Lançada no início de 2025, “Descer”, parceria entre Kew e DJ LK da Escócia, é mais um exemplo de como o funk brasileiro tem ultrapassado fronteiras com o impulso das redes sociais. A faixa viralizou no TikTok durante o Carnaval, acumulando mais de 6,5 bilhões de visualizações e 10 milhões de vídeos criados na plataforma. A princípio pensada para o mercado nacional, a faixa ganhou fôlego inesperado nos meses seguintes e se transformou em um dos principais cases de internacionalização recente da música brasileira. Agora, a ADA Brasil detalha com exclusividade ao Mundo da Música a estratégia por trás desse crescimento e como a canção ultrapassou fronteiras a partir da movimentação nas redes sociais.
A escalada da música foi impulsionada pelo alcance orgânico em redes sociais, com adesão de criadores como Domelipa e o fenômeno da música argentina Emilia, e rapidamente se refletiu nas plataformas de áudio. A faixa chegou ao Top 10 do chart Viral Global do Spotify, ocupou o 3º lugar no Brasil, 2º lugar em Portugal e apareceu em rankings da Itália, Paraguai, Bolívia, Espanha, Filipinas, Uruguai, Argentina, Peru, Venezuela e Costa Rica. Até junho, somava mais de 80 milhões de streams e figurava em playlists de destaque como a Top Brasil.
Estratégia ativa e leitura de dados
Por trás do crescimento, está uma articulação entre a ADA Brasil e a Legenda Records, que apostaram na leitura em tempo real do comportamento das faixas para guiar ações locais nos mercados com maior potencial. Segundo João Alquéres, head da ADA Brasil, a movimentação começou logo após o Carnaval, quando os dados apontaram uma nova onda de viralização fora do país.
“Após o pico de criações nas redes sociais durante o Carnaval, percebemos uma nova trend se formando em países como Espanha e Itália, então logo acionamos os parceiros destes territórios para trabalhar na conversão em mais streams e criações”, explica Alquéres.
O time da ADA acionou diretamente seus escritórios nesses países e passou a atuar junto às plataformas digitais locais para ampliar o impacto. Com estrutura global a partir da Warner Music Group, a ADA se beneficia da presença em diversos países, o que permite um foco local mesmo em conteúdos originados no Brasil.
“Como parte da WMG, a ADA possui ferramentas que mapeiam o desempenho das faixas por todo o mundo. É parte do nosso dia a dia acompanhar esses dados e direcionar os esforços buscando os melhores resultados”, afirma o executivo.
“A estrutura da ADA Music permite que, daqui do Brasil, possamos não só distribuir globalmente, mas também acompanhar o desempenho das faixas e guiar comercialmente nossos parceiros em outros mercados. Nossa atuação direta e ativa com diversos escritórios da ADA pelo mundo permite um foco local – junto às DSPs – para cada conteúdo distribuído por nós”, complementa Karla Ollie, gerente de Estratégias e Negócios da ADA Brasil.

Impacto concreto e inovação no modelo
O sucesso de “Descer” revela um tipo de inteligência de mercado baseada na integração entre dados, timing e leitura cultural. De acordo com Alquéres, um dos diferenciais foi a capacidade de reação rápida.
“A rapidez em identificar o crescimento da faixa foi crucial para guiarmos comercialmente nossos parceiros em cada território. Também pudemos notar a identificação de alguns países latinos com a sonoridade da faixa, o que ajudou na explosão das criações no TikTok.”
Entre março e junho de 2025, “Descer” alcançou o 10º lugar no Viral Global do Spotify e passou de 8 bilhões de visualizações no TikTok. Um dos dados mais relevantes vem da proporção dos streams fora do Brasil: aproximadamente 45% da audiência da faixa é internacional, quatro vezes mais do que a média das músicas brasileiras no exterior.
Essa performance mostra como a nova geração de distribuidoras está deixando para trás o modelo passivo de distribuição digital. A ADA Brasil, que iniciou operações em 2020 e hoje tem sede no Rio de Janeiro, atua como uma ponte entre artistas e plataformas, investindo em análises estratégicas e articulação com as demais filiais da empresa ao redor do mundo.
Um novo caminho para o funk no exterior
Para a Legenda Records, esse é mais um marco na trajetória de internacionalização do funk e de artistas periféricos. A mesma parceria com a ADA já havia rendido outro case de destaque em 2024, com o hit “365 Dias (Vida Mansa)”, de MC Marks e uma série de colaborações com nomes como MC Ryan SP e MC LUUKY.
Ambos os sucessos refletem uma tendência crescente: o funk brasileiro está cada vez mais presente nos algoritmos, playlists e comportamentos digitais de públicos diversos ao redor do mundo. Esse movimento reforça que o TikTok se tornou uma espécie de termômetro global para o sucesso musical — e que as equipes que conseguem ler esses sinais com agilidade têm maior chance de converter tendências em resultados concretos. Ferramentas como o recém-lançado TikTok for Artists ajudam nessas decisões estratégicas.
A história de “Descer” sugere também que, ao contrário do que se pensava até pouco tempo, o funk não precisa ser “adaptado” para fazer sucesso fora do Brasil. O que tem feito diferença é a profissionalização das estratégias e a construção de pontes — digitais e humanas — que conectam os artistas aos diferentes públicos globais, sem perder a identidade sonora que os originou.
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