IA na música em 2025: o ano das disputas, acordos e viradas na relação entre tecnologia e criação

A movimentação intensa da IA na música em 2025 expôs tensões, abriu caminhos de licenciamento e colocou a proteção autoral no centro do debate.
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Nathália Pandeló
PL da Inteligência artificial - IA Music Ally direitos autorais gêneros, Goldman Sachs, OpenAI
Crédito: Freepik

A IA na música teve um dos anos mais turbulentos e decisivos da década. Entre disputas judiciais, acordos inéditos, discussões legislativas e iniciativas do setor, 2025 termina com avanços importantes, além de muitos alertas para o futuro. 

O debate deixou de ser uma conversa entre especialistas e passou a afetar toda a cadeia, de artistas independentes a grandes conglomerados, já que a IA na música começou a pressionar diretamente temas como direitos autorais, remuneração, voz e imagem digital e uso de catálogos para treinamento de modelos generativos.

As tensões cresceram de forma acelerada à medida que modelos de geração musical se popularizaram e os casos de uso indevido ficaram mais visíveis. O setor global passou a exigir transparência, consentimento e pagamentos justos para qualquer tecnologia que utilizasse obras autorais, com o Brasil também envolvido na discussão por meio de debates públicos, mobilizações de entidades e pressões por políticas mais claras.

O avanço das ações judiciais contra modelos de inteligência artificial

Uma das marcas de 2025 foi o embate direto entre grandes gravadoras e plataformas de inteligência artificial. Nos Estados Unidos, a RIAA manteve processos contra empresas acusadas de treinar IA com catálogos protegidos sem autorização, incluindo acusações envolvendo canções retiradas do YouTube para alimentar bancos de dados de geração sonora. Essa discussão ajudou a definir parâmetros sobre o limite entre pesquisa, exploração comercial e violação de direitos.

Os casos de conteúdo gerado com vozes clonadas também ganharam visibilidade. A faixa I Run, do artista Haven, precisou ser retirada das plataformas após especialistas apontarem que a voz usada soava semelhante à de uma artista real, apontando riscos de confusão e falta de consentimento. O episódio repercutiu amplamente e virou símbolo do problema do chamado “IA slop”, termo usado para descrever conteúdos gerados em massa, muitas vezes sem qualidade e sem autorização, que podem atrapalhar a remuneração de artistas.

Esse conjunto de disputas ajudou a solidificar um entendimento: treinamento e geração com obras protegidas exigem regras claras, autorização e remuneração.

Acordos históricos e a nova fase do licenciamento

Warner Music Group e Suno fecham acordo
Warner Music Group e Suno fecham acordo (Crédito: Divulgação)

Se por um lado 2025 teve conflitos, por outro trouxe movimentos de negociação sem precedentes. O Warner Music Group encerrou o processo contra a plataforma de IA Suno e firmou um acordo de licenciamento, que inclui autorização para uso de catálogo e diretrizes para vozes e imagens de artistas. O acerto veio acompanhado da venda da Songkick para a startup, criando uma relação comercial que substituiu a disputa judicial.

Outro marco foi o acordo do Universal Music Group com a Udio, que encerrou a ação entre as partes e abriu caminho para uma plataforma de IA com lançamento previsto para 2026. Esses acertos mostraram que parte da indústria está se movendo para modelos de opt-in, nos quais artistas e titulares decidem se querem participar e sob quais condições.

No campo acadêmico, estudos publicados ao longo do ano defenderam sistemas de “atribuição embutida” nos modelos generativos. A ideia é criar mecanismos técnicos que registrem automaticamente quais obras serviram de base para o treinamento e permitir distribuição transparente de pagamentos.

Brasil entra no debate sobre regulação e direitos autorais

Campanha Toda criação tem dono é promovida por UBC e Pro-Música
Campanha “Toda criação tem dono “é promovida por UBC e Pró-Música (Crédito: Divulgação)

No Brasil, a discussão sobre IA na música ganhou força em 2025, impulsionada por setores da indústria fonográfica e por especialistas em direitos autorais. Entre os pontos mais citados esteve a necessidade de atualizar a legislação para contemplar práticas que surgiram com a IA generativa, desde o uso de voz e imagem até o treinamento com obras protegidas.

A União Brasileira de Compositores (UBC) lançou a campanha Toda criação tem dono. Quem paga, usa, dando destaque à necessidade de consentimento e remuneração justa em casos de uso autoral por IA. A iniciativa virou referência no debate nacional por sintetizar de forma direta o princípio central da discussão: tecnologia não pode prescindir da autorização de quem cria.

Textos publicados por juristas e especialistas ao longo do ano ressaltaram que o avanço tecnológico não deve enfraquecer os direitos de compositores, intérpretes e titulares. Mesmo sem um marco legal específico aprovado em 2025, o tema entrou definitivamente na agenda pública e deve se tornar uma das prioridades do setor cultural em 2026.

Desafios que ficam para 2026

Os principais aprendizados de 2025 caminham na direção do licenciamento como modelo preferencial. A indústria entende que é possível integrar IA na música, desde que os artistas tenham liberdade de escolha e que exista transparência no treinamento e nos usos posteriores.

Persistem, porém, desafios técnicos e culturais. Pesquisas apontaram que modelos de IA ainda apresentam distorções quando lidam com repertórios não hegemônicos, o que inclui parte importante da música brasileira. Também há preocupação com saturação do mercado por conteúdos de baixa qualidade e com impactos futuros na remuneração de criadores.

O ano terminou com avanços, tensões e muitos debates em aberto. A disputa continua, mas o setor passou a enxergar caminhos mais claros para que IA e música convivam sem atropelar quem cria.

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