Vinil volta a crescer e consolida retomada global do formato físico mais estável da música

Novos dados do Reino Unido indicam alta nas vendas e reforçam tendência mundial de expansão do vinil, impulsionada por jovens e colecionadores.
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Nathália Pandeló
Disco de vinil - Billboard exclui dados de CDs e vinil do

O mercado de vinil voltou a crescer. Segundo dados da British Phonographic Industry (BPI), o formato registrou alta de 10,7% no Reino Unido durante o terceiro trimestre de 2025, com 1,49 milhão de unidades vendidas. No acumulado do ano, já são 4,73 milhões de LPs comercializados, um aumento de 7,4% em relação a 2024. A previsão é que o país encerre o ano superando a marca de sete milhões de cópias, o melhor resultado da década.

Embora se refiram apenas ao Reino Unido, os números chamam atenção por um motivo: o país é um dos principais termômetros do mercado fonográfico mundial. Desde o início da retomada do vinil, o desempenho britânico tem se refletido diretamente nas tendências internacionais, antecipando movimentos de consumo observados depois em mercados como o norte-americano e o europeu.

Tendência global de longo prazo

RIAA mostra o crescimento do vinil do mercado americano (Crédito: Reprodução)
RIAA mostra o crescimento do vinil do mercado americano (Crédito: Reprodução)

Nos Estados Unidos, onde as medições da Luminate e da Recording Industry Association of America (RIAA) são consideradas referência, as vendas de vinil atingiram 43,6 milhões de unidades em 2024 — o 18º ano consecutivo de crescimento. O formato movimentou US$ 1,4 bilhão e superou o faturamento dos CDs pelo terceiro ano seguido. A projeção é de crescimento contínuo, com expectativa de 46 a 48 milhões de unidades em 2025, chegando a até 70 milhões em 2035.

Esses dados fazem parte do estudo “The Vinyl Records Revival and the Growth of Vinyl LPs”, publicado em 2025, que identifica o fenômeno como mais do que um saudosismo. Trata-se de uma mudança cultural impulsionada por diferentes gerações, especialmente a Geração Z, que redescobriu o vinil como experiência tátil, objeto de coleção e símbolo de apoio direto aos artistas.

O relatório aponta quatro fatores principais para o avanço do formato: o apelo visual das capas e encartes, a qualidade sonora analógica, o valor de colecionabilidade e a percepção de que comprar vinil é uma forma de contribuir mais diretamente com músicos em um cenário dominado pelo streaming.

O papel das lojas independentes

Black Friday - Discos de vinil em promoção

Outro estudo, “The Growth of Vinyl and the Impact of Independent Record Stores on Vinyl Sales”, publicado em 2024 por Chris Muratore, reforça o papel das lojas independentes na sustentação dessa retomada. Entre 2016 e 2023, as vendas de LPs cresceram quase 300%, saltando de 13,1 milhões para 49,6 milhões de unidades, somando 224,9 milhões de discos vendidos no período.

As lojas independentes responderam por cerca de 45% das vendas globais (mais de 100 milhões de cópias) e continuaram sendo o principal canal de compra em 2024, com 40% da participação de mercado. O perfil dos consumidores também vem mudando: 41% dos compradores de vinil têm menos de 35 anos, e a faixa etária com maior número de clientes vai de 35 a 44 anos.

Esses números ajudam a explicar a vitalidade do mercado físico mesmo em um cenário de domínio do streaming. O vinil ocupa hoje um espaço próprio, em que a experiência de compra, o ritual de ouvir música e o valor do objeto convivem com a conveniência digital.

Reflexos e lacunas no Brasil

Soundcloud oferece aos usuários possibilidade de prensar discos de vinil
Soundcloud oferece aos usuários possibilidade de prensar discos de vinil (Crédito: Divulgação)

No Brasil, o crescimento do vinil é perceptível nas prateleiras e nas feiras de colecionadores, mas a ausência de dados consolidados impede uma mensuração precisa. O país não possui um levantamento regular sobre vendas físicas por formato, como ocorre com a BPI, a IFPI ou a Luminate. Ainda assim, o movimento é visível: novas fábricas foram inauguradas nos últimos anos, o número de lançamentos em LP aumentou e grandes artistas brasileiros passaram a incluir o formato nas edições físicas de seus álbuns.

A reabertura de fábricas e a presença de editoras independentes que investem em prensagens limitadas ilustram esse interesse crescente. A expansão de eventos como feiras de vinil e a Discopédia, além do fortalecimento do circuito de lojas especializadas, também sinaliza que o formato recuperou relevância entre colecionadores e novas gerações.

Um formato de futuro analógico

Com dados consistentes em mercados maduros e sinais positivos em países emergentes, o vinil consolida-se como o formato físico mais estável da música. Apesar do ritmo de crescimento mais moderado, as projeções indicam expansão até 2035, acompanhando a busca por experiências tangíveis em um mundo cada vez mais digital.

O cenário global mostra que, longe de ser um retorno nostálgico, o vinil representa um novo capítulo da economia criativa. Ele combina estética, memória e pertencimento, reforçando que a relação entre artistas e público ainda pode (e deve) passar pelas mãos, pelas capas e pelo som analógico de um disco girando.

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