Um novo relatório da Musicians’ Union (MU) e da Help Musicians trouxe dados que revelam os desafios enfrentados por músicos com deficiência no mercado musical. O estudo, parte do censo anual da MU, mostrou que 88% dos músicos com deficiência relatam discriminação no trabalho, prejudicando suas oportunidades de crescimento na carreira.
O levantamento também destaca um impacto na renda desses profissionais. Em média, músicos com deficiência recebem £ 4.400 (R$ 32.120) a menos por ano do que músicos sem deficiência, evidenciando desigualdades estruturais no setor.
Músicos relatam discriminação e exclusão
Os dados revelaram que as dificuldades enfrentadas por músicos com deficiência vão além da acessibilidade física. Muitos desses profissionais também sofrem preconceito por razões de gênero, raça e identidade. Entre músicos com deficiência que se identificam como trans, mais da metade (51%) relatou experiências de discriminação de gênero.
A questão racial também se destacou no estudo: 27% dos músicos com deficiência da relataram episódios de racismo. Esses números refletem como diferentes formas de discriminação se acumulam, tornando a trajetória desses artistas ainda mais desafiadora.
Baixa renda agrava a exclusão
O aspecto financeiro se mostra outra barreira importante. Cerca de 73% dos músicos com deficiência no Reino Unido não recebem benefícios estatais, o que agrava a dificuldade em construir uma carreira sustentável. Além disso, músicos com condições neurodivergentes ou problemas de saúde mental têm, em média, um déficit adicional de £ 1.700 (R$ 12.410) em relação à renda anual dos demais músicos com deficiência.
A pesquisa apontou que 22% dos músicos com deficiência estão endividados, número quase duas vezes maior do que o de músicos sem deficiência na mesma situação. Esses dados reforçam o impacto financeiro desproporcional que esses profissionais enfrentam ao tentar desenvolver suas carreiras no mercado musical.
Bem-estar e perspectivas futuras
A saúde física e mental de músicos com deficiência também está diretamente ligada à sua permanência no mercado. Quase 40% relataram problemas relacionados à saúde física, enquanto 43% classificaram sua saúde mental como ruim.
Entre aqueles que enfrentam problemas graves de saúde, apenas dois terços acreditam que continuarão trabalhando no setor nos próximos cinco anos. Esses números evidenciam a necessidade de suporte mais abrangente para melhorar a qualidade de vida e as condições de trabalho desses músicos.
Ações para inclusão e acessibilidade
A Musicians’ Union, em parceria com a Help Musicians e a Attitude is Everything, destacou a urgência de criar condições mais inclusivas no setor. Entre as prioridades estão investimentos em acessibilidade em eventos, capacitação de profissionais e criação de políticas que combatam o capacitismo.
Embora algumas iniciativas estejam sendo implementadas, como espaços acessíveis e apoio financeiro pontual, os organizadores do relatório reforçam que essas medidas ainda são insuficientes para resolver os desafios enfrentados por músicos com deficiência.
Mudanças estruturais são indispensáveis
O relatório conclui que o combate à discriminação e à exclusão financeira exige comprometimento de toda a indústria musical. Ao reduzir barreiras e promover acessibilidade, o setor passa a valorizar a diversidade e cria um ambiente onde músicos com deficiência podem alcançar todo o seu potencial artístico.
Embora os dados apresentados sejam baseados na realidade do Reino Unido, eles fornecem um indicativo importante das condições sociais, físicas, mentais e de trabalho enfrentadas por pessoas com deficiência em outros contextos. Essas informações destacam a necessidade de debates mais amplos e ações concretas para melhorar a inclusão e a igualdade de oportunidades para todos os músicos, em especial aqueles ignorados pelas políticas majoritárias.