A CISAC divulgou nesta quinta-feira (6) o relatório anual Global Collections Report 2025, que analisa a arrecadação de direitos autorais de mais de 5 milhões de criadores em 111 países. Segundo o estudo, as receitas globais totalizaram € 13,97 bilhões (cerca de R$ 83 bilhões) em 2024, o maior valor já registrado pela entidade. Do total, 90% correspondem à música, que sozinha atingiu € 12,59 bilhões, o equivalente a R$ 74,6 bilhões.
O crescimento de 7,2% no repertório musical foi impulsionado por três principais segmentos: o digital, os shows e o licenciamento em ambientes. A CISAC representa 228 sociedades de gestão coletiva em todo o mundo, incluindo entidades como a UBC e o Ecad no Brasil.
Digital ultrapassa R$ 29 bilhões e mantém ritmo acelerado
As receitas vindas de plataformas digitais, como streaming e serviços de assinatura, ultrapassaram € 5 bilhões (aproximadamente R$ 29,6 bilhões) pela primeira vez, com alta de 10,8% em relação a 2023. O crescimento reflete o aumento global no número de assinantes e os reajustes de preços adotados pelas principais plataformas de música.
A arrecadação com música ao vivo e uso em estabelecimentos também cresceu. Foram cerca de € 3,38 bilhões (R$ 20 bilhões), alta de 10,4%. Já rádio e TV, que vinham em queda desde a pandemia, registraram leve recuperação, com alta de 1,2%, alcançando € 3,42 bilhões (R$ 20,3 bilhões).
O relatório destaca ainda que o digital representa hoje 39,8% da arrecadação total da música, seguido por TV e rádio (28%) e música ao vivo e ambiente (26%). As demais fontes, como cópia privada e sincronização audiovisual, somam participações menores.
Estados Unidos lideram, mas África cresce acima da média

Os Estados Unidos continuam como o maior mercado para compositores e editoras, com arrecadação de € 3,14 bilhões (R$ 18,6 bilhões), crescimento de 10,9% em relação ao ano anterior. Em seguida vêm França (€ 1,5 bi / R$ 8,9 bi, +7,9%), Reino Unido (€ 1,18 bi / R$ 7 bi, +8,2%) e Alemanha (€ 1,02 bi / R$ 6 bi, +3,9%).
A América Latina e o Caribe, que vinha de dois anos de expansão, manteve estabilidade em 2024 com € 786 milhões (R$ 4,6 bilhões). Já a África foi o continente que mais cresceu proporcionalmente: 14,2%, chegando a € 90 milhões (R$ 532 milhões), puxada por transmissões e eventos ao vivo.
Segundo o relatório, as receitas digitais cresceram em todas as regiões, especialmente na América do Norte, onde ultrapassaram € 3,5 bilhões (R$ 20,8 bilhões). O documento cita ainda que o número global de assinaturas de música atingiu 818 milhões em 2024 e deve chegar a 1 bilhão até 2027, de acordo com a consultoria MIDiA Research.
Inteligência artificial ameaça até R$ 50 bilhões em receitas dos criadores

Apesar dos números positivos, o relatório traz um alerta sobre o impacto da inteligência artificial generativa (IA) no setor. A CISAC estima que a ausência de regulação pode desviar até 25% das receitas dos criadores, o equivalente a € 8,5 bilhões (R$ 50,3 bilhões) por ano.
“A IA não é apenas outro meio de distribuir obras criativas, mas uma tecnologia que pode apropriá-las e replicá-las. Sem salvaguardas adequadas ou transparência de dados, a IA corre o risco de minar as bases do valor criativo”, declarou o diretor-geral da CISAC, Gadi Oron.
Já o presidente da confederação e membro fundador do grupo ABBA, Björn Ulvaeus, mostrou um otimismo cauteloso, citando o modelo de licenciamento lançado pela sociedade sueca STIM.
“O novo licenciamento de IA desenvolvido pela STIM demonstra que os direitos dos criadores e o progresso tecnológico podem coexistir, desde que licenciamento e transparência sejam colocados no centro”, disse Ulvaeus.
A CISAC defende políticas de transparência e obrigatoriedade de licenciamento para plataformas de IA, além de remuneração direta a compositores, intérpretes e titulares de direitos quando suas obras forem usadas para treinar modelos generativos.
Tendências e desafios para o mercado musical brasileiro
Embora o relatório não traga dados específicos do Brasil, as tendências apontadas pela CISAC ajudam a projetar o comportamento do mercado local. O aumento das receitas digitais reforça o papel das plataformas de streaming e a importância de contratos claros de arrecadação para compositores e editoras.
A retomada das apresentações ao vivo e do licenciamento em espaços públicos indica novas fontes de renda em expansão no país, especialmente após a recuperação pós-pandemia. Por outro lado, o avanço das tecnologias de IA traz desafios jurídicos e operacionais que exigem atualização das leis e maior integração entre as sociedades de gestão coletiva, os criadores e o governo.
O relatório mostra que o sistema global de direitos autorais segue sólido, mas enfrenta um ponto de inflexão: o equilíbrio entre inovação tecnológica e proteção ao trabalho criativo será determinante para o futuro da indústria musical.
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