Fabiane Costa: a trajetória profissional marcada pelo olhar técnico atrelado com a criatividade

Com uma carreira que atravessa o Rock in Rio, The Town e o Festival de Verão de Salvador, Fabiane Costa fala sobre sua atuação nos bastidores da música e os desafios de produzir em grande escala.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Fabiane Costa
Fabiane Costa (Crédito: Divulgação)

Produtora artística com mais de duas décadas de atuação, Fabiane Costa construiu uma trajetória marcada pela presença em alguns dos maiores eventos do país, como o Rock in Rio, o The Town e o Festival de Verão de Salvador. Conhecida por unir técnica e sensibilidade nos bastidores, ela se tornou uma referência em coordenação de grandes produções, trabalhando lado a lado com artistas, marcas e equipes que movimentam a música ao vivo no Brasil.

Antes de chegar aos megafestivais, no entanto, Fabiane iniciou a carreira no jornalismo e logo migrou para a assessoria de imprensa, onde começou a se aproximar dos bastidores da cultura. Foi nesse ambiente que percebeu seu interesse pela produção e decidiu transformar o que era uma parte do trabalho em profissão. 

“Eu me formei em jornalismo, e das redações de jornais migrei para assessoria de imprensa, e ali me percebi produtora de eventos e shows. Eu comecei a produzir eventos informalmente, como parte do trabalho de assessoria de imprensa, e quando a oportunidade de fazer profissionalmente apareceu pra mim e eu me agarrei a ela, porque eu já tinha me encontrado numa função que me fazia muito feliz.”

A partir daí, a rotina de shows e turnês pelo país ajudou a formar sua experiência prática e seu olhar sobre o setor. 

“Eu comecei como produtora de shows, rodava o Brasil em turnês, e um dos meus maiores aprendizados foi perceber as diferenças das cidades, das culturas, e adaptar o meu produto/artista e também a minha maneira de administrar o negócio a essas diferenças.” 

Com o tempo, esse aprendizado se transformou em método de trabalho e em uma forma de enxergar a música como um ecossistema que só funciona quando todos os elos estão conectados.

Caminho entre a técnica e a criação

A produção artística sempre foi, para Fabiane Costa, um espaço de resolução e invenção. Com o passar dos anos, ela percebeu que o trabalho não se resumia a garantir que tudo acontecesse dentro do previsto, mas também a propor novas formas de fazer. O olhar criativo passou a caminhar junto com o domínio técnico, tornando-se parte essencial das decisões que dão forma a um projeto.

“O trabalho que eu faço se torna criativo quando o foco passa a ser a resolução dos empasses de produção de uma maneira inovadora. Ir além das soluções óbvias e buscar alternativas não convencionais para superar desafios. Quando eu proponho novos caminhos e novas visões, eu saio do papel exclusivamente técnico, e vou para o criativo. A parceria da produção artística com a equipe criativa é fundamental, porque novas ideias precisam de conhecimento técnico para se desenvolver. O conhecimento técnico se torna uma ferramenta para a criatividade. Então tudo anda junto para um resultado de sucesso.”

A combinação dessas duas dimensões é o que, segundo Fabiane, sustenta a entrega de grandes eventos. A experiência acumulada em turnês, shows corporativos e festivais permitiu que ela desenvolvesse uma escuta atenta às demandas de cada projeto e criasse soluções adaptadas ao contexto. Essa integração entre criatividade e planejamento é o que faz da sua trajetória um exemplo de como a produção pode ser, ao mesmo tempo, execução e criação.

Dos bastidores aos grandes festivais

Fabiane Costa no lançamento do Espaço Favela, em 2019 (Crédito: Manu Mendes)
Fabiane Costa no lançamento do Espaço Favela, em 2019 (Crédito: Manu Mendes)

A entrada de Fabiane Costa no universo dos grandes eventos aconteceu de forma natural, impulsionada pela experiência acumulada e pela capacidade de entender diferentes perspectivas dentro de uma produção. Com o olhar de quem já havia passado por diversas frentes do mercado, ela encontrou nos festivais uma oportunidade de unir tudo o que aprendeu ao longo da carreira.

