Spotify e Universal fecham novo acordo global de streaming

Spotify e Universal avançam em negociação que promete novos modelos de assinatura, licenciamento direto e impulso ao mercado musical.
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Nathália Pandeló
Spotify e Universal Music Group - UMG - fecham acordo
Spotify e Universal Music Group fecham acordo (Crédito: Reprodução)

Nos últimos dias, o mercado da música observou uma movimentação entre duas gigantes do setor: Spotify e Universal Music Group. O anúncio de um novo acordo de múltiplos anos, envolvendo gravações e publicação musical, gerou comentários em torno das negociações sobre pagamentos de royalties. A colaboração menciona a possibilidade de novas modalidades de assinatura, com combinações de música e conteúdo não musical, além de uma relação direta entre o Spotify e a divisão editorial da Universal.

Essa parceira se conecta ao conceito chamado de Streaming 2.0, mencionado pela Universal como um caminho para revisar o modelo de remuneração de artistas e compositores e, ao mesmo tempo, lançar ofertas diferenciadas para os consumidores. A iniciativa chega em meio a debates sobre como os criadores de música recebem por seu trabalho, principalmente quando se fala em planos que unem música e audiolivros, foco de discussões entre editoras, associações e a plataforma de streaming.

Novo formato de licenciamento

O ponto mais comentado dessa negociação foi o licenciamento direto entre o Spotify e a Universal Music Publishing Group (UMPG). Informações divulgadas por fontes do setor sugerem que a mudança pode melhorar a remuneração de compositores, pois o Spotify vinha enfrentando reclamações sobre eventuais descontos em royalties devidos às editoras que discordavam de como os planos em pacotes e combos de serviços eram estruturados.

Nos comunicados oficiais, o tema do “streaming em pacote” foi citado como parte de um esforço para “aproximar artistas, compositores e fãs” por meio de planos de assinatura que vão além da música convencional. Havia críticas de que a inclusão de audiolivros em um mesmo pacote diminuía a taxa de pagamento aos detentores de direitos. O novo acerto indicaria ajustes nessas taxas, embora detalhes financeiros específicos não tenham sido divulgados.

Declarações das empresas

A Universal Music Group, por meio de seu CEO, Sir Lucian Grainge, divulgou um posicionamento sobre o acordo. Ele afirmou: 

“Quando apresentamos pela primeira vez nossa visão para o próximo estágio na evolução da assinatura de música há vários meses — Streaming 2.0 — esse é precisamente o tipo de desenvolvimento de parceria que imaginamos. Este acordo promove e amplia a colaboração com o Spotify para nossos selos e editora musical, avançando princípios centrados no artista para impulsionar maior monetização para artistas e compositores, bem como aprimorar as ofertas de produtos para os consumidores.”

Já o fundador e CEO do Spotify, Daniel Ek, declarou: 

“Por quase duas décadas, o Spotify cumpriu seu compromisso de retornar a indústria musical ao crescimento, garantindo que entregamos pagamentos recordes para o benefício de artistas e compositores a cada novo ano. Essa parceria garante que podemos continuar a cumprir essa promessa ao abraçar a certeza de que a inovação constante é a chave para tornar as assinaturas de música pagas ainda mais atraentes para um público mais amplo de fãs ao redor do mundo.”

Contexto de disputas

As negociações em torno de pagamentos de royalties de streaming seguem tensas há algum tempo. A possibilidade de unir música com outras mídias em um único pacote gerou reações de entidades como a National Music Publishers Association (NMPA), que chegou a protocolar queixas legais. No centro dessa discussão, estava a mecânica de como as taxas eram aplicadas quando um assinante acessava conteúdos diversos, o que, segundo algumas editoras, resultava em valores menores para os compositores.

A aparição de um licenciamento direto ocorre em paralelo às reclamações judiciais que ainda caminham. Há quem espere que outros grandes grupos musicais tentem negociar termos semelhantes com o Spotify, ampliando o escopo das discussões e estimulando a revisão das fórmulas de pagamento. Claro que nem todas têm o peso e o escopo da UMPG, parte do maior grupo de música e entretenimento do mundo.

O posicionamento de artistas que não são ligados a grandes gravadoras também permanece um ponto de atenção, pois muitos tentam entender se esse acordo terá reflexos em toda a indústria ou se beneficiará apenas os grandes catálogos.

Possíveis impactos no mercado

Projeção da UMG para streaming superpremium
Projeção da UMG para streaming superpremium (Crédito: Reprodução)

Profissionais do mercado analisam o momento como uma transição que pode alterar, em algum nível, a forma de monetizar músicas no ambiente digital. Como o acordo cita diretamente princípios centrados em artistas, surge a expectativa de que haja maior valorização do engajamento produzido por cada conteúdo. A questão das fraudes em plays de streaming também aparece, pois há menções a sistemas de detecção e a uma supervisão mais firme para evitar manipulações de dados.

Ao mesmo tempo, os consumidores podem receber planos de assinatura com opções extras, seja por conteúdo de vídeo, audiolivros ou experiências personalizadas com artistas — os superfãs, afinal, continuam em alta. Quem observa essa dinâmica fala em tentar equilibrar as demandas de cada elo da cadeia: plataformas de streaming, gravadoras, editoras, artistas e usuários.

De acordo com dados da própria Universal, 20% dos assinantes atuais de um serviço de streaming estariam dispostos a pagar mais por um plano “superpremium”, que combina recursos funcionais (como áudio em alta resolução) e outros voltados ao “fandom” (acesso antecipado a lançamentos, versões deluxe, sessões de perguntas e respostas com o artista, entre outros). A análise indica que o público jovem (13 a 34 anos) demonstra maior propensão para adquirir tais benefícios, sobretudo os de natureza mais ligada à experiência de fã, enquanto recursos técnicos também têm peso relevante nessa decisão.

Cenário de mudanças

O novo acordo pode influenciar outras negociações semelhantes nos próximos meses. Quando uma empresa do tamanho da Universal confirma parâmetros diferenciados para o pagamento de royalties, as concorrentes podem procurar condições parecidas. Dessa forma, a indústria pode ajustar de maneira mais profunda o modelo de recebimento por streaming.

Um controle maior sobre assinaturas em pacote tende a mexer com os valores de repasse a diversos agentes do setor. O engajamento gerado por artistas é um fator determinante, então a divisão correta desses rendimentos ganha ainda mais relevância. 

Projeções para o futuro

Com os grandes grupos musicais atentos a possíveis revisões de contrato, o Spotify segue como principal player do streaming. Entretanto, outras plataformas observam de perto o que acontece nessas conversas, pois qualquer mudança significativa no pagamento de royalties ou na oferta de planos faz parte de um ecossistema maior. O próximo passo pode envolver reações de artistas independentes, que buscam mais transparência e menos burocracia para entrar nesse tipo de acordo.

No fim das contas, a aliança entre Spotify e Universal sugere que o conceito de “Streaming 2.0” se baseia em ajustes nos repasses e na criação de novas camadas de serviço, ainda que muita coisa permaneça sob sigilo contratual. Os desdobramentos podem gerar debates adicionais sobre as melhores práticas no setor, principalmente se outros grupos seguirem a mesma linha de renegociação, trazendo mais mudanças no processo de distribuição de receitas.

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