A diversidade, com a presença de mulheres e de pessoas pertencentes a grupos sub-representados em cargos de liderança, continua limitada na indústria musical. Um novo relatório, “Inclusion in the Music Business” (Inclusão no Negócio da Música), conduzido pela professora Stacy L. Smith e pelo Annenberg Inclusion Initiative da Universidade do Sul da Califórnia (USC), analisou 2.793 executivos em 106 empresas do setor e constatou que a alta cúpula das grandes companhias ainda é majoritariamente composta por homens brancos.
A amostra levou em consideração alguns dos principais players do mercado musical, analisando os quadros de funcionários de empresas nos Estados Unidos. É o caso de gravadoras Universal Music Group, Sony Music Entertainment e Warner Music Group, serviços de streaming como Spotify, Apple Music e TIDAL, além de distribuidoras e editoras como The Orchard e Warner Chappell Music.
O estudo, patrocinado pela Believe e TuneCore, atualiza uma pesquisa de 2021 e avalia gravadoras, selos, editoras, distribuidoras e serviços de streaming. Os dados apontam que apenas 13,2% dos CEOs e presidentes das 37 maiores companhias são mulheres, enquanto 7,9% pertencem a grupos sub-representados. Mulheres negras ou latinas ocupam apenas 5,3% dessas posições. Em contrapartida, 84,2% dos executivos no topo das empresas são homens brancos.
Mulheres e pessoas sub-representadas ainda têm acesso restrito ao topo
Desde a última edição do relatório, em 2021, os números não apresentaram crescimento significativo e, em alguns casos, houve retração. Em seis das principais empresas do setor, os cargos de alto escalão (o chamado “C-level”, como CEOs e CFOs) ainda são dominados por homens brancos, que representam 60,3% das posições. As mulheres ocupam 33,3% desses postos, enquanto pessoas de cor representam 16,7%. Mulheres negras e latinas somam 10,3% nesse nível hierárquico.
Stacy L. Smith, autora do estudo, destaca a discrepância entre a representatividade nas paradas musicais e no mercado corporativo.
“Nos últimos anos, nosso trabalho mostrou que mulheres e pessoas não-brancas aumentaram sua presença nas paradas de sucesso. No entanto, esse progresso não se reflete nos cargos executivos que comandam o setor. Está claro que ainda existem grandes diferenças em quem tem a oportunidade de liderar”, afirma.
A CEO da TuneCore, Andreea Gleeson, reforça a necessidade de ações concretas para transformar esse cenário.
“Os resultados desse estudo nos lembram que, apesar dos avanços, ainda há muito trabalho a ser feito para alcançar a equidade. Em um momento em que mulheres e artistas não-brancos moldam o som da música e conquistam públicos globais, nossa liderança não reflete essa diversidade. Isso é um chamado para que todos os líderes tomem iniciativa e promovam mudanças sistêmicas reais”, aponta.
Distribuidoras e editoras lideram, mas números seguem baixos

Quando a análise é ampliada para 77 empresas, que incluem subsidiárias de grandes grupos, os números mostram variações. Entre essas companhias, 15,6% dos CEOs e presidentes são mulheres, 17,8% pertencem a grupos sub-representados e 4,4% são mulheres negras ou latinas.
Os segmentos com maior percentual de mulheres em cargos de presidência são as distribuidoras (28,6%) e editoras (21,4%). Entre as gravadoras, esse número cai para 16% e, entre as plataformas de streaming, para apenas 10%. Nenhuma mulher ocupa a presidência de um grande grupo musical nos Estados Unidos.
A tendência se repete entre executivos sub-representados. Eles são mais comuns em distribuidoras (28,6%), seguidos por gravadoras (22%), editoras (14,3%) e empresas de música gravada (11,1%). No entanto, nenhuma das companhias de streaming analisadas conta com um executivo sub-representado no comando.
Mulheres negras e latinas são as que menos chegam ao topo. Não há nenhuma ocupando a presidência de um grande grupo musical ou plataforma de streaming. No setor de distribuição, elas representam 14,3% das lideranças, enquanto em editoras somam 7,1% e, nas gravadoras, apenas 4%.
Representatividade melhora em cargos intermediários
O cenário muda nos níveis intermediários de gestão. Entre todos os cargos de VP para cima, as mulheres representam 38,7%, enquanto os executivos sub-representados ocupam 22,9% das funções. Mulheres negras e latinas somam 10% do total. No entanto, a distribuição não é equilibrada entre os diferentes cargos.
A pesquisa indica que as mulheres têm maior presença em posições de vice-presidência e chefia de departamentos (43,9%), mas esse percentual cai para 38,1% em cargos como vice-presidentes seniores e diretores-gerais. A queda é ainda maior no nível mais alto de decisão, onde apenas 25,6% das posições são ocupadas por mulheres. O mesmo ocorre com executivos sub-representados, que ocupam 25,9% dos cargos de VP, mas apenas 19,7% das vice-presidências seniores e 21% das chefias executivas.
As mulheres negras e latinas enfrentam barreiras ainda maiores. Elas ocupam 12,2% dos cargos de VP, 8,4% das vice-presidências seniores e apenas 7,3% das funções de comando máximo. Esses percentuais se mantêm praticamente inalterados desde 2021.
Mudanças exigem medidas concretas
Os números variam conforme o setor. Empresas de distribuição musical têm o maior percentual de mulheres em cargos executivos (47,8%), enquanto plataformas de streaming registram o menor índice (37,2%). Gravadoras (39,4%), grandes grupos musicais (38,3%) e editoras (37,6%) ficam em patamares intermediários.
Entre os executivos sub-representados, o segmento com maior presença é o de gravadoras (30,1%). Empresas de música gravada (25,1%), distribuidoras (23,1%) e streaming (17,9%) aparecem na sequência. O setor editorial é o que menos emprega esses profissionais, com apenas 16,3% de representatividade.
O estudo propõe soluções para aumentar a diversidade no setor, incluindo critérios objetivos para contratações e promoções, além de caminhos flexíveis para a ascensão profissional.
“O momento pode não ser favorável para programas chamados de ‘DEI’ [Diversidade, Equidade e Inclusão], mas a realidade é que organizações que não refletem a diversidade do público que atendem perdem talentos que poderiam torná-las mais competitivas, ágeis e inovadoras”, conclui Smith.
Os resultados do relatório foram discutidos em um painel no SXSW 2025, com participação de Stacy L. Smith, Andreea Gleeson e Gina Miller.