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Entrevista: ‘Espero fazer com que essa representatividade abra portas para muitas mulheres’, diz Leila Oliveira, Presidente da WMB

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O começo da carreira profissional de Leila Oliveira foi na  produção de eventos e de vídeos publicitários. Depois, ela foi para a TVA, onde gerenciou o canal do assinante, fazendo desde pautas, até produção de conteúdo e programação.

Depois, a executiva passou pela Telefônica e, em seguida, pelo Terra, em que atuou na área de negociação e aquisição de conteúdo, incluindo agências de notícias, direitos esportivos, música, séries, filmes e documentários. A partir da proximidade com os conteúdos digitais e música, Leila se mudou para o Rio de Janeiro para começar a trajetória na Warner Music Brasil.

Como gerente de negociação no Terra, tive bastante interação com a indústria fonográfica, mas do outro lado da mesa. Eu era a responsável pela relação com todas as majors e selos para o Sonora, que era o produto digital de música. De lá recebi o convite para a Warner Music, como Gerente de Novos Negócios. Depois assumi a Diretoria Comercial, seguida da Diretoria Geral, até a posição de Presidente”, conta Leila Oliveira, Presidente da Warner Music Brasil.

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Leila Oliveira, Presidente da Warner Music Brasil. Foto: Divulgação

O anúncio da  nova posição de Leila Oliveira na Warner Music Brasil, que aconteceu em setembro de 2022,  foi celebrado no mercado brasileiro e internacional. Sobretudo, por ter sido a primeira mulher a assumir o posto principal de liderança em uma gravadora multinacional no Brasil.

Em entrevista para o POPline.Biz é Mundo da Música, a executiva fala sobre o novo momento da sua carreira profissional e a sua visão sobre o mercado da música. 

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Como você analisa o desenvolvimento do mercado em relação a oportunidades às mulheres e ao protagonismo feminino em posições de liderança?

Leila Oliveira: Para mim, as palavras diversidade e inclusão são extremamente importantes. Elas trazem profissionais com diferentes visões, fundamentais para entender internamente e externamente as pessoas, tendências, audiências e mercados. Foi incrível ver a receptividade desse anúncio e receber tanto apoio. É um orgulho enorme ser parte desse momento e espero fazer com que essa representatividade abra portas para muitas mulheres. 

Na sua visão, a liderança é uma aptidão ou uma habilidade a ser desenvolvida? Em um mercado que incentiva a “visão empreendedora”, quais as características para ser uma boa gestora no mercado da música?

LO: É uma combinação das duas coisas, mas diria que o desenvolvimento tem mais peso. Claro que existem características que facilitam o caminho, como comunicação, capacidade de gestão e visão estratégica. Mas são as experiências e aprendizados que vão realmente desenvolver essa liderança.

Nos últimos anos, as gravadoras acompanharam as mudanças da indústria e reformularam os meios de atuação, contratos e relacionamento com os artistas e equipe. Há, inclusive, defensores que o termo “gravadora” não contemple a realidade da atuação da companhia na atualidade.

Para você, quais são os papéis de uma gravadora hoje e os seus diferenciais?

LO: Acho que hoje o papel da gravadora deve ser realmente mais abrangente que o termo em seu sentido literal. Hoje podem ser inúmeros os objetivos e as opções dos artistas, e cada vez mais devemos estar preparados para atender e atuar considerando essas diferenças. Desde uma distribuição, onde o fonograma já vem pronto e nosso trabalho é mais focado em disponibilizar esse produto, até o desenvolvimento da carreira de um artista. E o fato de termos uma estrutura global nos possibilita dar um suporte importante não apenas para o resultado de uma faixa ou álbum, mas tentando ir além enquanto carreira, seja buscando possibilidades fora, ou projetando as novas formas de negócios que vão surgindo. Mas sempre entendendo as diferenças e objetivos de cada artista.

Muitos artistas ainda possuem o desejo de entrar em uma gravadora, sobretudo as multinacionais. Mas, a gravadora também espera um certo nível de “preparo” deste artista. Quais são os elementos que chamam a atenção a ponto da gravadora apostar em um projeto artístico?

LO: Talento, identidade e vontade de realizar. É importante ressaltar que, principalmente nos tempos atuais, é o trabalho conjunto entre artista e gravadora que pode fazer com que as coisas aconteçam. É essa sinergia que nos faz capazes de amplificar a voz e a mensagem de nossos artistas.

Em meio ao senso de urgência que o digital possui, como equilibrar as expectativas do artista e da equipe da gravadora, em contraponto com as nuances e desafios do próprio mercado?

