Turismo musical deve movimentar R$ 1,5 trilhão até 2030 com força entre jovens viajantes

O mercado de turismo musical cresce a um ritmo acelerado e deve atingir números recordes, segundo novo relatório da Grand View Research.
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Nathália Pandeló
Crescimento do turismo musical

O turismo musical está em alta e deve movimentar US$ 267,85 bilhões (R$ 1,5 trilhão) até 2030. A estimativa é do novo relatório da consultoria Grand View Research, que aponta um crescimento anual de quase 19% nos próximos anos. O que impulsiona esse mercado é a mudança no jeito de viajar, principalmente entre os mais jovens, que estão deixando de lado roteiros tradicionais para viver experiências com música ao vivo.

Para esse público, não basta visitar pontos turísticos famosos. O que vale mesmo é se conectar com a cultura local de um jeito mais intenso, e a música virou uma das melhores formas de fazer isso. Ir a um festival ou a um show em outro país se tornou motivo de viagem. E, mais do que entretenimento, esses eventos oferecem troca, emoção e memória afetiva — elementos que acabam fidelizando o turista.

Shows e festivais viram destino turístico

Festivais como o Glastonbury, no Reino Unido, são bons exemplos de como a música movimenta o turismo. Com mais de 200 mil pessoas por edição, o evento vai além dos palcos: tem arte, gastronomia do mundo todo e ações ligadas à sustentabilidade. Isso atrai não só os fãs das bandas, mas também viajantes em busca de uma imersão cultural completa.

Esse modelo bem-sucedido está se espalhando para outros lugares. O Ultra Music Festival, que começou em Miami, hoje tem edições em países como Brasil, Coreia do Sul, Croácia, África do Sul e Austrália. A ideia é manter a essência do festival original, mas adaptando a experiência ao contexto local. Com isso, cria-se um circuito global de festivais que atrai turistas do mundo inteiro e gera impacto econômico nas cidades que recebem os eventos.

Streaming e redes sociais puxam as viagens

O crescimento das plataformas como Spotify, YouTube e Apple Music também tem tudo a ver com esse movimento. Hoje, é fácil conhecer artistas do mundo todo e virar fã de alguém que está a milhares de quilômetros. E quando esse artista anuncia um show, muita gente decide arrumar as malas para ver de perto. Foi o que aconteceu com o fenômeno do BTS, por exemplo. A banda coreana já levou fãs de países como Japão, Brasil e Índia para cidades como Los Angeles, Londres e Paris.

Esse tipo de viagem mostra como o digital se conecta com o físico. O fã conhece o artista online, cria vínculo emocional e, quando pode, quer viver essa experiência ao vivo. O palco vira ponto de encontro entre culturas, e o show se transforma em motivo principal da viagem.

Público em festival
Público em festival (Crédito: Wendy Wel)

Viagem com propósito para a Geração Z

Boa parte desse público que viaja para eventos musicais tem entre 18 e 34 anos. São os Millennials e a Geração Z, que preferem gastar com experiências do que com bens materiais. Para eles, ir a um show ou festival é também uma forma de se expressar, de se sentir parte de algo maior — e de registrar tudo isso nas redes sociais.

Por isso, esses eventos acabam sendo muito mais do que diversão. São momentos de troca, pertencimento e descoberta, que conectam pessoas de diferentes lugares e viram memórias compartilhadas online. É essa troca que torna o turismo musical tão atrativo para esse público.

Cidades e governos de olho nesse mercado

Com tanta gente viajando por causa da música, os governos e as secretarias de turismo estão de olho nas oportunidades. Muitos lugares já trabalham para atrair eventos e transformar shows em atrativos turísticos. Além disso, os pacotes vendidos por agências online facilitam o acesso: incluem ingressos, hospedagem e transporte, tudo pronto para quem quer curtir o evento sem dor de cabeça.

A Grand View Research aponta que países da Ásia-Pacífico e da América Latina devem crescer bastante nesse mercado nos próximos anos. No Brasil, festivais como o Rock in Rio e o Lollapalooza já recebem turistas do mundo todo e ajudam a movimentar setores como hotelaria, alimentação e transporte.

O futuro da música como experiência global

Os principais nomes do setor — como Live Nation, Ticketmaster, AEG Presents, Tomorrowland, Coachella e Fuji Rock Festival — já entenderam que a música ao vivo não tem fronteiras. Os eventos se tornaram experiências completas, que unem turismo, cultura e identidade. E, com a expectativa de movimentar mais de valores recordes até 2030, o turismo musical mostra que veio para ficar.

Para quem trabalha no mercado da música, o crescimento do turismo musical representa novas oportunidades de atuação e receita. A demanda por experiências presenciais fortalece a cadeia ao redor dos eventos: de artistas e produtores a tiqueteiras, agências de viagens, profissionais de marketing, comunicação e tecnologia. Além disso, o aumento da circulação internacional abre portas para parcerias, exportação de talentos e desenvolvimento de circuitos regionais integrados.

As cidades que investem em receber shows e festivais passam a competir globalmente por atenção e público, o que exige uma articulação entre cultura, infraestrutura e planejamento. Por isso, entender o comportamento do público viajante e como ele consome música ao vivo pode ser decisivo para a criação de estratégias sustentáveis, tanto para artistas quanto para agentes do setor.

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