para 64%, e pelos museus, de 40% para 51%. Já a oferta de computadores ao público se manteve estável, com 55% dos arquivos e 41% das bibliotecas mantendo o serviço.

Essa expansão está diretamente ligada ao fortalecimento da infraestrutura tecnológica. O uso de tablets próprios nos arquivos passou de 14% em 2022 para 32%, e em teatros, de 17% para 27%. O número de notebooks de propriedade dos bens tombados subiu de 36% para 65%, enquanto o uso de celulares institucionais em pontos de cultura saltou de 28% para 39%.

Crescimento da presença digital

A presença em plataformas e redes sociais também se ampliou. O percentual de pontos de cultura com perfil em plataformas como Instagram, TikTok ou Flickr passou de 73% para 87%. Entre os bens tombados, o crescimento foi ainda maior, de 50% para 78%. Museus, teatros e bibliotecas também apresentaram avanços na adoção de aplicativos de mensagens como WhatsApp e Telegram, usados por até 37% dos museus e 35% dos teatros.

Após um aumento observado durante a pandemia, o uso de ferramentas de transmissão de vídeos ao vivo ou streaming recuou. Entre os teatros, o índice caiu de 25% para 16%, e nos cinemas, de 20% para 12%. A tendência indica uma consolidação das estratégias presenciais e um foco maior em conteúdos digitais de longa duração.

“Os equipamentos culturais brasileiros têm percebido que a conectividade e as tecnologias digitais se tornaram essenciais para suas atividades. O uso da Internet já é praticamente universal, com exceção de bibliotecas e museus, cuja presença ainda tem espaço para crescer. A pesquisa também revela um papel central desses equipamentos para a inclusão digital, dada a capilaridade de sua atuação em todo o território nacional”, acrescentou Alexandre Barbosa.

Formação e capacitação técnica

TIC Cultura revela o total de equipamentos culturais no país (Crédito: Reprodução)
TIC Cultura revela o total de equipamentos culturais no país (Crédito: Reprodução)

Apesar do avanço da infraestrutura e da presença digital, a capacitação de equipes ainda é um gargalo. A TIC Cultura 2024 mostra que os arquivos são os que mais investem em treinamentos internos sobre tecnologias digitais (50%) e privacidade e proteção de dados (51%). A oferta de cursos externos pagos, porém, é bem menor: apenas 24% dos arquivos e 6% dos museus afirmaram financiar qualificações externas sobre o uso de tecnologias digitais.

Para Renata Mielli, coordenadora do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), a lacuna na formação é um dos principais desafios para o futuro digital do setor cultural. 

“A quinta edição da TIC Cultura evidencia um setor com infraestrutura tecnológica mais robusta, marcada pelo maior uso de dispositivos próprios e presença na Internet. Ao mesmo tempo, os dados sobre formação mostram que a capacitação de equipes é um gargalo importante para que a tecnologia seja, de fato, uma aliada”, destacou.

Com cinco edições desde 2016, a TIC Cultura se tornou um dos principais termômetros sobre o uso de tecnologia em políticas e instituições culturais no Brasil. Seus indicadores ajudam a mapear oportunidades e desafios para que museus, bibliotecas, arquivos e pontos de cultura possam se adaptar às transformações digitais e garantir acesso democrático à cultura no ambiente online.

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