Comissão Europeia envia comunicado de objeções à UMG sobre aquisição da Downtown

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Nathália Pandeló
Comissão Europeia
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A movimentação da Comissão Europeia sobre o plano de aquisição da Downtown Music Holdings pelo Universal Music Group (UMG) avançou para uma etapa mais detalhada. O órgão enviou um comunicado de objeções para a empresa, documento que formaliza preocupações concorrenciais sobre o negócio avaliado em US$ 775 milhões. A análise está na fase II da investigação aberta em julho, após uma etapa preliminar de 25 dias na fase I.

A operação foi anunciada em dezembro de 2024 e envolve plataformas usadas por grande parte do mercado independente. A Downtown opera a FUGA, serviço de distribuição utilizado por selos e artistas, e o Curve, sistema de prestação de contas e administração de royalties. Esses ativos são estratégicos para empresas que trabalham com serviços A&L (“artist and label services”, ou serviços para artistas e selos) e motivaram o aprofundamento da análise por parte da Comissão.

Como surgiram as principais preocupações da Comissão

Logos do grupo Downtown Music Company
Logos do grupo Downtown Music Company (Crédito: Divulgação)

A investigação busca entender se a UMG poderia ter acesso a dados sensíveis de gravadoras concorrentes por meio do Curve. A plataforma processa e armazena informações de contabilidade, pagamentos e gestão de direitos, usadas diariamente por selos independentes. Esse tipo de dado é considerado sensível dentro de mercados concentrados e pode influenciar decisões comerciais.

No comunicado divulgado ao mercado, a CE afirma: 

“A Comissão está preocupada que a UMG possa ter a capacidade e o incentivo para obter acesso a dados comercialmente sensíveis que são armazenados e processados pelo Curve da Downtown e que tal vantagem informacional para a UMG prejudicaria a capacidade e o incentivo de selos rivais competirem com a UMG.”

O órgão também analisa se a FUGA representa um competidor relevante no mercado de distribuição e se sua aquisição pode limitar opções para selos e artistas no Espaço Econômico Europeu. Os serviços A&L envolvem distribuição, monetização, marketing, promoção e gestão de dados, áreas que impactam diretamente o planejamento de lançamentos e estratégias de catálogo.

O que a UMG diz sobre o comunicado de objeções

Virgin Music Group e Downtown - logos, Impala

A UMG declarou que seguirá colaborando com a Comissão Europeia até a conclusão do processo e ressaltou que esse tipo de documento faz parte do rito esperado em investigações de fusões e aquisições avaliadas pelo órgão.

A UMG afirmou: 

“Um comunicado de objeções é um passo normal no processo regulatório no qual a Comissão Europeia fornece detalhes sobre suas preocupações.”

A empresa também afirmou: 

“Este acordo trata de oferecer aos empreendedores independentes da música acesso a ferramentas e suporte de classe mundial para ajudá-los a ter sucesso. Estamos ansiosos para continuar trabalhando de forma construtiva com a Comissão em direção a uma conclusão bem-sucedida deste processo.”

O que acontece agora dentro do processo europeu

A partir do comunicado de objeções, a UMG pode responder por escrito, consultar o arquivo do caso e solicitar uma audiência oral. O prazo para decisão termina em 6 de fevereiro de 2026. A Comissão pode aprovar a operação, aprovar com condições ou barrar o negócio caso identifique riscos não solucionados.

O órgão reforça que o envio do comunicado não indica um resultado prévio. Ele apenas formaliza preocupações encontradas durante a investigação e abre espaço para que a empresa apresente sua defesa. 

O caso chegou à jurisdição da Comissão Europeia depois que a Holanda acionou o Artigo 22 do direito concorrencial europeu, mecanismo que permite avaliar fusões mesmo sem atingir limiares mínimos de faturamento. A Áustria posteriormente aderiu ao pedido.

Como o mercado independente tem reagido

A proposta de compra da Downtown pela UMG deve ser barrada, dizem independentes
A proposta de compra da Downtown pela UMG deve ser barrada, dizem independentes (Crédito: Reprodução)

O anúncio da investigação intensificou a mobilização de empresas e profissionais independentes. Em julho, mais de 200 pessoas enviaram uma carta contrária ao negócio, incluindo integrantes de grupos como Beggars e Secretly. Em outubro, a campanha “100 Voices” reuniu depoimentos de representantes do setor pedindo que a operação fosse bloqueada.

A IMPALA, entidade que representa selos independentes europeus, declarou que aguardava o envio oficial do comunicado de objeções e reiterou que continuará dialogando com a Comissão Europeia. A organização defende que a aquisição deve ser barrada e indica análises já entregues ao órgão para embasar essa posição.

Em setembro, o CEO da Downtown, Pieter van Rijn, divulgou uma carta aberta comentando o debate público sobre a operação. O executivo afirmou que observou “campanhas de sussurros e desinformação” circulando no mercado em torno da transação, declaração que buscou aumentar a transparência sobre o posicionamento da empresa.

O impacto da decisão no mercado musical europeu

A decisão da Comissão Europeia será acompanhada de perto por selos, plataformas e artistas. Distribuição e administração de royalties são áreas vitais para o funcionamento do mercado independente e a forma como o órgão interpretará a combinação entre UMG, FUGA e Curve pode influenciar outros casos de consolidação na música.

O debate sobre dados sensíveis, competição e estabilidade do ecossistema independente tende a ganhar força até fevereiro de 2026. O resultado terá impacto nas relações entre majors, empresas de tecnologia e selos que dependem de serviços de terceiros para operar.

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