Entrevista com Luciana Paulino revela como o Spotify dá destaque ao AMPLIFIKA 2025, conectando música e podcasts

Gerente de parcerias com artistas e gravadoras no Spotify, Luciana fala sobre a nova etapa do programa e o papel do Dia AMPLIFIKA na valorização da cultura preta.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Talita Morais, Luciana Paulino e MC Luanna no Dia AMPLIFIKA, do Spotify (Crédito: Divulgação)
Talita Morais, Luciana Paulino e MC Luanna no Dia AMPLIFIKA, do Spotify (Crédito: Divulgação)

O AMPLIFIKA nasceu no Spotify em 2021 como uma forma de ampliar as vozes negras dentro da música brasileira. De uma ação voltada à visibilidade de artistas pretos, o projeto ganhou novas dimensões e se tornou uma frente permanente dedicada a formação, mentoria e conexão entre criadores e o mercado. Em 2025, o programa chegou ao seu quinto ano com o Dia AMPLIFIKA, evento que reuniu artistas, podcasters e profissionais da indústria para discutir futuro, identidade e representatividade na cultura preta.

Para Luciana Paulino, gerente de parcerias com artistas e gravadoras no Spotify no Brasil, o objetivo sempre foi criar espaços reais de troca. Mais do que um palco ou uma campanha digital, o AMPLIFIKA busca aproximar pessoas, estimular colaborações e apoiar projetos que transformem trajetórias. 

O evento também marca um novo momento para a iniciativa, que passou a incluir criadores de podcast e a investir em formatos presenciais. Com painéis, oficinas e encontros entre artistas e profissionais, o Dia AMPLIFIKA 2025 reforçou a ideia de que a representatividade acontece no diálogo e na construção coletiva. 

Em uma entrevista exclusiva ao Mundo da Música, Luciana fala sobre a trajetória do programa, o impacto dessas ações e os caminhos que o AMPLIFIKA pretende seguir nos próximos anos.

Entrevista com Luciana Paulino (Spotify)

Mundo da Música: O AMPLIFIKA nasceu em 2021 com foco em equidade racial na música. Como o projeto se transformou e o que mudou na forma de atuar desde então?

Luciana Paulino: O AMPLIFIKA nasceu como um statement — uma forma de jogar luz sobre vozes negras dentro do mercado musical. A primeira ação, em 2021, foi a “Pretos no Topo”, e desde então o projeto evoluiu junto com as discussões sobre causas sociais. De uma ação pontual, ele se tornou parte do core business do Spotify Brasil, com uma abordagem mais ampla sobre a pluralidade da música brasileira. Hoje o foco não está em um gênero específico, mas na diversidade de ritmos e artistas de diferentes regiões do país, representando o mosaico da nossa cultura musical.

Mundo da Música: O que o público encontrou na edição 2025 do AMPLIFIKA Day? Há novos formatos ou temas em destaque neste ano?

Luciana: A edição de 2025 marca um passo importante na união entre música e podcasts. Antes, o Dia AMPLIFIKA era voltado apenas para artistas musicais, mas este ano o evento incorporou também os criadores de podcast.. Essa junção permitiu discutir cultura preta de forma mais ampla. Os painéis trouxeram reflexões sobre oportunidades e futuro, com nomes como Kelly Lima, Preto Zezé, Sued Nunes e Fejuca. Foi uma edição que celebrou, mas também refletiu e projetou novos caminhos para a cultura preta.

Mundo da Música: O AMPLIFIKA Day marca uma presença física mais forte do Spotify na cena cultural. Essa expansão pode ser vista também como um modelo de negócio ou de relacionamento com a comunidade criativa?

Luciana: No Spotify, nossas ações são todas voltadas para a cena e para a indústria musical. Quando o Spotify vai para o território físico e cria-se um ambiente real de conexão. Os artistas passam a interagir entre si, trocam experiências e até geram colaborações. Essa presença física permite que novas ideias e projetos nasçam, além de fortalecer o senso de comunidade. Muitos artistas se sentem sozinhos na jornada e, no Dia AMPLIFIKA, encontram pares que vivem desafios semelhantes, criando soluções coletivas e fortalecendo a cena.

Mundo da Música: O programa passou a incluir também criadores de áudio e podcasts. O que motivou essa ampliação e quais os resultados esperados dessa integração?

Luciana: A decisão veio da percepção de que as dores e desafios dos criadores de conteúdo negros são muito parecidos com os dos artistas. Nossa frente de podcasts passou por uma transformação importante nos últimos anos, com um olhar especial para os conteúdos em vídeo, e isso abriu espaço para novas sinergias. A ideia foi somar forças: conectar esses dois universos — o da música e o do podcast— para pensar soluções conjuntas, criar novos projetos e fortalecer a presença negra em todas as formas de expressão sonora. 

Como parte dessa integração, seguimos com o estúdio de podcast em vídeo na Embaixada Preta, criado em parceria com a Feira Preta. O espaço, localizado em São Paulo, é 100% gratuito e está disponível para criadores pretos que desejam tirar seus projetos do papel com qualidade profissional. O estúdio conta com equipamentos de ponta, incluindo microfones doados pela Shure, e oferece ainda mentoria com creators já reconhecidos, como Sofi Oliveira  e Guto Barbosa. 

