A banda norte-americana Five Finger Death Punch, indicada ao Grammy, começou a lançar versões regravadas de músicas de seu catálogo após a venda de parte das gravações originais. Entre 2007 e 2018, o grupo gravou sete álbuns pelo selo Prospect Park, que recentemente vendeu sua participação de 50% nos direitos para a Spirit Music sem informar os integrantes. O episódio reforça uma prática cada vez mais comum no mercado internacional: regravar obras antigas para recuperar o controle das canções e, de quebra, aumentar a fatia das receitas geradas por elas.
O caso remete diretamente ao movimento iniciado por Taylor Swift em 2019, quando a artista decidiu refazer seus seis primeiros discos após a venda de suas gravações originais pela Big Machine Records. Desde então, outros nomes como Def Leppard, Bryan Adams, JoJo, Wheatus e Phantom Planet também adotaram a estratégia, cada um com motivações e resultados diferentes.
Por que artistas regravaram seus sucessos
As regravações têm ganhado força por três fatores principais: a venda de catálogos para fundos de investimento, o aumento das oportunidades de licenciamento para audiovisual e a possibilidade de melhorar a divisão de receitas no streaming. Ao criar novas gravações originais, o artista passa a controlar diretamente onde e como essas versões serão usadas, além de receber percentuais maiores em licenciamento para filmes, séries, comerciais e jogos.
No caso do Five Finger Death Punch, as novas versões estão sendo reunidas em compilações comemorativas de 20 anos de carreira. As faixas trazem a indicação “2025 Version” no título, diferenciando-as das gravações originais. Em comunicado, o grupo afirmou que a venda sem consulta prévia é comum na indústria atual, especialmente com as já recorrentes aquisições massivas de catálogos por investidores que muitas vezes não têm ligação com a arte ou os artistas.
O fato de o Five Finger Death Punch, que atualmente soma 6,8 milhões de ouvintes mensais no Spotify, adotar essa estratégia mostra que a regravação de catálogo não é exclusiva de artistas no auge da fama global, mas também viável para nomes consolidados com público fiel e engajado.
O que se ganha e o que se perde regravando o catálogo

A vantagem mais imediata para quem regrava é a autonomia sobre a nova gravação. Isso significa poder autorizar sincronizações de forma independente, renegociar licenças e receber diretamente pelos usos. O caso de Taylor Swift ilustra o potencial financeiro: as versões “Taylor’s Version” de álbuns como “Red” e “Fearless” superaram em streams as originais. Em 2025, a artista revelou que havia comprado de volta o direito de suas masters, encerrando um ciclo que contribuiu para a compreensão de um público mais amplo quanto à detenção de direitos musicais.
Por outro lado, o custo e o tempo envolvidos são consideráveis. Reproduzir fielmente a sonoridade e o clima de gravações antigas exige horas de estúdio, equipamentos específicos e, muitas vezes, a reunião de integrantes e produtores originais. Há ainda o risco de resistência do público, que pode preferir a versão com a qual criou laços afetivos. Para bandas de grande porte, o investimento é alto, mas potencialmente compensador. Para artistas independentes, é preciso avaliar se o retorno cobre o gasto.
Possibilidades no mercado brasileiro
No Brasil, ainda não há registros de artistas que tenham regravado álbuns ou faixas inteiras exclusivamente para retomar controle de gravações originais. A prática é mais associada a celebrações de carreira, álbuns ao vivo, acústicos ou versões atualizadas de sucessos.
A legislação brasileira prevê cláusulas contratuais semelhantes às de outros países, com prazos que podem chegar a cinco anos após a entrega da música ou três anos após o término do contrato. Isso significa que, respeitadas essas restrições e havendo viabilidade financeira, os músicos brasileiros poderiam adotar estratégia parecida.
Com a popularização de estúdios caseiros e o acesso facilitado a plataformas de distribuição digital, parte do custo de gravação pode ser reduzida. Ainda assim, especialistas recomendam que a decisão seja estratégica, considerando o valor comercial da obra, a força do público e o potencial de licenciamento. Um fator importante a se considerar é que a renda proveniente das plataformas de streaming ainda é pequena para a maioria dos 12 milhões de artistas já presentes no Spotify, por exemplo.
O movimento do Five Finger Death Punch reforça que regravar pode ser uma ferramenta para transformar contratos antigos em novas oportunidades. Embora no Brasil essa prática seja rara, o avanço das tecnologias de produção e distribuição pode abrir caminho para que artistas nacionais também explorem essa possibilidade no futuro.
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