Suno levanta US$ 250 milhões e atinge valor de US$ 2,45 bilhões em meio a disputas por direitos autorais

Com receita anual de US$ 200 milhões, Suno atrai novos investidores enquanto enfrenta processos de grandes gravadoras e sociedades de gestão.
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Nathália Pandeló
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A nova rodada de investimentos da Suno coloca a desenvolvedora norte-americana de IA musical entre as empresas mais observadas do setor. O saldo da operação, de US$ 250 milhões, avalia a companhia em US$ 2,45 bilhões e chega em um momento no qual a empresa busca consolidar sua presença entre criadores, mesmo com pressões crescentes sobre uso de obras protegidas no treinamento de modelos.

O interesse dos fundos coincide com a expansão acelerada da startup e a entrada em novas frentes além da geração automática de música. Ao mesmo tempo, a Suno responde a ações judiciais de gravadoras, editoras e sociedades de gestão coletiva em diferentes países, um cenário que tende a influenciar diretamente o comportamento de plataformas e artistas na relação com a IA generativa.

Disputas judiciais e pressões globais

Major labels, gravadoras - Warner, Universal e Sony

A entrada dos novos investidores ocorre enquanto a Suno enfrenta processos movidos por gravadoras dos grupos Sony Music Entertainment, Universal Music Group e Warner Music Group. As empresas afirmam que obras protegidas foram usadas sem autorização ou pagamento para treinar os modelos da startup.

O caso ganhou novos contornos após a sociedade dinamarquesa Koda abrir processo contra a companhia, alegando que “treinou seu modelo de IA em música protegida por direitos autorais sem permissão ou pagamento”. No início do ano, a sociedade alemã GEMA adotou procedimento semelhante, levantando questionamentos sobre padronização ética e jurídica para desenvolvimento de IA musical.

A situação coloca a empresa no centro do debate global sobre responsabilidade e remuneração no uso de catálogos musicais em sistemas generativos. Plataformas de streaming, distribuidoras e sociedades de gestão acompanham o movimento de perto, especialmente diante do volume de material gerado com IA que chega diariamente às plataformas.

Crescimento da base de usuários e do faturamento

Mesmo com os processos, a startup reporta resultados expressivos. Em comunicado, o cofundador e CEO Mikey Shulman afirmou que “quase 100 milhões de pessoas fizeram música na Suno nos últimos dois anos”.

O Wall Street Journal apontou que a empresa alcançou US$ 200 milhões em receita anual, impulsionada principalmente pela venda de assinaturas. O volume indica que o produto vem sendo incorporado tanto por criadores iniciantes como por profissionais já estabelecidos.

Em texto publicado pela própria Suno, Shulman afirmou: 

“Estamos vendo o futuro da música tomar forma em tempo real. Em apenas dois anos, vimos milhões de pessoas transformarem suas ideias em realidade através da Suno, desde criadores iniciantes até compositores e produtores de destaque integrando a ferramenta em seus fluxos de trabalho diários. Este financiamento nos permite continuar expandindo o que é possível, fortalecendo mais artistas para experimentar, colaborar e desenvolver sua criatividade. Estamos orgulhosos de estar na linha de frente deste momento histórico para a música”.

Estratégia de produto da Suno e expansão para produção completa

inteligência artificial - IA, deezer, Klay

A rodada de investimentos acompanha o avanço da empresa para um ecossistema completo de criação e edição. Em setembro, a Suno lançou o Suno Studio, descrito pela companhia como “a primeira estação de trabalho de áudio generativo”, reunindo edição multitrack e geração de stems via IA. O estúdio veio na sequência do lançamento do modelo v5, considerado pela própria empresa o mais avançado até agora.

Como parte dessa estratégia, a Suno comprou a WavTool, destacada como a primeira DAW totalmente baseada em navegador. A iniciativa aproxima a companhia de um público mais amplo, que inclui desde artistas independentes até produtores acostumados a softwares tradicionais de gravação.

A parceira do fundo Menlo Ventures, Amy Martin, justificou o investimento dizendo: 

“A Suno é o aplicativo número um do mundo para criação musical, tornando a música acessível para todos. Mikey e a equipe construíram algo que as pessoas realmente gostam de usar e milhões de fãs estão na plataforma todos os dias, criando músicas originais e compartilhando com amigos”.

IA nas plataformas de streaming e o impacto da moderação

O crescimento da Suno ocorre em paralelo ao aumento do volume de músicas totalmente geradas por IA nas plataformas de streaming. A Deezer informou recentemente que 34% de todas as faixas enviadas diariamente são criações totalmente automatizadas. A plataforma também indica que até 70% das execuções de faixas do tipo são consideradas fraudulentas e excluídas dos repasses de royalties.

A partir de políticas de moderação mais rígidas, a Deezer reportou ter removido milhões de faixas de baixa qualidade nos últimos anos. Medidas semelhantes vêm sendo adotadas por outras empresas, como o Spotify, que anunciou a exclusão de mais de 75 milhões de uploads classificados como “spam”.

A expansão da IA generativa mostra que a discussão sobre direitos autorais, qualidade de catálogo e sustentabilidade do ecossistema tende a crescer conforme o número de uploads e modelos avança. O novo investimento pode fortalecer a Suno para enfrentar esse cenário, embora ainda exista um longo caminho regulatório para a consolidação de diretrizes claras no setor.

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