LO: Esse tem sido realmente um grande desafio, para todos os lados. É a expectativa do resultado, a urgência em lançar, em aproveitar a trend, em viralizar… Acho que a chave é buscar o equilíbrio entre planejamento, mas também capacidade de análise e agilidade para identificar oportunidades e não perder o momento.   

Em uma análise ao mercado brasileiro e seus múltiplos gêneros musicais, em 2022 vimos o fortalecimento da música urbana, a continuidade da  popularidade de gêneros como sertanejo e o Piseiro, entre outros.

Diante do fluxo de 100 mil faixas que são disponibilizadas diariamente nas plataformas, quais os desafios e as estratégias para os artistas serem consumidos?

Diria o mesmo da resposta acima… equilíbrio entre planejamento, análise e agilidade.

Em 2022, vimos artistas despontando em rankings internacionais, como a cantora Anitta, além de Pedro Sampaio que teve um destaque no Spotify Global. Qual a sua análise em relação ao consumo da música brasileira no cenário internacional? Atualmente, a língua continua sendo uma barreira?

LO: Eu diria que a língua ainda limita o consumo natural de uma música regionalmente, o que torna o nosso desafio um pouco maior, apesar da música latina estar crescendo globalmente. Mas esses casos acima são exemplos de que há espaço e que se pode fazer. Com objetivo e planejamento é possível traçar uma estratégia e aproveitar colaborações internacionais, turnês, momentos virais, e ir construindo essa base, para que tenhamos mais artistas brasileiros aparecendo globalmente. Esse é, sem dúvida, nosso grande objetivo nosso para 2023.

Em 2023, mesmo com a retomada de shows e eventos, o mercado da música ainda enfrentará uma intensa crise econômica – fruto de uma influência global – e um cenário de concorrência cada vez mais acirrado.

Como você analisa os próximos meses para o mercado da música? Os profissionais estão mais adaptados a liderarem com a imprevisibilidade e em buscar rápidas e assertivas soluções?

LO: Acho que precisamos buscar mais oportunidades de negócios. Precisamos valorizar ainda mais as fanbases, para que tenhamos produtos mais trabalhados e assertivos. E sim, acho que os profissionais estão cada vez mais buscando esses caminhos, adaptando estratégias e indo atrás do que virá a seguir. E sabemos que essas mudanças estão acontecendo num ritmo cada vez maior.

No último ano, o mercado de catálogos musicais esteve entre os principais assuntos, movimentando artistas com muitos anos de estrada e os que estão iniciando a trajetória. No entanto, o que seria realmente a manutenção e a gestão de um catálogo musical? E como é possível valorar esse trabalho a longo prazo?

LO: É realmente um momento de boas possibilidades para o catálogo. Entre novos formatos, como ATMOS, e o aumento da relevância dos conteúdos gerados por usuários, por exemplo, temos novas possibilidades de reativação. Além disso, destacaria a sincronização em programações que acabam atingindo novas audiências.

No cenário internacional, a Warner tem investido em ativações no Metaverso, Web3 e também, com NFT.

Como você acredita que esse diálogo tecnológico deve ser traduzido para o Brasil, diante das realidades distintas de mercado nas regiões do país?

LO: Acredito que apesar das realidades distintas de nosso país, a Web3 traz possibilidades que, mesmo parecendo distantes, abrirão outras portas e outros modelos de negócio, como marcas, por exemplo. A demanda existe, e isso é claro quando olhamos o crescimento do mercado de games. 

Quais projetos que podem ser antecipados que a Warner fará em 2023, com foco nos artistas e nos profissionais do setor?

LO: Como mencionado acima, diante do mercado diverso que temos hoje, precisamos ser capazes de ter diferentes ofertas e serviços para os diferentes objetivos e perfis de artistas. Desde a distribuição tradicional de músicas, através da ADA; serviços que podem ir complementando esse modelo de distribuição; e claro, seguir em nosso DNA, que é construir carreiras sólidas de artistas. Queremos ser uma plataforma completa para eles e para os fãs.  

Além disso, também é nosso foco com a regional, seguir com o trabalho de levar para fora do país nossa música e nossos talentos. Sabemos que segue sendo desafiador, mas é sem dúvida um grande objetivo.

Por fim, quais as dicas que você daria para quem almeja atuar em uma posição de liderança no mercado da música?

LO: Autenticidade e comunicação. Um líder precisa compartilhar objetivos e inspirar pessoas. E valorizá-las sempre. São as pessoas que fazem as coisas acontecerem.