As vendas de álbuns físicos de K-pop caíram em 2024 pela primeira vez desde 2014, mas o gênero continua expandindo seu alcance internacionalmente. Embora o volume total de vendas tenha ficado abaixo dos números de 2023, o desempenho do mercado global aponta para um cenário de transição, e não de crise.
De acordo com o Circle Chart, da Korea Music Content Association, foram vendidos 98,4 milhões de álbuns de K-pop no mundo em 2024, uma redução de 17,4% em relação ao ano anterior, quando o total chegou a 119,1 milhões. Esse recuo interrompe um ciclo de crescimento contínuo que vinha desde o início da década passada. A maior parte dessa queda veio do mercado sul-coreano, onde as vendas caíram de 102,99 milhões para 81,95 milhões de cópias.
Expansão internacional mantém o ritmo
Enquanto as vendas domésticas diminuíram, a distribuição global de álbuns físicos de K-pop cresceu. As exportações aumentaram 2,1%, alcançando 16,43 milhões de unidades, o que representou 16,7% do total vendido.
O mercado chinês se destacou com um aumento de 76,4% nas importações, mesmo com as restrições impostas por Pequim a produtos de cultura pop sul-coreana. Por outro lado, o Japão, historicamente um dos maiores consumidores de K-pop, registrou uma queda de 24,7% na demanda.
Nos Estados Unidos, o K-pop segue consolidado como um dos segmentos de maior crescimento dentro do mercado fonográfico, com vendas de álbuns físicos totalizando US$ 60,3 milhões. Essa demanda internacional tem compensado parte da desaceleração nas vendas na Coreia do Sul e reforçado a estratégia das gravadoras de expandir seus lançamentos para o público global.
Impacto no setor e mudanças na indústria
![aespa foi um dos grupos de k-pop que mais venderam em 2024 (Crédito: Divulgação)](https://mundodamusicamm.com.br/wp-content/uploads/2025/02/aespa-1024x770.jpg)
A queda nas vendas refletiu no desempenho financeiro das principais empresas do setor. HYBE, SM Entertainment, JYP Entertainment e YG Entertainment registraram perdas no valor de mercado ao longo do ano, afetadas não apenas pela diminuição das vendas de álbuns físicos, mas também por mudanças na dinâmica de consumo de música.
Em setembro de 2024, as ações da HYBE caíram 29%, enquanto SM e YG perderam 36% e 37%, respectivamente. A JYP registrou a maior queda, com 56% de desvalorização no período.
Especialistas atribuem essa redução a fatores como a diminuição de campanhas de vendas agressivas, que envolviam competições de primeira semana e eventos presenciais ilimitados. Além disso, a realização das Olimpíadas de Paris em 2024 pode ter reduzido o espaço para o K-pop nos momentos de maior exposição na mídia global. A crescente digitalização do consumo musical, impulsionada por plataformas de streaming, também tem alterado os hábitos de fãs e reduzido a necessidade de compras físicas.
Apesar disso, os artistas de K-pop continuam dominando as paradas de vendas. O grupo SEVENTEEN liderou o ranking de álbuns mais vendidos em 2024 com “Spill The Feels”, que alcançou 3,18 milhões de cópias, seguido pelo compilado “17 is Right Here”, com 3,15 milhões.
Stray Kids, Enhypen, NCT Dream e Tomorrow X Together também figuraram entre os mais vendidos do ano. O girl group IVE entrou no ranking anual pela primeira vez, com o EP “IVE Switch”, na nona posição, enquanto aespa apareceu em 11º lugar.
Expectativas para 2025 e novos lançamentos
Para os próximos meses, o mercado aposta em grandes retornos para reacender o interesse do público e recuperar parte da queda nas vendas. BTS e BLACKPINK são os nomes mais aguardados – inclusive, com a possibilidade do grupo feminino vir ao Brasil pela primeira vez este ano como parte de sua nova turnê mundial. Já no caso do BTS, Jin e J-Hope já concluíram o serviço militar obrigatório, e os demais integrantes do BTS devem voltar às atividades até junho.
Além do retorno de grupos consagrados, novas apostas estão surgindo. Entre os lançamentos esperados para 2025 estão os grupos KickFlip, Hearts2Hearts e o britânico Dear Alice, que tenta trazer um formato ocidental para o conceito tradicional do K-pop. O desafio será não apenas cativar fãs dedicados, mas também atrair um público mais amplo, que consuma o gênero de forma casual.
O futuro do K-pop no cenário global
O K-pop já passou por outras transições ao longo das últimas décadas e, apesar da queda nas vendas físicas, a força do gênero continua evidente. O impacto global do fenômeno pode ser visto no aumento da relevância de artistas sul-coreanos nas principais premiações internacionais e na presença de grandes turnês ao redor do mundo.
Para os especialistas, o futuro do setor dependerá da capacidade das gravadoras de diversificar suas estratégias e encontrar novas formas de engajamento. O modelo baseado em vendas de álbuns físicos tem mostrado sinais de saturação, mas o crescimento no streaming, a comercialização de merchandise oficial e o sucesso de shows ao vivo indicam que o K-pop segue forte.