Uma análise recente conduzida pelo jornalista e cientista de dados Daniel Parris e publicada na newsletter de Chris Dalla Riva trouxe informações reveladoras sobre o declínio do rock como gênero dominante nas paradas de sucesso.
A pesquisa, baseada em estatísticas do Spotify e da Billboard, aponta que o rock perdeu espaço no mainstream, mas não desapareceu. Pelo contrário: o gênero continua vivo, pulsante e influente, mesmo que longe dos holofotes que um dia o iluminaram.
O ápice e a queda do rock

Nos anos 1960, o rock explodiu como um fenômeno cultural, impulsionado por bandas como The Beatles, The Rolling Stones e Led Zeppelin. Na década de 1980, o gênero atingiu seu auge, dominando mais de 60% das músicas na Billboard Top 100. No entanto, a partir dessa época, o rock começou a perder terreno para outros estilos, como pop, hip-hop e música eletrônica.
Mas o que levou o rock a sair do centro das atenções? A pesquisa de Parris aponta uma série de fatores que contribuíram para esse declínio:
A revolução tecnológica
A chegada de sintetizadores e drum machines nos anos 1980 mudou o jogo. Enquanto novos gêneros como o synth-pop e o hip-hop ganhavam força, muitas bandas de rock continuaram a repetir fórmulas já desgastadas, sem inovar sonoramente.
Os dados levantados por Parris mostram claramente os pontos de inflexão em 1964, 1983 e 1991, que marcaram mudanças significativas na música popular.
A comercialização excessiva

Nos anos 1980, o rock, especialmente o glam metal, tornou-se excessivamente comercial. Bandas como Poison e Mötley Crüe focaram mais em aparência e hits radiofônicos do que em experimentação musical, o que levou a uma saturação do gênero.
O estudo de Daniel Parris indica um período de baixa diversidade musical no final dos anos 1970 e início dos 1980, coincidindo com o declínio do rock.
A ascensão do hip-hop e do pop
Artistas como Michael Jackson e Madonna dominaram as paradas com novas sonoridades e performances visuais impactantes. Enquanto isso, o rock perdia relevância cultural, sem conseguir se adaptar às novas demandas do público.
Os dados refletem o crescimento constante do pop e do hip-hop a partir dos anos 1980.

O impacto da MTV
Com o surgimento do MTV nos anos 1980, a música tornou-se cada vez mais visual. Artistas pop não apenas criaram hits, mas também narrativas visuais que passaram a fazer parte da cultura popular.
Enquanto isso, muitas bandas de rock mantiveram-se presas a fórmulas tradicionais, sem explorar plenamente o potencial da era do videoclipe. O rock, que antes ditava tendências, viu-se em desvantagem diante da inventividade narrativa e estética do pop.
A fragmentação do gênero
O rock se dividiu em subgêneros como indie, folk e alternative, perdendo sua identidade unificada. Essa fragmentação diluiu sua presença no mainstream, mas também permitiu que o gênero se reinventasse em nichos específicos.
O rock hoje: fora do mainstream, mas ainda forte

Nos anos 1990, o movimento grunge, liderado por bandas como Nirvana e Pearl Jam, trouxe uma última onda de relevância mainstream para o rock. No entanto, a morte de Kurt Cobain em 1994 marcou o fim desse movimento e o declínio final do rock como força dominante nas paradas.
A pesquisa de Parris deixa claro que o rock não desapareceu, mas migrou para fora do mainstream. Com o surgimento do streaming e a democratização da distribuição musical, o cenário atual é marcado por uma diversidade de gêneros e subgêneros. Plataformas como o Spotify oferecem acesso a uma infinidade de estilos, desde K-pop até rock alternativo, tornando improvável que qualquer gênero domine tanto quanto o rock fez no passado.
Hoje, o rock sobrevive em nichos, com bandas independentes e festivais dedicados ao gênero. Além disso, o legado do rock continua vivo, influenciando novos artistas e mantendo uma base de fãs fiéis. Bandas como Arctic Monkeys, Foo Fighters, Måneskin e Greta Van Fleet provam que o rock ainda tem espaço, mesmo que não esteja no topo das paradas.
O futuro do rock

A pesquisa sugere que há valor em um gênero não estar sempre no mainstream. Ao permanecer fora do centro das atenções, o rock preserva sua identidade e autenticidade, longe das pressões comerciais que muitas vezes levam à saturação. Parris compara essa situação à franquia Star Wars: assim como a expansão excessiva de filmes e séries pode diluir o impacto da saga original, o rock pode se beneficiar de sua posição atual, mantendo-se relevante sem precisar competir pelo topo das paradas.
Enquanto isso, os fãs podem continuar celebrando o rock em suas diversas formas, seja nos festivais, nas plataformas de streaming ou nos discos clássicos que nunca saem de moda. O rock pode não ser mais o rei das paradas, mas sua batida continua ecoando — e, para muitos, isso é mais do que suficiente.