“Quando entrei na área de eventos, eu já trazia comigo uma bagagem como empresária e produtora de shows, e isso me ajudou a entender os sentimentos de todos os lados, e me deu um olhar mais amplo na hora de criar dinâmicas de trabalho mais assertivas e amorosas. Os festivais de música são eventos incríveis que atraem milhares de pessoas, e têm uma variedade de estilos musicais, o que proporciona ao profissional um olhar mais dinâmico do cenário musical. A quantidade de informação e novidades que um grande evento proporciona me atrai demais.”

Essa vivência se consolidou em projetos que marcaram a cena recente da música brasileira. Desde 2019, Fabiane é coordenadora de produção artística do Espaço Favela no Rock in Rio, um palco que deu visibilidade a artistas das periferias e redefiniu a presença da favela dentro do festival. Em 2025, ela assumiu a mesma função no Palco Quebrada do The Town, jogando mais luz sobre a discussão em torno da representatividade e diversidade musical em um dos maiores eventos do país.

Produção como ponte entre artistas e público

A experiência acumulada por Fabiane Costa em diferentes formatos de evento (de shows corporativos a festivais populares) fez dela uma profissional capaz de transitar com naturalidade entre universos distintos da música ao vivo. Cada projeto, segundo ela, exige um tipo de escuta e de estratégia, seja na montagem da estrutura, na coordenação das equipes ou na relação direta com os artistas.

“Cada formato de contratação pede um perfil de atuação. Eu gosto de atuar em todas as áreas de eventos. Em alguns eventos faço a parte de produção artística, onde cuido da relação direta do artista com o evento. Em outros eu monto toda equipe, e nessa situação eu cuido do 360º das necessidades para realização da parte artística. E em outros eu faço toda a parte de estrutura e artístico. Monto todo o evento, palco, som, luz, cenografia, segurança, limpeza, etc, tudo que é necessário para o evento acontecer e também cuido da contratação dos artistas e das suas necessidades. Estive em muitas posições dentro do business da música, então isso me ajuda na hora do planejamento e realização.”

Nos últimos anos, Fabiane esteve à frente da direção de produção artística do Festival de Verão de Salvador. Desde 2023, quando o festival retornou ao Parque de Exposições da capital baiana, ela integra a equipe responsável por coordenar a maratona de dois dias e mais de 25 atrações distribuídas em dois palcos, com transmissão ao vivo no Multishow e cobertura especial da TV Globo

Desafios, aprendizados e transformação do setor

IZA, Fabiane Costa, Gilberto Gil e Zé Ricardo
IZA, Fabiane Costa, Gilberto Gil e Zé Ricardo (Crédito: Divulgação)

Ao longo da carreira, Fabiane Costa viu o mercado musical se transformar. O que antes era conduzido de forma quase artesanal passou a exigir planejamento e e equipes mais estruturadas. Para ela, o crescimento da indústria da música no Brasil trouxe também a necessidade de reconhecer a importância dos profissionais que fazem os bastidores acontecerem.

“O mercado da música está se profissionalizando cada vez mais, os números de faturamento em constantes aumentos, mostram essa urgência. Somos uma fatia significativa da economia criativa, e o interessante é que somos um país que se destaca por consumir predominantemente a sua música, produzida no Brasil. A música é um dos mais potentes pilares da economia criativa, dividida em diversas frentes, como composição, produção, gravação e distribuição digital, além de eventos, festivais, shows”, explica.

Mas a produtora esclarece: a música não é somente cultura, criadora de memórias e experiências, e sim motor para uma cadeia produtiva que gera empregos, direitos autorais e receita através da venda de tíquetes em festivais e shows. 

“A indústria do entretenimento precisa de profissionais capacitados, formando as equipes que movimentam essa economia. Eu vejo com super bons olhos nos organizarmos legalmente, nos encaramos como uma empresa e suas obrigações.”

