Nos últimos anos, a música brasileira conquistou espaço relevante no cenário cultural de Portugal e de outros países da Europa. Uma das responsáveis por esse movimento é a Pinuts Music Agency, uma agência de booking e gerenciamento de carreira baseada em Portugal e comandada por Luís Bandeira.
Focada em artistas de world music, a agência conta com um grupo seleto de artistas brasileiras, como Bia Ferreira, Tulipa Ruiz, Bebel Gilberto, Cátia de França, Ana Frango Elétrico, Dora Morelenbaum e Gabriele Leite, ampliando a visibilidade de novos talentos brasileiros em terras lusas e pelo continente europeu.
Segundo Bandeira, o processo de escolha dos artistas é meticuloso, levando em conta não apenas o potencial de vendas, mas a afinidade com a proposta musical de cada um. Essa abordagem permitiu que a agência se tornasse uma ponte para que artistas brasileiras alcançassem novos públicos e expandissem suas carreiras fora do Brasil.
“Sou bastante criterioso na escolha dos artistas com quem trabalho. Faço uma pesquisa de tudo aquilo que foi lançado, vejo os vídeos que estão disponíveis, notícias que saíram, o que está acontecendo, qual é o seu alcance e também, acima de tudo, em termos de musicalidade e o que o artista tem a dizer. Aquela questão de trabalhar apenas com um artista porque ele pode vender shows e não existir depois uma relação afetiva com a sua música também não funciona. Tem que existir essa relação afetiva com a música e com o trabalho que o artista faz, esse é o primeiro ponto”, detalha Bandeira.
Um dos casos mais emblemáticos é o de Bia Ferreira. A Pinuts assumiu o gerenciamento de carreira mundial, exceto no Brasil. Desde então, a artista realizou 90 shows em 15 países entre 2023 e 2024, com passagem por palcos como o The Kennedy Center e Lincoln Center, nos EUA.
A música brasileira e o público português
Dados recentes mostram que o consumo de música brasileira em Portugal é considerável, especialmente em plataformas de streaming. Estima-se que os portugueses estão entre os maiores ouvintes de música brasileira na Europa, o que se reflete no aumento de shows de artistas brasileiros no país.
Além disso, festivais e eventos culturais que promovem artistas do Brasil ganharam popularidade, atraindo tanto brasileiros residentes quanto portugueses interessados na diversidade rítmica e nas letras da música brasileira.
Esse cenário é favorável para artistas que buscam explorar novos públicos, como Ana Frango Elétrico e Dora Morelenbaum. Enquanto Ana combina rock, jazz e poesia, Dora traz influências da MPB e bossa nova, ambos gêneros que encontram grande aceitação no cenário europeu.
A Pinuts, porém, não restringe a apenas uma cena ou tipo de artista.
“Quando surgiu, a Pinuts tinha apenas um catálogo de artistas nacionais e internacionais. Contudo, logo em 2016, começamos a desenhar aquele que seria o core business da agência: o catálogo de música neoclássica. Entretanto, já em 2019, foi criado um novo catálogo onde se inserem artistas da chamada world music. Nesse mesmo catálogo, a artista que deu início foi Bia Ferreira em 2019, com dois shows em Portugal. Felizmente esta parceria foi-se desenvolvendo em terras lusitanas mesmo em tempos da pandemia, com Bia fazendo uma série de shows, inclusive na Espanha. Decidimos que, com o showcase na feira de música Womex em Lisboa no final do ano de 2022, a parceria deveria ser extensível a outros países. Deste modo e depois do enorme sucesso desse showcase, a Pinuts assumiu a direção da carreira e agenciamento da Bia Ferreira em todos os territórios, com exceção do Brasil”, conta.
Uma nova geração de vozes brasileiras
A Pinuts também tem sido fundamental para outras artistas como Gabriele Leite, Tulipa Ruiz e Cátia de França, cujas carreiras ganham espaço em outros países europeus. Cátia, por exemplo, já contava com uma trajetória reconhecida no Brasil, mas agora terá pela primeira vez um suporte de booking internacional, o que a ajudará a se apresentar em festivais de world music onde ritmos regionais e vozes femininas são altamente valorizados.
Tulipa Ruiz também vem consolidando seu nome no exterior, atraindo novos fãs e mantendo a base de admiradores que cultiva desde o elogiado disco de estreia, “Efêmera” (2010). Com esse time diversificado, a agência coloca em evidência artistas que exploram diferentes vertentes da música brasileira.
Desafios e oportunidades no mercado europeu
Luís Bandeira acredita que o interesse europeu pela música brasileira não se deve apenas à sonoridade, mas também à força cultural que o Brasil representa. Portugal, em especial, possui uma forte comunidade brasileira que atua como ponto de conexão entre as culturas, facilitando o sucesso de artistas do Brasil no país. Para Bandeira, o desafio está em manter um fluxo de apresentações, permitindo que o público europeu desenvolva uma relação de proximidade com esses artistas.
Sobre a aceitação de artistas brasileiros no mercado europeu, ele explica: “Sempre que se fala em Brasil, todo mundo fica com as orelhas abertas para ouvir. O Brasil é um país que, por toda a história musical, tem mais-valia. Não sei se é sobre o exotismo da língua mas, com certeza, é a questão dos ritmos brasileiros, sejam eles de que estilo for. E também devido ao fato de existirem grandes comunidades brasileiras quase em todos os países europeus. Isso obviamente ajuda também os promotores a quererem ter artistas brasileiros porque sabem que existe sempre público para eles. Muito ou pouco, existe sempre. E depois, é só uma questão de ir repetindo o artista até criar público por ele mesmo”.
O esforço da Pinuts em promover esses shows, especialmente em países como Espanha e França, foi fundamental durante a pandemia e se mantém agora que as restrições foram flexibilizadas. A expansão do catálogo da agência, que também inclui artistas como a venezuelana Gotopo e as portuguesas Ana Margarida Prado e Viviane, demonstra o foco da Pinuts em consolidar o mercado de world music, oferecendo um espaço cada vez mais diverso para artistas de diferentes países.
Em uma era de streaming e alcance global, a Pinuts Music Agency vem proporcionando uma vitrine internacional para artistas que, além de populares no Brasil, vêm conquistando uma base sólida de fãs no exterior. Com isso, a agência reforça o papel de Portugal como um dos principais portais de entrada da música brasileira no mercado europeu.