O hit Blinding Lights, lançado em novembro de 2019 por The Weeknd, acaba de entrar para a história como a primeira música a ultrapassar 5 bilhões de streams no Spotify. O marco foi confirmado pela própria plataforma, consolidando a faixa como um dos maiores fenômenos do streaming global. O feito não é meramente um recorde numérico: ele revela como determinadas obras conseguem transcender ciclos de consumo digital e permanecer em alta por anos, em um ambiente caracterizado pela rapidez das tendências.
Parte do álbum “After Hours”, o single já havia quebrado diversos recordes antes, como a permanência inédita de um ano no Top 10 da Billboard Hot 100. Agora, atinge um patamar que conecta música, dados e negócios. Afinal, não é qualquer catálogo que sustenta esse nível de consumo contínuo, e isso tem implicações diretas sobre avaliação de ativos musicais, negociação de catálogos e estratégias de longo prazo no setor.
A construção de um clássico digital
O sucesso de “Blinding Lights” não pode ser explicado apenas por sua popularidade inicial. A faixa, coescrita e produzida por Max Martin, Oscar Holter, Belly e DaHeala ao lado de The Weeknd, nasceu já com vocação de hit. O arranjo que revisita o synth-pop dos anos 80 entregou familiaridade imediata para diferentes gerações de ouvintes, enquanto o refrão explosivo garantiu alto potencial de compartilhamento e memorização.
Em janeiro de 2020, o videoclipe oficial estreou no YouTube e hoje acumula mais de 840 milhões de visualizações. O Super Bowl de 2021, quando The Weeknd apresentou a faixa no intervalo, ampliou ainda mais sua penetração cultural. Esses movimentos ajudaram a manter o ciclo de relevância da música, permitindo que ela continuasse a crescer mesmo após a fase tradicional de promoção de um single.
O peso do catálogo
O recorde de 5 bilhões de streams acontece em paralelo a notícias de que The Weeknd busca financiamento de até US$ 1 bilhão, tendo seu catálogo como garantia. Nesse contexto, “Blinding Lights” funciona como uma espécie de ativo âncora. A prova de consumo ao longo de anos reforça a tese de investidores de que determinados fonogramas têm valor patrimonial comparável ao de obras clássicas, gerando receita constante por meio de royalties de execução digital.
Em janeiro de 2024, quando a música atingiu 4 bilhões de streams, The Weeknd declarou:
“Eu nunca vou deixar de me sentir honrado por qualquer coisa que eu crie chegar a milhões de pessoas, muito menos a bilhões! Eu sou muito grato por essa música fazer as pessoas sentirem algo de uma forma que elas continuam voltando para ouvir.”
O próprio artista reconhece que não se trata apenas de números, mas de impacto emocional que, convertido em métricas, sustenta o ciclo econômico da obra.
O que explica a liderança da faixa
O histórico de “Blinding Lights” mostra que não basta ser um sucesso de momento para atingir níveis tão altos de consumo. Primeiro, houve forte investimento em composição e produção, com um time experiente em criar hits globais. Depois, a obra foi acompanhada por estratégias de visibilidade massiva, como apresentações em grandes eventos, parcerias com marcas e destaque em playlists editoriais e algorítmicas do Spotify.
Outro ponto é a capacidade da faixa de atravessar fronteiras culturais. Desde 2020, “Blinding Lights” aparece em trilhas de comerciais, filmes, séries e, sobretudo, em produções de usuários em redes sociais como TikTok. Esse efeito em cascata manteve a canção viva no imaginário coletivo, atraindo ouvintes que não estavam presentes no momento de seu lançamento.
O papel do Spotify e a leitura do mercado

A própria plataforma de streaming colabora para o status histórico da canção. Em 2024, quando a faixa atingiu 4 bilhões de streams, Jeremy Erlich, então head global de música do Spotify, afirmou à Billboard:
“O sucesso de ‘Blinding Lights’ é um exemplo principal de que nada conecta as pessoas mais do que a música. É uma música excepcional em uma categoria própria.”
A declaração ilustra como a plataforma enxerga casos como esse como prova da força de sua escala global e de seu papel na consolidação de repertórios que se tornam permanentes.
Além disso, “Blinding Lights” integra o Billions Club do Spotify ao lado de outras 27 músicas de The Weeknd, reforçando que sua carreira como um todo é hoje uma das mais fortes em termos de performance digital. O artista também foi o destaque do Billions Club: Live, evento promovido pela plataforma em 2024.
Impactos para a indústria musical
O recorde redefine as métricas de sucesso. Se antes a indústria observava vendas físicas, downloads digitais e até recordes de turnês como os principais indicadores, hoje o volume de streams de uma única faixa pode movimentar negociações bilionárias e influenciar a estratégia de catálogos inteiros. O caso de The Weeknd indica que uma música com longevidade digital pode valer mais do que diversos álbuns lançados em sequência.
Outro impacto é sobre a percepção dos próprios artistas. Ao comentar o marco anterior, The Weeknd disse:
“Quando Blinding Lights aconteceu, eu já tinha 10 anos de carreira e já estava estabelecido como uma figura da música na indústria. Então eu fico feliz que Blinding Lights tenha acontecido quando aconteceu em vez de ter sido o primeiro single que eu já lancei. Isso teria sido assustador para mim.”
A fala revela como o timing da carreira também é determinante: é preciso ter estrutura para sustentar o peso de um fenômeno dessa magnitude.
O futuro do repertório no streaming
Com o encerramento da turnê “After Hours Til Dawn”, The Weeknd segue em alta enquanto negocia os próximos passos de seu catálogo. A performance de “Blinding Lights” no streaming se soma a outras conquistas, como o posto de maior número de músicas no Billions Club e a liderança em ouvintes mensais no Spotify. Esses dados alimentam expectativas de que o artista se torne um dos primeiros a transformar seu catálogo em ativo financeiro de escala inédita para um músico contemporâneo.
Para o mercado, o marco dos 5 bilhões de streams não é uma vitória individual. Ele indica que determinadas faixas têm potencial de se tornarem “blue chips” da música, comparáveis a ações de empresas sólidas, atraindo investidores e redefinindo estratégias de longo prazo para gravadoras, editoras e artistas independentes que buscam novos modelos de valorização.
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