A velocidade com que as músicas ganham tração no TikTok mudou o jogo nos últimos cinco anos, e os dados levantados pelo Chartmetric ajudam a entender como esse movimento evoluiu. Em 2020, uma faixa levava em média 340 dias para alcançar 100 mil posts na plataforma. Em 2025, esse tempo caiu para cerca de 48 dias. Ainda assim, o salto de velocidade não se reflete diretamente em um aumento equivalente de streams no Spotify, o que desafia a lógica que dominou o início da era TikTok.
Os casos variam bastante, mas a tendência se repete. Um hit como “Stuck with U”, de Ariana Grande e Justin Bieber, alcançou o marco de 100 mil posts em 29 dias durante o isolamento social, enquanto “In Your Eyes”, de The Weeknd, levou quase 200 dias. Em 2023, “greedy”, de Tate McRae, virou em menos de um mês, e, em 2025, “JUMP”, do BLACKPINK, atingiu 102 mil posts em cinco dias. A viralização está mais rápida que nunca, embora seus efeitos sejam cada vez mais voláteis.
A aceleração da viralização
Os dados do Chartmetric analisaram 49 músicas por ano entre 2020 e 2025, todas passando do marco de 100 mil posts no TikTok. O recorte considerou faixas com níveis comparáveis de sucesso no Spotify, para medir a relação entre sucesso inicial e consumo real.
O salto entre 2020 e 2021 foi o mais expressivo. O uso intenso da plataforma no auge da pandemia impulsionou o ritmo dos conteúdos, encurtando drasticamente o tempo entre lançamento e viralização. Mesmo assim, nem todos os hits seguiram a mesma curva, o que mostra como o comportamento do público é imprevisível.
Essa dinâmica explica casos como os de Sabrina Carpenter. “Espresso” ultrapassou um bilhão de streams em menos de quatro meses, enquanto “Manchild” acumulava 430,9 milhões no mesmo período. As duas viralizaram no TikTok, mas o impacto no streaming foi diferente. A presença digital segue forte, porém o consumo já não responde da mesma forma ao volume de posts.

O enfraquecimento da conversão TikTok–Spotify
Ao cruzar o número de vídeos no TikTok com os streams acumulados no Spotify no momento em que cada música atingiu 100 mil posts, o Chartmetric mostrou uma queda constante no poder de conversão. Em 2020, cada post equivalia a cerca de 738 streams. Em 2025, esse número caiu para aproximadamente 275.
Os exemplos reforçam essa tendência. “Godzilla”, de Eminem e Juice WRLD, chegou a 100 mil vídeos após cerca de 238 dias em 2020, já com 450 milhões de streams. Em 2025, “Gabriella”, do grupo KATSEYE, bateu o mesmo volume de posts em 18 dias, acumulando 47,3 milhões de streams.
Os dados conversam com o relatório da MIDiA Research, “All Eyes, No Ears”, que indica uma mudança no hábito de consumo: muitos ouvintes descobrem músicas no TikTok, mas não necessariamente seguem para plataformas de streaming. A descoberta acontece, mas o aprofundamento não é garantido.
Motivos para a queda na sustentação
O excesso de conteúdo, a repetição dos mesmos trechos e a padronização das estratégias reduziram o frescor das trends. Sons aparecem em versões aceleradas, desaceleradas ou com efeitos que afastam o público da gravação original. Quando a música é lançada oficialmente, parte do interesse inicial já foi drenado pelo excesso de exposição.
Além disso, grande parte do marketing atual é planejada em torno de teasers, influenciadores e sons preparados para loop. A fórmula funciona para gerar uma atenção rápida, mas a fadiga chega com a mesma velocidade.
Outra variável é o pico antecipado. Músicas que circulam em trechos por semanas podem perder o impacto na data de lançamento. O público sente que já ouviu o principal antes mesmo da faixa chegar às plataformas.
O espaço dos micro-virais
Apesar do enfraquecimento da conversão tradicional, a viralização continua relevante. A trajetória de Absolutely, artista britânica que cresceu após divulgar um trecho ao vivo de “I Just Don’t Know You Yet”, mostra como momentos menores ainda produzem efeitos. O vídeo original teve mais de 530 mil curtidas e 4 milhões de views. A faixa chegou a 5,2 milhões de streams após lançamento do single, do vídeo oficial e de uma versão ao vivo.
Esses micro-virais tendem a beneficiar artistas emergentes mais do que os grandes astros, criando uma janela de oportunidade para quem ainda busca consolidar um público para chamar de seu. A viralização, nesse sentido, funciona como porta de entrada para uma audiência qualificada, não como garantia de hit global.
A leitura do Chartmetric indica que a música entrou em uma fase em que a velocidade importa, mas o efeito se tornou mais curto. Existe descoberta, porém não necessariamente aprofundamento. Isso transforma a viralização em ferramenta, não em destino final, e exige estratégias que prolonguem a vida útil das faixas após a primeira fagulha digital.
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