A consolidação desse olhar profissional se reflete em momentos emblemáticos da trajetória de Fabiane, como sua participação na criação do Espaço Favela, no Rock in Rio. O projeto se tornou um símbolo de inclusão e representatividade dentro do festival, mostrando como a cultura das quebradas pode ocupar os grandes palcos com protagonismo e potência. Durante a pandemia, ela também assinou a direção de produção da live que reuniu Gilberto Gil e IZA, transmitida pelo Multishow e pelo YouTube, em um dos primeiros grandes projetos musicais realizados em isolamento.

“[O Espaço Favela] era uma grande novidade, um assunto muito pouco tratado de maneira tão ampla naquela época. O meu trabalho no Espaço Favela me fez entender que eu posso contribuir em causas que eu acredito, e que eu considero urgentes, com meu trabalho. E faço meus maiores esforços para que a cultura da favela receba um olhar mais empoderado diante dos consumidores de música. E lá se vão três edições de Espaço Favela, e em cada uma delas eu melhoro como ser humano. Esse ano essa conversa ampliou com o lançamento do Palco Quebrada, no The Town, que eu tive a honra de produzir.”

Novas tecnologias, motivação e legado

A cada novo projeto, Fabiane Costa busca maneiras de atualizar processos e incorporar ferramentas que tornem o trabalho mais ágil e colaborativo. Para ela, a tecnologia trouxe ganhos importantes em tempo, qualidade e comunicação, mas o que faz diferença continua sendo a equipe. Diversidade e troca de experiências são, em sua visão, os fatores que tornam um evento realmente vivo.

“Eu sempre fui uma pessoa muito aberta ao novo, as novidades me estimulam. É super importante estar com o olhar aberto para o aprendizado. As novas tecnologias trazem novas ferramentas, otimizam tempo, agilizam processos, reduzem falhas e, com certeza, garantem melhor qualidade na entrega. A diversidade de artistas e públicos nos exige acompanhar e traduzir também em uma equipe mais representativa e diversa, mais alinhada com o diálogo. Uma equipe com pessoas com diferentes origens, experiências e visões de mundo, gera uma pluralidade de ideias, resultando em soluções mais criativas e inovadoras. Ao manter-se aberto a novas ideias, tecnologias e perspectivas, capacita o profissional a prosperar nesse nosso mundo em constante mudança.”

O desejo de aprender e colaborar segue sendo o principal combustível de Fabiane. Depois de tantos anos nos bastidores, ela continua movida pela curiosidade e pela vontade de ver a música chegar a mais pessoas.

“Eu sou uma profissional que me alimento de superar desafios, adquirir novas habilidades, aprender novas coisas, gosto de me manter em constante evolução. O meu desejo de contribuir positivamente em equipes e projetos, de entender o impacto do meu trabalho, tudo isso me motiva a querer estar em projetos novos. Eu amo o que eu faço, e com o passar dos tempos tenho aproveitado mais o processo todo, me sentindo mais realizada a cada projeto.”

Aos que desejam seguir esse caminho, ela resume o essencial: estudar, criar rede e não desistir. 

“Procure conhecimento. Conheça todo o ecossistema da indústria do entretenimento. Procure cursos profissionalizantes, felizmente já temos disponíveis boas oportunidades. O networking é uma ferramenta importante, então, se agarre a cada oportunidade, seja ela de que tamanho for, e dê o melhor de si. As redes sociais são poderosas para divulgar seu trabalho, use com sabedoria e planejamento. Procure se equipar com computadores e celulares que ajudem a profissionalizar o seu trabalho, invista neles. E seja persistente! Se você se encontrou nessa profissão tão desafiadora, seja dedicado e comprometido. Saber trabalhar em equipe é uma das virtudes mais apreciadas. Aprenda com os erros e celebre sempre as suas vitórias, em pequenos e grandes trabalhos.”

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