Não é novidade que os festivais independentes se consolidaram como espaços de descoberta musical e de circulação de artistas que ainda não ocupam o topo das paradas. Eles também se tornaram pontos de encontro entre fãs atentos às novidades e profissionais que enxergam nesses palcos um terreno fértil para novas carreiras. O Festival Sangue Novo, realizado em Salvador, leva essa proposta adiante ao apostar na renovação como princípio.
Em 2025, o evento chega à sua sétima edição com a força de um festival de médio porte que combina curadoria consistente, ambiente de convivência entre público e artistas e a segurança que muitos frequentadores buscam nesse tipo de experiência. Mais do que a apresentação de shows, o Sangue Novo se consolidou como espaço de circulação de tendências e de afirmação de uma cena que, nos últimos anos, vem encontrando no Nordeste um de seus centros mais ativos.
Um palco para novas trajetórias
Ao longo de suas edições, o festival recebeu mais de 75 artistas que ajudaram a desenhar o atual mapa da música brasileira. Linn da Quebrada, Rachel Reis, Jaloo, Majur, Marina Sena, Tássia Reis, Flora Matos e Bala Desejo são alguns dos nomes que já passaram pelo palco em diferentes momentos de suas carreiras.
A trajetória de Duda Beat ilustra esse processo. A artista pernambucana se apresentou pela primeira vez em Salvador no Sangue Novo, em um momento inicial de sua carreira. Sete anos depois, retorna ao evento com o EP “Esse delírio Vol. 1”, que já ultrapassa 1,7 milhão de ouvintes apenas no Spotify, mostrando como o festival se conecta a etapas estratégicas da vida de um artista.
Curadoria e representatividade

A curadoria é assinada por Fernanda Bezerra, que mantém o foco em diversidade como eixo central do evento. Cerca de 80% da programação é formada por artistas LGBTQIAPN+, mulheres e pessoas pretas e pardas. Além disso, 40% da line-up tem origem na cena baiana, enquanto 60% vem de outras regiões do país, o que amplia o intercâmbio entre territórios e linguagens.
“Eu sempre digo que fortalecer pautas identitárias é um posicionamento político e artístico. A curadoria, em geral, parte da ideia de que representatividade importa. Nosso público (do Sangue Novo) é formado por pessoas que muitas vezes não se viam nos grandes palcos, e agora estão não só na plateia, mas também no palco, nas equipes e narrativas. Isso transforma a experiência, tornando-a mais diversa e acolhedora. ‘Quais vozes precisam ser ouvidas?’ ou ‘quem está fazendo movimentos interessantes fora dos grandes centros?’ Essas são algumas perguntas que sempre fazemos enquanto festival”, afirma Fernanda.
O público e o mercado
O interesse do público acompanhou a consolidação do festival. Em 2025, os ingressos de meia-entrada esgotaram antes da divulgação completa da line-up, sinalizando confiança na identidade construída ao longo dos anos. Essa adesão se conecta a um dado maior: segundo a Luminate, 74% das streams on-demand no Brasil são de músicas nacionais, reflexo de um consumo que valoriza artistas locais e impulsiona eventos que dão visibilidade a novas vozes.
Para Fernanda, o vínculo não está apenas na entrega de bons shows.
“A troca positiva com baianos e turistas de todo Brasil criou ambientes seguros para experimentação e prospecção de vozes emergentes, retomando a essência do que eram os festivais nacionais”, observa.
Sétima edição

O Sangue Novo de 2025 acontece nos dias 18 e 19 de outubro, no Trapiche Barnabé, em Salvador. Com dois palcos (Beats e TIM) e capacidade para cerca de 3 mil pessoas por dia, o festival já confirmou apresentações de Duda Beat, Linn da Quebrada, Nação Zumbi, Don L, Catto, Ivyson e 5 a Seco. Outros nomes ainda devem ser anunciados até a data.
O evento conta com patrocínio da TIM pelo terceiro ano consecutivo e apoio do Governo da Bahia, por meio da Fazcultura, Secretaria de Cultura e Secretaria da Fazenda. A programação prevê também ativações no espaço, como reforço da rede 5G e áreas de descanso para o público.
Um retrato da cena contemporânea
O Brasil ocupa hoje a quarta posição global em streaming, com 195 bilhões de faixas reproduzidas em 2025, mas a visibilidade de artistas emergentes ainda depende de iniciativas que conectem público e novas propostas musicais. É nesse contexto que o Festival Sangue Novo se destaca por articular inovação estética e diversidade de forma consistente, abrindo espaço para vozes que desafiam padrões de mercado.
“Para mim, o ‘Sangue Novo’ é algo que carrega uma urgência, uma voz própria e a perspectiva que amplia o entendimento do que é a ‘música brasileira’ hoje. Buscamos artistas que verdadeiramente estejam criando elos constantes entre cena e território, tradição e inovação”, conclui Fernanda.
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