Selos independentes impulsionam a música latina e ganham espaço no Latin Grammy

Com o avanço da música latina no mundo, selos independentes se consolidam como polos criativos e encontram no Latin Grammy uma vitrine estratégica.
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Nathália Pandeló
Música latina
Crédito: Wirestock

O crescimento dos selos independentes na América Latina tem redesenhado o mapa da indústria regional. O que antes parecia um movimento restrito a nichos agora se tornou parte de uma cadeia mais ampla, que inclui desde artistas de renome global até novas apostas locais. A combinação de tecnologia acessível, redes de distribuição digital e o fortalecimento de cenas locais vem permitindo que mais projetos se tornem sustentáveis sem depender de grandes gravadoras.

Essas iniciativas escolhem um caminho diferente: não buscam apenas o volume, mas a identidade, a curadoria e uma ligação direta com os artistas. Esse ecossistema mais plural reflete a vitalidade cultural da região e ajuda a entender por que a música latina segue entre as mais consumidas do mundo.

Um mercado em expansão

Música latina continua crescendo - Peso Pluma e Karol G
Peso Pluma e Karol G são expoentes do novo cenário da América Latina (Crédito: Divulgação)

O mercado fonográfico latino-americano vem crescendo de forma consistente. Em 2023, o relatório da International Federation of the Phonographic Industry (IFPI) registrou que as receitas da América Latina cresceram 19,4%, mantendo a região acima da média global. Nesse ano, o Brasil cresceu 13,4% e o México 18,2%, e o streaming respondeu por 86,3% da receita regional.

Para 2024, o crescimento estimado na região alcançou 22,5%, segundo os dados mais recentes da IFPI, o que demonstra que o momento segue forte e as oportunidades continuam aumentando.

Esse cenário se conecta ao que acontece nos Estados Unidos com a música latina. A Recording Industry Association of America (RIAA) relatou que em 2023 o segmento latino nos EUA alcançou cerca de US$ 1,4 bilhão em receita, com crescimento de aproximadamente 16% sobre o ano anterior. 

Em 2025, no meio do ano, o segmento latino já registrava cerca de US$ 490,3 milhões nos EUA, com um crescimento de 5,9%, sendo que o streaming correspondia a 98% da receita desse segmento. Para selos independentes latino-americanos, esse ambiente significa mais mercado, mais circulação e mais chance de internacionalização.

Majors investem, independentes crescem

As grandes gravadoras perceberam o valor crescente da música latina e intensificaram seus investimentos na região. Isso inclui maior alocação de recursos em A&R e marketing voltados ao mercado latino, além de parcerias com selos locais. Enquanto isso, os selos independentes têm mostrado maior profissionalização.

Um estudo da Observatório da Música Independente Latino-Americana (WIN/OLMI) constatou que artistas vinculados a selos independentes na região costumam registrar melhor desempenho em ouvintes e receita digital do que aqueles que fazem lançamentos totalmente autônomos. Essa combinação de independentes mais estruturados e majors com apetite pelo mercado latino cria um ecossistema mais aberto e competitivo.

Ao mesmo tempo, os selos independentes mantêm autonomia criativa e proximidade com seus artistas. Muitos optam por parcerias pontuais com majors para distribuição ou marketing, sem abrir mão da identidade do selo. O resultado é uma indústria mais plural, com diversos caminhos para alcançar uma audiência global.

Latin Grammy como vitrine

Latin Grammy vencedores

Até para os selos independentes, a premiação do Latin Grammy representa uma chance real de projeção internacional. O processo aberto de inscrição permite que gravadoras de pequeno ou médio porte submetam seus artistas, gerando visibilidade e credibilidade. Não por acaso, Bad Bunny, o artista mais indicado este ano, pertence à independente Rimas Entertainment.

A cada edição, cresce o número de indicações que envolvem selos independentes da América Latina, o que reforça sua presença no circuito global. Mesmo quando não há vitória, a simples indicação funciona como chancela de qualidade e pode abrir portas para turnês, parcerias e distribuição internacional.

Com o ambiente digital globalizado, uma indicação no Latin Grammy pode mudar o jogo para um selo independente latino-americano: tanto em termos de reconhecimento dentro da indústria, como em termos de negócio e alcance internacional.

Dez selos independentes que representam a força da música latina

Noah Assad, CEO da RIMAS Entertainment, empresário de Bad Bunny
Noah Assad, CEO da RIMAS Entertainment, empresário de Bad Bunny. Foto: CHRISTOPHER POLK/PMC/GETTY IMAGES

O cenário independente latino é diverso e descentralizado. Há selos focados em música urbana, outros em eletrônica experimental ou rock alternativo, mas todos compartilham uma característica: operam com estruturas enxutas, forte identidade artística e uma visão regional conectada ao mundo. 

A seguir, dez exemplos que ilustram como diferentes países da América Latina vêm moldando esse movimento.

  • Argentina – ZZK Records: Fundado em Buenos Aires em 2008, o selo tornou-se referência ao fundir ritmos tradicionais com música eletrônica. Lançou artistas como Nicola Cruz, Chancha Vía Circuito e La Yegros, ajudando a levar a “cumbia digital” para o mundo.
  • Colômbia – Polen Records: Criada em Bogotá, a gravadora tem no catálogo nomes como Bomba Estéreo e Systema Solar, reconhecidos por misturar sonoridades afro-caribenhas, pop e eletrônica.
  • México – N.A.A.F.I.: Coletivo e selo da Cidade do México, tornou-se símbolo de uma geração que mistura club music e ritmos latinos. Trabalha com artistas como Tayhana, Imaabs e Debit.
  • Chile – Quemasucabeza: Um dos selos mais consistentes do Chile, lançou Gepe, Ases Falsos e Pedropiedra, promovendo o indie pop local e consolidando turnês regionais.
  • Peru – Buh Records: Baseado em Lima, o selo atua no campo experimental e contemporâneo. Entre seus artistas estão Christian Galarreta e Luis Alvarado, com foco em arte sonora e pesquisa eletrônica.
  • Uruguai – Bizarro Records: Fundado em Montevidéu, é o principal selo independente do país, responsável por carreiras como No Te Va Gustar e Cuarteto de Nos, que romperam fronteiras regionais.
  • Porto Rico – Rimas Entertainment: Criada em 2014, a gravadora é referência mundial no urbano latino, com Bad Bunny, Eladio Carrión e Arcángel entre seus principais nomes.
  • República Dominicana – La Oreja Media Group: Gravadora de Santo Domingo que atua nos gêneros tropical e urbano. Trabalha com Manny Cruz, Covi Quintana e novos artistas do pop dominicano.
  • Venezuela – Subterráneo Records: Selo de Caracas dedicado ao rock alternativo e indie. Lançou Los Mesoneros e La Vida Bohème, nomes que mantêm a cena independente ativa mesmo em tempos desafiadores.
  • Equador – Enlace Music: Gravadora de Quito que vem crescendo com projetos de música urbana e pop alternativo. No seu catálogo estão artistas como Paola Navarrete e Tres Dedos, refletindo a nova geração equatoriana.

Esses selos mostram que a independência na música latina não é apenas uma questão de estrutura, mas de identidade. Cada um deles representa um olhar próprio sobre produção e distribuição musical. E juntos ajudam a projetar a América Latina como uma região criativa e diversificada.

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