O rapper Tchelo agora faz parte do Fortnite. O “Tchelo War”, universo criado em parceria com a Salve Games e a Symphonic Brasil, recria o bairro de Vila Gióia, em Itapevi, na região metropolitana de São Paulo. No jogo, é possível jogar com a skin do artista, circular pela quebrada e ainda ouvir a faixa “Cara de Personalidade”, presente em seu novo disco. O lançamento acontece ao mesmo tempo em que o rapper apresenta o álbum “Novos Hábitos”, com 14 faixas produzidas por Retroboy e distribuídas pela Symphonic.
Este é o primeiro episódio do novo quadro do Mundo da Música, Por Dentro da Estratégia, que destrincha campanhas e bastidores para mostrar como grandes ações podem ser possíveis também para artistas independentes. No caso de Tchelo, a combinação entre narrativa do disco, timing do single e parcerias estratégicas ajudou a transformar uma ideia de impacto local em um produto cultural interativo, sem perder a ligação direta com a comunidade onde sua trajetória começou.
Como o universo foi construído
A criação do mapa partiu da colaboração com a Salve Games, estúdio brasileiro especializado em experiências que refletem a vivência da juventude periférica. A equipe trabalhou para levar elementos visuais e afetivos de Vila Gióia ao ambiente do jogo, com referências reais ao bairro que servem como cenário para a música.
O sócio Alexandre de Maio detalha o processo técnico.
“A equipe do artista nos trouxe algumas as ideias e a gente já conhecia a quebrada. Usamos como centro do cenário os predinhos e reconstruímos a quebrada com o Blender e finalizamos na Unreal.”
Timing e narrativa do lançamento

A presença de “Cara de Personalidade” dentro do mapa conecta a proposta do game à mensagem do álbum. A campanha priorizou a experiência, menos como peça de divulgação isolada e mais como extensão da história que Tchelo conta no disco, que aborda mudanças pessoais e fase nova de carreira.
O próprio artista explica como a integração entre música e jogo amplia o conceito.
“‘Novos Hábitos’ é sobre mudança e identidade. Colocar a música no Fortnite é transformar o álbum numa experiência, não só numa audição. O jogo fala de evolução, a faixa fala de personalidade. Juntos, eles passam a mensagem de uma forma muito maior. E não tem nada que tenha mais personalidade do que conseguir unir duas paixões, o jogo e minha música!”
Viabilidade para independentes e o papel da distribuidora
A ação envolve coordenação entre áreas e parceiros, da produção musical à operação técnica do mapa. Pela perspectiva da Symphonic, responsável pela distribuição e parte do planejamento, o encaixe criativo é condição para que campanhas desse tipo façam sentido para artistas independentes.
Segundo Ian Bueno, diretor da Symphonic Brasil, a construção foi feita em conjunto com a Salve Games.
“A Salve Games é uma empresa de grandes parceiros que admiramos muito, o Alexandre de Maio nos apresentou a ideia e apostamos juntos no desafio que encaixou perfeitamente no projeto do Tchelo.”
Ele aponta os fatores necessários para que a estratégia funcione.
“Esse tipo de ação requer muito estudo e análise, não é uma receita padrão que pode funcionar para todo mundo. O primeiro ponto é o artista ter uma conexão real com esse universo gamer, entender e gostar de verdade e, em segundo, ter um público engajado que conversa com esse universo. Além disso, exige muita dedicação e foco da parte da equipe do artista para realmente fazer acontecer, senão acaba sendo uma iniciativa rasa apenas para ‘surfar no hype’, o que pode não soar legal com a comunidade em questão”, ele recomenda.
Bueno também aponta que faz toda diferença saber a hora certa de arriscar movimentos mais ousados, desde que tenham a ver com o artista e seu público.
“Nesse nosso projeto, além do bom momento do artista, o Tchelo realmente joga e entende do universo Fortnite, isso deixa o projeto muito mais interessante e verdadeiro. Fora isso, a Salve Games é uma empresa muito experiente e capacitada, o que trouxe muita segurança para a equipe do artista abraçar o plano também.”
Representatividade e impacto local
Trazer o bairro para o jogo cria um ponto de identificação imediato para fãs e moradores de Vila Gióia. O mapa apresenta um retrato afetivo do território, pensado para circular globalmente e, ao mesmo tempo, dizer algo direto a quem vive aquele espaço.
Esse aspecto é reforçado por Alexandre de Maio ao tratar da presença periférica nos ambientes digitais.
“Nossa realidade é construída a partir do nosso imaginário e é importante a gente ter representatividade nesses novos espaços digitais onde estão a nossa juventude.”
Como destaca Alexandre, a tendência é expandir a presença da música brasileira dentro das plataformas digitais de entretenimento.
“Já fizemos antes do Da Lua, e estamos em negociações com artistas do Funk, do Brega e do eletrônico.”
O que artistas podem aprender
O caso de Tchelo mostra que, para artistas independentes, o ponto de partida está em alinhar conceito, público e parceiros operacionais capazes de executar com qualidade técnica. Assim, o jogo pode servir como palco de lançamento, peça de branding e produto cultural com vida própria.
Para Tchelo, ver Vila Gióia recriada dentro do game foi uma experiência marcante.
“Foi emocionante. Cresci na Vila Gióia, e agora ver minha quebrada dentro de um dos maiores jogos do mundo é como eternizar a nossa história. Pra vocês terem ideia, meu primeiro vídeo game foi o PS4 quando eu já tinha 17 anos! Ter o console já foi uma realização pessoal, agora não é só sobre mim, é sobre mostrar que da favela a gente também cria cultura e agora isso vai rodar o mundo.”
O rapper também compartilha um conselho para quem deseja apostar em ideias fora do padrão.
“Arrisquem. Ser independente é ter liberdade pra criar sem limite. Se a ideia parecer grande demais, é porque ela é necessária. O impossível só é impossível até alguém fazer primeiro. Evite se autossabotar respondendo não pra suas ideias ‘estranhas’, porque provavelmente ela será tão impactante quanto estranha!”
Essa movimentação mostra que a interseção entre música e games deixou de ser uma exclusividade de grandes nomes internacionais e começa a ganhar contornos próprios no Brasil, abrindo novas possibilidades para artistas, estúdios e públicos.
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