Um novo modelo de colaboração e autogestão vem impulsionando a música independente em Manaus. O Circuito Manacaos, composto pelos artistas locais Luli Braga, Jambu, D’água Negra, Kurt Sutil e Guillerrrmo, atua como um coletivo musical e uma rede de formação e circulação, focada na inclusão de públicos marginalizados. Esse formato desafia a lógica tradicional do mercado musical, ao integrar diferentes vertentes culturais da cidade com ações de capacitação, além de oferecer um espaço seguro para expressão artística.
A proposta surgiu de conversas entre músicos e produtores locais que se viram em um cenário econômico limitado, sem apoio de grandes centros culturais e com dificuldades para se manterem no mercado. A solução foi desenvolver uma estrutura independente e autogerida, que se apoia em parcerias e compartilha conhecimentos entre os próprios artistas e agentes locais.
Desde julho, o Circuito Manacaos já formou novos profissionais em áreas como discotecagem e produção musical, oferecendo oficinas gratuitas voltadas para públicos que encontram barreiras de entrada no setor, como mulheres cis, trans e pessoas não-bináries.
E não para por aí. Entre os meses de novembro e dezembro, o Manacaos irá lançar singles autorais dos artistas que foram produzidos dentro da etapa “Fazendo a Farinha”. Tudo culmina no Festival Manacaos, em 07 de dezembro. O evento acontece a partir das 17 horas, no Parque Rio Negro (Rua Beira Mar, 121, São Raimundo), com line up diversa que evoca a multiplicidade da cultura amazonense.
Ações de formação ampliam acesso ao mercado
O Circuito Manacaos introduziu uma série de oficinas de capacitação para fortalecer a cena independente de Manaus. Com a fase “Dividindo o Tucumã”, os organizadores focaram na inclusão de públicos sub-representados, criando uma ponte entre esses novos profissionais e o mercado musical local. Durante os cursos, realizados entre julho e agosto, professores de Manaus e convidados de outros estados compartilharam técnicas de discotecagem e produção, visando expandir as oportunidades para esses alunos.
A iniciativa oferece uma alternativa à falta de espaços para desenvolvimento profissional, mesmo em grandes capitais, como é o caso de Manaus. A formação de novos artistas e o fortalecimento de redes locais refletem a busca do Circuito por um mercado mais horizontal, onde a música pode ser compartilhada e disseminada de forma direta.
Circulação como estratégia de sustentabilidade
Além das oficinas, o Circuito Manacaos investe em uma fase de circulação chamada “Pegando o Beco”, que promove shows de artistas locais em diferentes pontos da cidade. Em agosto, o primeiro evento trouxe ao palco músicos do Circuito ao lado de artistas convidados, ocupando espaços culturais na periferia de Manaus. Ao integrar a circulação como uma etapa do projeto, o Manacaos busca tornar a produção independente sustentável, ao mesmo tempo em que leva a música diretamente para o público local.
O diretor criativo Bruno Belchior, do grupo D’água Negra, ressalta que a circulação não é apenas uma forma de garantir visibilidade, mas também de criar uma economia para o mercado cultural de Manaus.
“A origem do projeto surge da nossa compreensão coletiva de que para atingirmos tais posições, tanto culturalmente, quanto em números, em acessos e oportunidades, a gente precisa se unir em coletivos para gerar impacto no mercado e nas marcas. Nosso intuito é de termos condições econômicas de nos autogerir e retroalimentar nossos sistemas culturais”.
Um modelo diferente para o mercado cultural
Em um cenário onde a maior parte da produção musical nacional depende de recursos e visibilidade dos grandes centros, o Circuito Manacaos se posiciona como uma alternativa. O apoio recebido do edital Natura Musical em 2022 permitiu a consolidação do projeto e facilitou a conexão com outras iniciativas regionais.
Para os organizadores, o circuito não pretende competir com as estruturas tradicionais, mas sim oferecer um formato complementar, no qual a autogestão e a formação contínua são vistas como formas de subsistência e autonomia para artistas que fazem a música brasileira acontecer para muito além do eixo Rio-São Paulo.
Com o festival de encerramento do ciclo previsto para dezembro, o Circuito Manacaos espera firmar-se como uma rede de apoio e inovação. A proposta do festival é reunir os artistas e as produções realizadas ao longo do ano, reforçando o impacto do projeto na cena local.