Startup Klay Vision fecha acordos de licenciamento de IA com Sony, Warner e Universal

Klay avança no mercado de IA musical ao firmar acordos com Sony, Warner e Universal, somando ao debate sobre uso licenciado de catálogos.
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Nathália Pandeló
Startup Kay Vision anuncia acordo com gravadoras major para IA na música
Startup Kay Vision anuncia acordo com gravadoras major para IA na música

A chegada da Klay Vision ao centro das negociações com as três maiores empresas da música marca uma virada importante para discutir como modelos de inteligência artificial devem operar no setor. Em um contexto ainda cercado por desconfiança quando o assunto é IA na música, as majors Sony Music Entertainment, Warner Music Group e Universal Music Group anunciaram acordos de licenciamento para o treinamento e uso da tecnologia da startup sediada em Los Angeles.

Esses contratos surgem após meses de pressão da indústria sobre empresas de IA, depois que ferramentas capazes de gerar músicas completas com vozes e composições de artistas reais começaram a inundar os serviços de streaming. Com o avanço desse tipo de aplicação, tornou-se urgente estabelecer regras claras sobre o que pode ou não ser utilizado em modelos treinados com obras protegidas.

O que se sabe sobre a atuação da Klay

A Klay afirma estar desenvolvendo uma plataforma de IA que “reimagina a escuta” por meio de ferramentas imersivas e interativas. O pilar dessa tecnologia é o Large Music Model, descrito como um modelo treinado exclusivamente com música licenciada. 

A empresa trabalhou por mais de um ano com equipes das gravadoras para construir um framework de licenciamento que atendesse às exigências de uso ético, uma demanda que cresceu à medida que modelos sem autorização passaram a gerar conteúdo derivado de artistas reais.

Esse movimento também dá sequência a um período marcado por litígios. Em 2024 e 2025, Universal, Sony e Warner moveram processos contra plataformas de geração automática de músicas, como Suno e Udio, alegando o uso de obras comerciais sem autorização. Agora, com o avanço das negociações, esses conflitos começam a ser encerrados e transformados em acordos comerciais. 

A Klay diz que pretende expandir o modelo para envolver selos independentes, artistas e editoras na mesma estrutura. A ideia é criar uma base que possa ser adotada em larga escala para orientar novos produtos, desde experiências interativas até ferramentas de criação musical.

As declarações das majors e o posicionamento da Klay

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Carletta Higginson, executiva da Warner Music Group, destacou a relevância do acordo ao afirmar:

“Nossa meta é sempre apoiar e elevar a criatividade dos nossos artistas e compositores, enquanto protegemos intensamente seus direitos e obras. Nós valorizamos o trabalho da equipe da KLAY ao avançar essa tecnologia e conduzir esses acordos importantes.”

Pelo lado do Universal Music Group, o vice-presidente executivo Michael Nash reforçou a continuidade da parceria iniciada anteriormente ao dizer:

“Nós estamos muito satisfeitos por termos concluído uma licença comercial com a KLAY Vision, dando sequência ao nosso acordo de framework de colaboração estratégica, o primeiro do setor, anunciado um ano atrás. O papel de apoio que desempenhamos com a equipe de gestão capaz e diversificada de Ary, Thomas, Björn e Brian no desenvolvimento do produto e do modelo de negócios deles estende nosso compromisso de longa data com inovação empreendedora no ecossistema digital da música. Nós estamos empolgados com a visão transformadora deles e aplaudimos o compromisso deles com a eticidade na música de IA generativa, que tem sido um fundamento essencial da nossa parceria com eles desde o início da jornada deles.”

Dennis Kooker, da Sony Music Entertainment, declarou: 

“Nós estamos satisfeitos em colaborar com a Klay Vision para desenvolver novos produtos de IA generativa. Queremos trabalhar com empresas que entendem que licenças adequadas são necessárias para criar experiências musicais com IA.”

O CEO da Klay, Ary Attie, comentou a filosofia da empresa: 

“A tecnologia é moldada pelas pessoas por trás dela e pelas pessoas que a utilizam. Na KLAY, desde o início, nós nos propusemos a conquistar a confiança dos artistas e compositores cujo trabalho torna tudo isso possível. Nós continuaremos a operar com esses valores, reunindo uma comunidade crescente para reimaginar como a música pode ser compartilhada, aproveitada e valorizada. Nossa meta é simples: ajudar as pessoas a experimentar mais da música que elas amam, de maneiras que nunca foram possíveis antes, enquanto ajudamos a criar novo valor para artistas e compositores. A música é humana em sua essência. O futuro dela também precisa ser.”

O impacto no mercado e a pressão por modelos éticos

A adoção de um modelo de licenciamento formal coloca a Klay em um caminho distinto de startups que enfrentaram ações judiciais por violação de direitos autorais. Esse contraste ajuda a explicar o interesse das majors em testar novas formas de interação entre IA e catálogo musical, principalmente em um momento em que bandas, artistas e vozes geradas artificialmente começam a atingir milhões de streams.

Para as empresas, os acordos também indicam um movimento de se preparar para um futuro em que experiências musicais interativas farão parte da rotina dos ouvintes. A própria Klay defende que sua tecnologia permitirá “formas nunca possíveis antes” de consumir música, sempre alinhadas à remuneração adequada dos criadores originais.

A reação do mercado financeiro, no entanto, mostra que o assunto ainda gera apreensão. Após o anúncio, ações de Sony, Warner e Universal registraram queda, reflexo das incertezas sobre como a IA pode afetar modelos de receita já consolidados. Esse comportamento mostra que, apesar dos acordos, o caminho de integração entre IA e música ainda é experimental e cheio de disputas.

Novos modelos de criação e monetização

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Crédito: Freepik

A negociação abre portas para que artistas autorizem remixes, covers e criações derivadas por meio de ferramentas de IA licenciadas. No caso da Udio, por exemplo, acordos recentes com Universal e Warner apontam para novos produtos voltados para 2026, capazes de permitir que usuários criem versões autorizadas de músicas conhecidas ou usem vozes e composições de artistas selecionados, mediante pagamento e crédito adequado.

Esse tipo de modelo tende a se integrar ao modelo que a Klay desenvolve, com potencial para envolver desde catálogos independentes até grandes catálogos globais. Para artistas e selos, a expectativa é que novas fontes de receita possam surgir, desde que acompanhadas de transparência sobre o treinamento dos modelos, pagamentos e autorizações.

À medida que mais empresas estruturam parcerias que exigem licenciamento completo, o setor começa a se afastar de práticas de coleta indiscriminada de dados e se aproxima de um ecossistema regulado, ainda que em construção.

Os acordos com a Klay são parte de um esforço maior para estabelecer uma política clara sobre IA, envolvendo direitos autorais, imagem, voz e remuneração. O futuro desse movimento dependerá tanto da adesão de mais artistas e editoras quanto da capacidade das plataformas de criar experiências que interessem ao público sem abrir mão da segurança jurídica. Por ora, o passo dado por Klay e as gravadoras marca mais um capítulo de uma negociação ainda em curso, mas que já aponta para o tipo de estrutura que o mercado exigirá nos próximos anos.

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