A busca por discos que já tinham seu lugar na história ganhou outro peso em 2025. Reedições, remasters Atmos, versões expandidas e boxes comemorativos se espalharam por todos os cantos da indústria musical. Embora a nostalgia ajude a explicar parte da tendência, os números recentes mostram um cenário mais amplo, em que os catálogos tÊm papel estratégico para selos e gravadoras.
Segundo a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), o mercado global de música gravada alcançou US$ 29,6 bilhões em 2024, crescimento de 4,8% em relação ao ano anterior. O streaming representa 69% desse total, ultrapassando pela primeira vez a marca de US$ 20 bilhões apenas em assinaturas. Para as empresas, isso cria um ambiente altamente competitivo, em que as faixas já consolidadas funcionam como porto seguro para manter a atenção do público.
Um relatório recente da MIDiA Research aponta que, no primeiro semestre de 2025, as receitas globais de música gravada chegaram a US$ 18,3 bilhões, mantendo o streaming como motor principal, mas com sinais de desaceleração no ritmo de crescimento. O excesso de lançamentos diários e o tempo limitado do ouvinte intensificam a busca por estratégias sustentadas por obras conhecidas.
A força do físico e o papel do vinil
O vinil se tornou um dos pilares que sustentam a atual fase de reedições. Segundo a Associação Americana da Indústria de Gravação (RIAA), os Estados Unidos registraram 43,6 milhões de LPs vendidos em 2024, consolidando o 18º ano seguido de crescimento do formato. No meio de 2025, a entidade reafirmou que a maior parte das vendas físicas continua concentrada no vinil, indicando que a procura segue firme.
Na Europa o movimento é semelhante. Uma das principais fábricas de prensagem do continente relatou alta de 50% nos pedidos no primeiro semestre de 2025. No Reino Unido, a Associação de Entretenimento e Varejo (ERA) registrou 4,73 milhões de LPs vendidos no período, crescimento de 7,4% em relação ao ano anterior. As lojas especializadas identificam um aumento constante de compradores jovens, o que reforça a ideia de que o vinil deixou de ser apenas um artigo nostálgico.
No Brasil, os dados mostram que as vendas físicas de música cresceram 31,5% em 2024, e o vinil respondeu por 76,7% do faturamento do segmento. A volta a números comparáveis aos de 2017 sugere que existe um público real disposto a investir em boxes e reedições nacionais.
O catálogo como estratégia central

O ambiente atual favorece o crescimento das campanhas de catálogo. Boxes comemorativos, como o do álbum Load, do Metallica, chamam atenção por reunir faixas extras, versões ao vivo e edições em múltiplos formatos. Grupos como Sigur Rós e nomes do underground, como Alan Vega e The Fiery Furnaces, também somam à tendência com projetos de relançamento trabalhados para o público colecionador.
A lógica se apoia em mais do que nostalgia. Relatórios sobre hábitos de escuta em 2025 mostram movimento crescente de retorno a hits dos anos 2000 e início dos 2010. Esse fenômeno, apelidado de recession pop, é impulsionado pela busca por sons familiares em períodos de incerteza econômica. Para as gravadoras, esse recorte etário aumenta o potencial de relançamentos de obras que ainda não chegaram ao status de clássicos, mas que marcaram a formação musical de grande parte do público digital.
Outro fator importante surge do lado financeiro. Depois do período intenso de compras de catálogos por gravadoras e fundos de investimento, muitos desses ativos começam agora a ser trabalhados de forma mais intensa. Segundo análise da MIDiA Research, 2024 marcou a retomada desse ciclo de aquisições, e 2025 mostra uma etapa focada na monetização. Edições luxo, remasters e boxes especiais são ferramentas diretas para ativar esses catálogos e gerar novos ciclos de consumo.
Um ano moldado pelos “novos velhos discos”

A soma de crescimento do vinil, desaceleração do streaming e valorização da experiência física criou o ambiente ideal para os relançamentos ao longo de 2025. A atenção do público jovem ao formato físico é mais um ponto para o potencial de expansão dessas campanhas, que deixam de depender apenas de nostalgia e passam a dialogar com novas gerações.
A indústria mostra que o catálogo não é mais apenas memória, e sim uma peça estratégica de negócios. Em 2025, os “novos velhos discos” ocupam um espaço que combina passado e presente em uma lógica de mercado que deve continuar relevante pelos próximos anos.
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