Além do suporte técnico e criativo, os participantes passam a integrar uma rede de apoio contínuo e recebem uma newsletter personalizada, com boas práticas de produção, estratégias de crescimento e oportunidades de destaque na plataforma. A iniciativa fomenta conexões, visibilidade e fortalecimento comunitário na podosfera, consolidando o compromisso do Spotify em impulsionar a representatividade negra em todas as frentes, seja na música e no podcast.

Luciana Paulino, gerente de parcerias com artistas e gravadoras no Spotify no Brasil
Luciana Paulino, gerente de parcerias com artistas e gravadoras no Spotify no Brasil (Crédito: Divulgação)

Mundo da Música: Quais impactos concretos o AMPLIFIKA já trouxe para os artistas e profissionais que participam das formações e mentorias?

Luciana: Os resultados são muito tangíveis. A Sued Nunes, que foi embaixadora no primeiro ano, depois virou painelista e chegou a uma indicação ao Grammy Latino.. A Duquesa lançou o Spotify Singles “Atlanta”, que se tornou um dos pontos altos dos seus shows. Já artistas como EMNE e Jotapê ganharam visibilidade nacional. EMNE por exemplo, apareceu em um outdoor na Times Square e também em sua cidade natal, São Luís. O AMPLIFIKA oferece esse lugar de chancela, de cuidado e reconhecimento, mostrando que o Spotify está lado a lado, impulsionando a carreira desses talentos.

Mundo da Música: Na sua opinião, quais ainda são os principais desafios para fortalecer a representatividade negra na indústria da música e do áudio?

Luciana: Ainda falta presença de pessoas pretas em cargos estratégicos e de decisão na indústria. A música brasileira é majoritariamente preta, mas muitos gêneros e artistas não recebem o mesmo destaque que outros. Ter profissionais pretos em posições de liderança é essencial para que a discussão avance. A indústria precisa investir em quem pensa cultura e arte a partir de um olhar de potência.

Mundo da Música: De que forma o AMPLIFIKA Day ajuda a criar conexões e oportunidades entre artistas, criadores e o mercado?

Luciana: O evento é um verdadeiro ponto de encontro da indústria. Além dos painéis, há aulas do Spotify for Artists, onde os participantes aprendem sobre pitching, playlists e estratégias editoriais. É um espaço de troca com gravadoras, distribuidoras, produtores e outros artistas. E, talvez o mais importante, é o momento em que eles percebem que por trás do algoritmo existem pessoas — profissionais reais que se preocupam com o desenvolvimento das suas carreiras e estão ali para apoiar.

Mundo da Música: O Spotify tem outras iniciativas ligadas à diversidade em diferentes países. O que diferencia o AMPLIFIKA dentro desse conjunto de ações?

Luciana: O grande diferencial é que o AMPLIFIKA nasceu no Brasil, pensado para o contexto brasileiro. Enquanto programas como Equal, Glow e Radar foram criados fora e adaptados no contexto nacional, o AMPLIFIKA surgiu daqui, olhando para as nossas urgências. Ele provocou a indústria a enxergar o artista preto com outro olhar, enfrentando o racismo estrutural de forma ativa. É um projeto que conversa diretamente com a realidade local, propondo mudanças concretas dentro e fora do Spotify.

Mundo da Música: Há algum momento marcante ou aprendizado desses quatro anos que sintetize o propósito do programa?

Luciana: O maior aprendizado é entender que a cultura negra não precisa ser apenas celebrada — ela deve ser vivida, respeitada e sustentada. O AMPLIFIKA hoje atua nesses três pilares: celebra, reverencia e propõe caminhos para garantir que essa cultura e essa identidade permaneçam vivas. Esse é o coração do programa.

Mundo da Música: Como é o processo de escolha dos artistas e criadores que participam das ações do AMPLIFIKA?

O processo é interno e feito pela curadoria editorial do Spotify. Todo ano são escolhidos embaixadores, de diferentes regiões do país e de gêneros musicais diferentes — do R&B ao funk, do reggae ao pagode. A seleção considera artistas com planos robustos de lançamento, para que o apoio editorial seja consistente. Além disso, o Hub AMPLIFIKA na plataforma reúne artistas de diferentes níveis de carreira, refletindo o mosaico da cultura negra brasileira em playlists de diversos gêneros.

Mundo da Música: Quando você pensa nos próximos anos do projeto, quais caminhos ainda pretende explorar?

Luciana: O futuro do AMPLIFIKA está em expandir seu papel como marco da criatividade e da cultura preta no Brasil. A ideia é que o Dia AMPLIFIKA se consolide como um evento fixo no calendário da cultura negra, ampliando o diálogo para além da indústria musical e alcançando também o público final. A missão é seguir fortalecendo a comunidade criativa e levar as discussões sobre legado e representatividade para cada vez mais pessoas.

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