O modelo baseado em stream perdeu espaço como prioridade entre artistas e selos independentes em 2025. Embora ainda seja a principal forma de consumo de música no mundo, a remuneração baixa e a dificuldade de criar vínculos com o público levaram muitos profissionais do setor a questionar seu real valor na construção de carreiras sustentáveis.
De acordo com uma pesquisa da MIDiA Research, 75% dos selos independentes afirmam que é hora de adotar um novo modelo que funcione em paralelo ao streaming tradicional. Mais da metade dos entrevistados declarou que as plataformas digitais não são eficazes para desenvolver bases de fãs, e que a relação entre artistas e ouvintes vem se tornando cada vez mais superficial.
Essa realidade é agravada pelo aumento da escuta passiva, impulsionada por algoritmos e playlists automatizadas. O ouvinte não precisa mais escolher ativamente o que escutar, o que dificulta a comparação com formatos anteriores, como CDs e downloads pagos, que envolviam decisões mais conscientes de consumo.
Audiência engajada representa minoria nas plataformas

O Spotify, maior plataforma do setor, lançou recentemente uma ferramenta de dados chamada Super Ouvintes, que ajuda artistas a identificar os fãs mais ativos. Os resultados revelam um descompasso: apenas 2% da audiência mensal de um artista costuma ser responsável por mais de 18% de seus streams. Isso indica que o número total de execuções pode mascarar comportamentos muito diferentes, nem sempre associados ao engajamento real.
Além disso, a forma como os streams são contabilizados continua sendo questionada. A Recording Industry Association of America (Associação da Indústria Fonográfica da América), ou RIAA, ainda considera que 1.500 reproduções equivalem a um álbum vendido, sem distinguir entre escuta ativa ou passiva. Assim, uma única pessoa ouvindo 150 vezes ou 150 pessoas escutando uma vez têm o mesmo peso na métrica final.
Descoberta musical acontece fora dos players tradicionais

Outro dado que reforça a mudança de comportamento é que menos de 30% dos ouvintes dizem descobrir novas músicas por meio de serviços como Spotify e Apple Music. O YouTube aparece como a principal plataforma de descoberta musical, segundo levantamento da MIDiA Research com consumidores no último trimestre de 2024.
Esse dado explica por que muitos artistas têm priorizado conteúdos em vídeo, presença em redes sociais e ações offline para atrair o público. Em vez de mirar apenas grandes volumes de stream, o foco agora está em criar conexões mais profundas com fãs reais, que compram ingressos, produtos e ajudam a amplificar a presença do artista de forma orgânica.
Stream passa a ser consequência, não objetivo

Para os artistas, os números de streaming se tornaram um reflexo do trabalho de base, não o ponto de partida. O crescimento da audiência nas plataformas digitais depende, cada vez mais, de estratégias que envolvem identidade, proximidade com o público e narrativas que vão além da música em si.
As gravadoras, por sua vez, continuam valorizando o volume de execuções como indicador de market share. Mas mesmo nesse campo, o setor começa a reconhecer que os streams não capturam todas as dimensões do sucesso de um artista. À medida que o mercado amadurece, métricas como engajamento, fidelização e relevância cultural passam a ter mais peso.
A transição atualmente em curso na indústria não elimina a importância do streaming, mas reposiciona seu papel dentro de uma estratégia mais ampla. Em vez de ser o fim em si, o stream se consolida como termômetro de um público já conquistado, e não como caminho para conquistá-lo.
A discussão sobre o valor do stream em 2025 reflete um momento de transição na indústria, em que quantidade já não garante relevância. O desafio agora é construir relações mais duradouras com o público, em um mercado onde atenção e conexão valem mais do que números absolutos.
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