A Fundación MAPFRE anunciou que o maestro e pianista João Carlos Martins será o vencedor do “Prêmio por Toda uma Vida Profissional José Manuel Martínez Martínez”, distinção entregue a personalidades que dedicaram sua trajetória ao bem-estar social. É a primeira vez que um brasileiro conquista o reconhecimento, que será entregue pela Rainha Sofia em cerimônia marcada para 8 de outubro, no Casino de Madri, na Espanha. Além do título, o maestro receberá também 40 mil euros.
“O Prêmio por Toda uma Vida Profissional José Manuel Martínez Martínez é um reconhecimento não apenas à genialidade musical de João Carlos Martins, mas também à sua dedicação em usar a música como ferramenta de impacto social. Para nós, é motivo de orgulho celebrar um brasileiro cuja vida inspira coragem, resiliência e solidariedade, valores que refletem a missão da Fundación MAPFRE”, resume Felipe Nascimento, CEO da MAPFRE Brasil e representante da Fundación MAPFRE no país.
Uma carreira internacional
Considerado um dos maiores intérpretes de Bach, Martins gravou a integral das obras para teclado do compositor alemão, reunidas em 21 CDs. A conquista lhe rendeu comparações internacionais a nomes como Glenn Gould e projetou sua carreira para o cenário global.
Aos 20 anos, o músico estreou no Carnegie Hall, em Nova York, com patrocínio de Eleanor Roosevelt, um marco que impulsionou sua trajetória internacional. Desde então, se apresentou com algumas das principais orquestras do mundo e em salas de concerto como o Lincoln Center, também em Nova York, e a English Chamber Orchestra, em Londres.
Superação e reinvenção
A história do maestro é marcada por uma série de obstáculos. Martins passou por mais de 30 cirurgias ao longo da vida, sofreu lesões e enfrentou doenças neurológicas que o afastaram do piano em diferentes momentos. Aos 25 anos, uma lesão no nervo do braço direito comprometeu parte de sua mobilidade. Em seguida, foi diagnosticado com distonia do músico, condição que o levou a interromper sua carreira como pianista.
Em períodos de afastamento, chegou a vender seus pianos e trabalhar como treinador de boxe. Mas, com persistência, desenvolveu técnicas próprias para continuar tocando, mesmo com limitações. Mais tarde, reinventou-se como maestro, criando métodos de regência sem batuta e memorizando mais de 150 partituras.
Em 2019, após anos afastado do piano por conta de sucessivas lesões e de um assalto que lhe causou danos cerebrais, João Carlos Martins voltou ao instrumento graças a uma inovação desenvolvida especialmente para ele. O maestro havia relatado que seus dedos não conseguiam retornar às teclas após pressioná-las, o que o impedia de executar peças completas. Sensibilizado após assistir a um de seus concertos, o designer Ubiratan Bizarro Costa decidiu buscar uma solução prática e acessível.
Assim nasceram suas luvas biônicas, projetadas a partir de tecnologias inspiradas na Fórmula 1. O equipamento utiliza lâminas leves, acionadas por molas, que puxam os dedos de volta à posição inicial, compensando a limitação motora e possibilitando que Martins utilize novamente os dez dedos no teclado. Embora a velocidade de execução não seja a mesma de sua juventude, a invenção lhe devolveu a capacidade de tocar piano de forma integral e se tornou um marco de superação e inovação tecnológica aplicada à arte.
Reconhecimentos ao longo da vida e compromisso com a inclusão social
Entre as condecorações já recebidas por João Carlos Martins estão a Ordem do Mérito Cultural do Brasil, em 1998 e 2005, e a Ordem do Infante D. Henrique, em Portugal. O jornal The New York Times o apelidou de “o indomável”, em referência à sua resiliência artística e pessoal. Em 2025, ao completar 85 anos, Martins retornou ao Carnegie Hall para sua 30ª apresentação em Nova York, seis décadas após sua estreia no palco.
Além da carreira internacional, o maestro também se dedicou a projetos sociais voltados para a democratização da música. Em 2006, fundou a Fundação Bachiana, que promove a educação musical em comunidades vulneráveis e apoia jovens talentos. A instituição mantém a Bachiana Filarmônica SESI-SP, orquestra que combina músicos profissionais e aprendizes, e leva concertos a diferentes regiões do Brasil.
Outras iniciativas incluem o coro Somos Iguais, formado por jovens refugiados, e apresentações em espaços como albergues de Roraima, onde compartilhou sua trajetória de superação com migrantes venezuelanos. Atualmente, também orienta o projeto Orquestrando, que reúne mais de 750 grupos musicais no país.
“É uma honra para a Fundación MAPFRE reconhecer a trajetória do maestro João Carlos Martins, exemplo de superação e compromisso social. Sua história mostra como a arte pode transformar vidas e levar esperança a quem mais precisa, em sintonia com o propósito da nossa instituição de promover inclusão, cultura e bem-estar em todo o mundo”, comemora Fátima Lima, representante da Fundación MAPFRE no Brasil.
Ministério da Cultura fortalece laços em Madri

A viagem de Márcio Tavares, secretário-executivo do Ministério da Cultura, coincidiu com o anúncio da homenagem a João Carlos Martins e reforçou a presença brasileira em Madri. Os encontros realizados na capital espanhola buscaram aproximar o Brasil de instituições culturais de referência e abrir novos caminhos para cooperação e intercâmbio.
No Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Tavares reuniu-se com Carlos Urroz, diretor do Gabinete Institucional, para discutir a participação de um conferencista brasileiro em um ciclo de debates previsto para 2026 e a possibilidade de uma exposição dedicada ao artista Arthur Bispo do Rosário. O museu já mantém histórico de parcerias com o MAR e o MAM, o que facilita futuras colaborações.
O secretário também se encontrou com Adrián Sepiurca, diretor artístico do programa 21 Distritos, iniciativa da Prefeitura de Madri que leva atividades culturais para bairros fora do circuito central. A proposta chamou atenção por dialogar com diretrizes da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), que incentiva municípios a criarem projetos descentralizados de democratização cultural. A reunião abriu espaço para futuros intercâmbios e para a circulação de artistas brasileiros em diferentes territórios da cidade.
Fundación MAPFRE e Instituto Olga Kos promovem projeto de inclusão musical

Além da homenagem a Martins, a Fundación MAPFRE reforça sua atuação no Brasil com o lançamento do projeto “Música – Notas & Sonetos”, em parceria com o Instituto Olga Kos. A iniciativa busca utilizar a música como ferramenta de desenvolvimento e inclusão social para pessoas com e sem deficiência, além de indivíduos em situação de vulnerabilidade.
Com execução na Galeria Olido, em São Paulo, o projeto reúne 60 participantes em oficinas semanais de canto, instrumentos e criação coletiva, conduzidas por instrutores especializados. Durante oito meses, as atividades irão incentivar a expressão artística e a convivência, resultando em músicas e sonetos apresentados em uma mostra pública ao final do ciclo.
A consagração internacional de João Carlos Martins, a agenda do Ministério da Cultura em Madri e a parceria da Fundación MAPFRE com o Instituto Olga Kos revelam diferentes dimensões da presença cultural brasileira para além das fronteiras do país. Entre reconhecimento, cooperação e inclusão, todos apontam para a mesma direção: o fortalecimento da música e da arte como ferramentas de transformação social e diplomacia cultural.
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