O samba perdeu um de seus grandes mestres. Morreu no último sábado (14), aos 88 anos, Bira Presidente, nome artístico de Ubirajara Félix do Nascimento. Vítima de complicações decorrentes de um câncer de próstata, o sambista estava internado no Hospital da Unimed Ferj, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. Também enfrentava a doença de Alzheimer.
Figura histórica do samba carioca, Bira Presidente foi um dos fundadores do bloco Cacique de Ramos em 1961 e também um dos criadores do grupo Fundo de Quintal, ao lado de nomes como Ubirany e Sereno. Sua trajetória é diretamente ligada à consolidação do samba de roda moderno, ao lado de artistas que frequentavam o Cacique e contribuíram para a formação de um novo som urbano e popular.
Técnica singular e influência no pandeiro
Além do carisma que marcava sua presença nos palcos e rodas, Bira Presidente é amplamente reconhecido por sua contribuição ao desenvolvimento técnico do pandeiro. Com uma batida característica e uma postura performática, o músico transformou o instrumento em protagonista do samba contemporâneo.
Sua atuação no Fundo de Quintal, grupo que integrou até 2019, foi determinante para esse reconhecimento. Ao longo de décadas, a banda lançou mais de 30 discos e colecionou prêmios, incluindo um Latin Grammy, influenciando diversas gerações de sambistas e músicos populares.
O Cacique de Ramos, bloco carnavalesco transformado em espaço cultural permanente, tornou-se ponto de encontro de sambistas de todas as vertentes. De lá despontaram talentos como Beth Carvalho, Zeca Pagodinho, Jorge Aragão e Almir Guineto, consolidando a casa como berço de inovações no gênero.

Homenagens de artistas e instituições
O anúncio da morte de Bira Presidente mobilizou reações de luto e reconhecimento em todo o país. Em nota conjunta, o Cacique de Ramos e o Fundo de Quintal destacaram:
“Hoje nos despedimos daquele que é o próprio Cacique. Sua atuação foi o ponto de partida de uma linguagem que redefiniu a roda de samba e inspirou gerações”.
Nas redes sociais, artistas como Leci Brandão, Thiaguinho, Belo, Marcelo D2, Ludmilla e outros prestaram tributos ao músico.
Para Leci Brandão, “Bira revolucionou a forma de tocar o samba, criou o Cacique de Ramos e deixou marcas inesquecíveis em nossa cultura”. A sambista e deputada estadual completou: “Sua ausência deixará uma saudade imensa, mas também uma inspiração eterna”.
Thiaguinho lembrou o impacto pessoal do artista em sua carreira.
“Jamais esquecerei quando te vi gravar no nosso álbum ‘Alegrando a Massa’, em 2003, e entendi mais ainda porque sua levada era tão envolvente, diferente e única… Fiquei fascinado ao ver a magia de perto”.
Belo, que considera Bira seu padrinho musical, escreveu:
“Bira não foi apenas um artista — foi um movimento, uma revolução cultural, um símbolo de resistência e ancestralidade”.
Reconhecimento institucional e papel no samba como cultura
O Ministério da Cultura (MinC) também emitiu nota lamentando a perda. Segundo a pasta, Bira “transformou as rodas [de samba] do subúrbio carioca em movimento cultural que ecoou pelo país”. A declaração ressalta seu talento artístico e a importância do músico como agente cultural ativo em sua comunidade.
Presença constante nas quadras de escola de samba do Rio, Bira ocupava o posto de presidente de honra vitalício do Cacique de Ramos. Mesmo afastado dos palcos nos últimos anos por razões de saúde, continuava sendo uma figura simbólica de respeito e afeto dentro da cena musical carioca.
Um legado de continuidade familiar
Bira Presidente deixa as filhas Karla Marcelly e Christian Kelly, que hoje ocupam cargos de vice-presidente e diretora-geral do Cacique de Ramos, respectivamente. Também deixa os netos Yan e Brian, e a bisneta Lua. A continuidade da família no comando do Cacique aponta para uma preservação ativa do legado construído por ele ao longo de seis décadas.
Seu falecimento marca o fim de um ciclo, mas também acende o reconhecimento coletivo de que sua obra segue viva. As homenagens, os depoimentos emocionados e o impacto na música brasileira evidenciam que a presença de Bira segue em cada batida de pandeiro, em cada roda de samba e nos caminhos culturais que ele ajudou a abrir.
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