Fraude no streaming: menos de 1% das reproduções no Apple Music são manipuladas

Apesar de crescimento nos casos de fraude no streaming, dados da Apple Music revelam que apenas 0,3% das reproduções na plataforma são manipuladas.
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Nathália Pandeló
Apple Music e seus charts de 100 músicas mais tocadas - dados apontam menos de 1% de fraude no streaming
Crédito: Reprodução

A fraude no streaming continua sendo um dos maiores desafios da indústria da música, afetando a distribuição de royalties e a credibilidade de rankings. Durante a conferência Music Ally Connect, realizada em Londres, Bryce McLaughlin, chefe global de parcerias musicais do Apple Music, apresentou dados que colocam a plataforma em posição diferenciada no mercado.

De acordo com McLaughlin, cerca de 0,3% dos streams na plataforma vêm de fontes suspeitas em nível global. Esse índice contrasta com outros cenários alarmantes da indústria. Segundo McLaughlin:

“Há o caso de uma gravadora representar 90% dos streams em algumas regiões, e 98% desses streams eram manipulados. Então, mesmo que isso seja um problema relativamente pequeno para o nosso serviço, ainda assim é muito importante.”

Números que contrastam com a média da indústria

Enquanto o Apple Music reporta uma média de manipulação de 0,3%, o mercado musical como um todo enfrenta números bem mais expressivos. Um exemplo disso é o caso recente de um réu nos Estados Unidos acusado de gerar mais de US$ 10 milhões em royalties com músicas criadas por inteligência artificial e reproduzidas artificialmente. 

Embora o Spotify tenha afirmado que apenas US$ 60 mil desse valor foram pagos pela sua plataforma, os dados sugerem que outras empresas tiveram maior dificuldade em conter a fraude.

O problema persiste. Prova disso é que, no Brasil, no final de 2024, aconteceu a primeira prisão por fraude no streaming. McLaughlin destacou que o Apple Music conseguiu manter os índices baixos devido ao trabalho contínuo para identificar e excluir reproduções manipuladas. 

“Fazemos três coisas. Primeiro, excluímos streams manipulados em tempo quase real. Segundo, fornecemos relatórios claros para provedores de conteúdo, empresas de rankings oficiais, bem como para artistas e suas equipes. E terceiro, removemos conteúdo quando apropriado.”

Porém, ele acrescentou:

“É importante saber que temos um processo rigoroso em vigor e só removemos conteúdo após várias revisões de nossa equipe de moderação. Só retiramos conteúdo quando absolutamente necessário, como quando o conteúdo não tem nenhuma razão legítima para estar disponível no serviço além de manipulação. Identificar e remover manipulação em tempo real não é fácil de fazer, mas é incrivelmente importante para abordar as duas motivações – ganho financeiro e popularidade percebida – e é algo que acreditamos que todo serviço de música deveria fazer.”

Distribuição como ponto central do controle de fraude no streaming

Um dos focos do Apple Music está na responsabilidade dos distribuidores. Segundo Bryce McLaughlin, pequenas gravadoras que lidam diretamente com artistas têm maior controle sobre o conteúdo enviado, enquanto grandes distribuidoras enfrentam desafios ao gerenciar milhões de uploads.

“Se os streams manipulados nunca forem pagos ou incluídos nos rankings, os agentes mal-intencionados simplesmente perdem a motivação para manipular. Os serviços de música e os provedores de conteúdo precisam desempenhar um papel ativo, e não pode ser apenas alguns provedores de conteúdo. É necessário que todos os provedores de conteúdo estejam envolvidos.”

E acrescentou:

“Isso acontece porque os mal-intencionados estão constantemente buscando por fraquezas. Se eles distribuem conteúdo através de um provedor de conteúdo e são pegos, eles mudam para outro distribuidor e tentam novamente, e se esse provedor de conteúdo não tiver sistemas em vigor para prevenir a manipulação de streams, ele pode continuar a enviar e manipular conteúdo.”

Penalizações e incentivos para melhorias

Bryce McLaughlin, chefe global de parcerias musicais da Apple Music
Bryce McLaughlin, chefe global de parcerias musicais do Apple Music (Crédito: Divulgação)

Desde 2022, o Apple Music adota um programa de penalizações financeiras para distribuidores que não combatem a fraude no streaming de forma eficiente. Os ajustes são proporcionais aos ganhos obtidos com streams manipulados, aumentando progressivamente caso a distribuidora não apresente melhorias.

McLaughlin relatou que, após seis meses de implementação, as fraudes caíram 30%, com uma redução adicional de 20% nos meses seguintes. Além disso, mais da metade dos distribuidores com níveis moderados ou altos de fraude demonstraram melhorias no último ano, reforçando a eficácia do programa.

“Quando começamos a nos reunir com nossos parceiros provedores de conteúdo sobre a evolução de nossa abordagem há alguns anos, ficou claro que havia aqueles que estavam engajados no problema e trabalhando para desenvolver soluções eficazes, e havia aqueles que simplesmente não estavam focados em manipulação de streams.”

Combate à fraude e impacto no mercado

Bryce McLaughlin afirmou que a exclusão de reproduções manipuladas é essencial para preservar a integridade dos rankings e dos royalties pagos a artistas. Ele explicou que o Apple Music calcula royalties mensalmente, mas atualiza seus charts com alta frequência, o que exige ferramentas capazes de identificar fraudes rapidamente.

Além disso, a plataforma fornece relatórios diários aos distribuidores, detalhando streams suspeitos e orientando sobre como aprimorar o controle de conteúdo. Essa postura ajuda a construir um mercado mais justo, ao mesmo tempo em que reduz incentivos para práticas fraudulentas.

Desafios e próximos passos

Apesar dos avanços, McLaughlin reconheceu que a fraude no streaming continua sendo um desafio global. Os fraudadores constantemente buscam explorar novas brechas, mudando de distribuidores ou ajustando suas estratégias. Ele destacou que o combate à manipulação exige esforços coordenados entre plataformas, distribuidores e outros agentes do setor.

O Apple Music posiciona seus resultados como um exemplo de como a tecnologia e o monitoramento podem reduzir práticas fraudulentas, embora o problema persista em algumas áreas do mercado. Os próximos passos, segundo McLaughlin, incluem reforçar as colaborações com distribuidores e expandir o uso de ferramentas preventivas, visando proteger tanto artistas quanto consumidores.

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