O crescimento global da indústria da música desacelerou em 2024, com o streaming registrando uma queda inédita em sua participação nas receitas totais. É o que revela o mais recente relatório da MIDiA Research, divulgado nesta quinta-feira (13). As receitas globais da música gravada atingiram US$ 36,2 bilhões no ano passado, um aumento de 6,5% em relação a 2023. No entanto, o ritmo de crescimento foi menor que os 9,7% registrados no ano anterior, refletindo uma tendência de volatilidade no mercado.
O relatório “Recorded Music Market Shares 2024” destaca que, embora o streaming continue dominando a movimentação financeira do setor, sua influência está diminuindo. Pela primeira vez, a participação do streaming no total de receitas não cresceu, ficando em 61,3% (contra 61,5% em 2023). As receitas de streaming aumentaram 6,2% em 2024, atingindo US$ 22,2 bilhões, um crescimento mais modesto comparado aos 10,3% do ano anterior.
MIDiA: Desaceleração do streaming e ascensão dos direitos expandidos
A desaceleração do streaming, aliada a mais um ano fraco para as vendas físicas, tem aumentado a volatilidade do mercado.
“Com tanta incerteza na economia global, um crescimento anual de 6,5% nas receitas já é uma conquista por si só. No entanto, a desaceleração do streaming, somada a outro ano ruim para o físico, tem enfatizado uma volatilidade crescente no mercado. Isso faz com que o segmento de direitos expandidos, que está em rápido crescimento, seja tão importante para a indústria. Ele não apenas cumpre o papel crucial de monetizar o fandom, mas também está se tornando rapidamente uma proteção contra o crescimento lento do streaming e a instabilidade do setor físico”, afirmou Mark Mulligan, diretor-gerente e analista sênior de música da MIDiA Research.
Nesse cenário, os direitos expandidos – que incluem receitas com merchandising, patrocínios, branding e outras fontes além da música em si – ganharam destaque. Em 2024, esse segmento cresceu 17%, atingindo US$ 4,1 bilhões e representando 11,3% das receitas totais.
Selos independentes ampliam participação no mercado
Pelo terceiro ano consecutivo, as gravadoras independentes aumentaram sua participação no mercado, com receitas crescendo 8,2% para US$ 10,7 bilhões. Isso elevou sua fatia de mercado de 29,2% em 2023 para 29,7% em 2024. No streaming, as independentes tiveram um desempenho ainda mais forte, com crescimento de 8,4% nas receitas, superando os 5,4% das majors.
No entanto, as vendas físicas continuam sendo um desafio para as independentes, com queda de 6,4% nas receitas, em comparação com uma redução de 3,6% para as grandes gravadoras.
Artistas independentes e o impacto dos novos modelos de pagamento

O segmento de artistas independentes, que distribuem suas músicas por meio de plataformas como CD Baby, DistroKid e TuneCore, registrou receitas de US$ 2 bilhões em 2024, um crescimento de 4,7% em relação ao ano anterior. No entanto, o número de artistas nesse segmento cresceu mais de três vezes e meia mais rápido que as receitas, chegando a 8,2 milhões.
Mulligan alertou que medidas como os limites mínimos de streams para receber pagamentos – adotados por serviços como Spotify e Deezer – estão impactando as receitas dos artistas independentes.
“Um elemento crucial a ser observado é a longa cauda de artistas independentes. Medidas como os limites mínimos de ganhos estão impactando as receitas dos artistas diretos e ajudando as grandes gravadoras a colocar obstáculos na erosão contínua de sua participação no mercado. No entanto, isso não está impedindo o crescimento do número de artistas que lançam músicas e competem por ouvidos.”
Majors: Sony cresce, Universal perde participação
Entre as grandes gravadoras, apenas a Sony Music Group (SMG) aumentou sua participação no mercado em 2024, com crescimento de 10,2% nas receitas, elevando sua fatia para 21,7%. A Universal Music Group (UMG), líder do mercado, viu sua participação cair cerca de um ponto percentual, apesar de ter mantido receitas de US$ 10,5 bilhões.
A SMG foi a major que mais cresceu na primeira metade da década, com aumento acumulado de 73,9% entre 2020 e 2024.
Perspectivas para o futuro
O relatório da MIDiA sugere que o futuro do crescimento da indústria da música dependerá cada vez mais da monetização de fãs por meio de direitos expandidos e de novos modelos de negócios, como planos super-premium no streaming. Enquanto isso, a desaceleração do streaming e a volatilidade do mercado físico continuarão a desafiar os players do setor.
Com a indústria enfrentando um cenário global incerto e disruptivo, a capacidade de se adaptar e inovar será importante para manter o crescimento nos próximos anos.