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Bets: Estudo da ESPM revela desconfiança em celebridades que promovem apostas online

Artistas continuam ligados a campanhas publicitárias das bets, enquanto o setor cresce e divide opiniões no Brasil
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Nathália Pandeló
Bets - Pessoas apostam em aplicativo
Crédito: Freepik

O mercado de bets online no Brasil está em franca expansão, movimentando valores astronômicos e influenciando diversos setores da economia, incluindo o entretenimento. Segundo o Banco Central, são 20,8 bilhões de reais gastos mensalmente via Pix em plataformas de apostas, tornando o país o maior mercado mundial no segmento, à frente dos Estados Unidos. No entanto, um estudo do Centro de Estudos Aplicados de Marketing (CEAM) da ESPM trouxe à tona uma questão delicada: a desconfiança do público em relação às celebridades que promovem essas plataformas.

De acordo com a pesquisa, 68% dos entrevistados percebem as personalidades associadas às apostas online como “menos confiáveis”. Entre os principais nomes que figuram nessas campanhas estão Gusttavo Lima, Neymar e Virgínia Fonseca, todos com contratos publicitários milionários que conectam suas imagens ao universo das apostas.

Expansão das apostas e crise de imagem

Bets - Homens apostam em jogo de futebol

A legalização e regulamentação das bets pelo governo não foram suficientes para dissipar a percepção negativa de parte do público. A pesquisa da ESPM aponta que, embora 44% dos entrevistados acreditem que as plataformas são reguladas, há dúvidas sobre sua honestidade. Ao mesmo tempo, 23% dos respondentes afirmaram gastar 10% ou mais de sua renda mensal em apostas, evidenciando o impacto financeiro e comportamental que o setor exerce.

“Com a pesquisa, conseguimos ter a percepção de como as BETs são percebidas dentro de diferentes aspectos. Um tema que tem sido alvo de muitas discussões no país atualmente. Nosso objetivo é identificar o comportamento destes consumidores e caminhos a serem seguidos pelas marcas”, analisa Evandro Luiz Lopes, diretor acadêmico da ESPM.

Para celebridades, a associação com as apostas faz parte de uma estratégia publicitária que reforça sua presença no mercado, mas também pode prejudicar sua reputação. Embora a música sertaneja seja um dos gêneros mais patrocinados por essas plataformas, outros artistas, como Wesley Safadão e Dennis DJ, também aderiram às campanhas.

A música como ponte para as apostas

O vínculo entre as bets e o universo musical vai além das campanhas tradicionais. Patrocínios de shows, festivais e até transmissões online criam uma ligação entre o entretenimento e as apostas, com artistas apresentando as plataformas como parte de suas rotinas. 

O maior exemplo da ligação desses dois mundo é o próprio Gusttavo Lima, cuja conexão com a Vai de Bet, da qual é garoto-propaganda, vinha sendo investigada. Na última semana, a justiça arquivou o inquérito que investigava um suposto envolvimento em esquema de lavagem de dinheiro por parte da empresa. O sertanejo, no entanto, não é o único a levar para casa dinheiro de apostadores.

Os contratos com famosos e influenciadores geram questionamentos sobre a ética por trás da publicidade. Em reportagens recentes, como “O bonde do Tigrinho”, publicada na revista Piauí, surgiram relatos de como influenciadores e artistas são pagos para promover plataformas que alimentam o vício. 

Os números por trás das apostas

Bets Pagamento com cartao de credito

A pesquisa do CEAM da ESPM também mostrou que as bets ocupam o segundo lugar no consumo de jogos entre os brasileiros, atrás apenas da Loteria Federal. Além disso, 39% dos entrevistados disseram que aumentariam suas apostas se a plataforma patrocinasse seu clube de futebol favorito. Esse dado ilustra como o patrocínio esportivo é percebido de maneira mais positiva pelo público, em contraste com a associação a celebridades.

Os efeitos econômicos das apostas são visíveis em diversos setores. Redes de atacado, como o Assaí, relataram queda no consumo de alimentos em lojas que atendem classes mais baixas. A Confederação Nacional do Comércio (CNC) também apontou que 1,3 milhão de brasileiros entraram em inadimplência no primeiro semestre de 2024 devido às apostas.

Além disso, o impacto alcança até os programas sociais. Dos 14,1 bilhões de reais mensais repassados pelo Bolsa Família, 3 bilhões foram direcionados para plataformas de apostas via Pix, evidenciando como as bets penetram em todas as camadas da sociedade.

Enquanto o mercado cresce, debates sobre regulamentação mais rígida ganham força. Entre as propostas está a criação de regras específicas para publicidade e maior controle sobre a atuação de influenciadores e celebridades no segmento. Atualmente, famosos são mencionados em campanhas multimilionárias que incentivam o público a apostar, mas muitas dessas iniciativas ignoram os potenciais danos sociais e psicológicos.

O papel da música no debate

No universo da música, os artistas enfrentam um dilema. De um lado, há o atrativo financeiro dos contratos com bets. De outro, existe o risco de associar suas marcas pessoais a um setor com crescente desconfiança pública. 

Eventos musicais patrocinados por apostas recebem grandes investimentos, criando experiências de entretenimento de alto padrão. Contudo, a pergunta que fica é se a promoção de apostas nesses eventos não está ajudando a normalizar um comportamento que pode ter sérias consequências sociais.

Enquanto isso, artistas e gestores precisam reavaliar estratégias. Com a expansão das bets no país, a música e o entretenimento podem se tornar ainda mais dependentes desse financiamento (algo que já acontece no futebol), aumentando a necessidade de uma discussão ética sobre os limites dessa associação.

A pesquisa da ESPM lança luz sobre um tema sensível e reforça a necessidade de diálogo entre o mercado de apostas, artistas e o público. À medida que o Brasil lidera o consumo global de bets, o impacto na cultura, economia e comportamento social exige um olhar crítico sobre os desdobramentos desse fenômeno.

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