Cinco décadas após o fim dos Beatles, a banda retornou ao centro das atenções com “Now and Then”, música que utilizou inteligência artificial para recuperar gravações de John Lennon dos anos 1970. Agora, a faixa volta a ganhar notoriedade após receber duas indicações ao Grammy 2025: Record of the Year e Best Rock Performance, competindo com artistas atuais como Beyoncé e Billie Eilish.
O projeto nasceu após Paul McCartney ouvir as demos originais de Lennon e decidir usar tecnologia de IA para melhorar a qualidade do áudio. A iniciativa contou com o apoio de Ringo Starr e das famílias de Lennon e George Harrison, pois inclui gravações também de Harrison feitas antes de seu falecimento.
Processo de produção
A tecnologia utilizada na produção de “Now and Then” é similar à empregada no documentário “The Beatles: Get Back”, de Peter Jackson. O software de IA, que funciona de forma parecida com filtros de ruído de aplicativos de videochamada, foi fundamental para isolar e limpar a voz de Lennon das fitas originais.
O produtor Giles Martin coordenou o processo técnico, aplicando o mesmo sistema que usou para criar novas mixagens do álbum “Revolver”. A tecnologia permitiu preservar a essência da gravação original enquanto adaptava o som aos padrões atuais.
A recepção de “Now and Then”
“Now and Then”, lançada em novembro de 2023 como a última música dos Beatles, gerou intenso debate na comunidade musical e entre fãs. A música foi recebida com uma mistura de emoção e nostalgia por muitos fãs, que a viram como um fechamento apropriado para o legado da banda. Os críticos musicais em geral elogiaram a produção e a forma como a tecnologia foi utilizada para preservar a essência dos Beatles, com muitos destacando como a voz de Lennon foi tratada com respeito e autenticidade.
No entanto, o lançamento também provocou discussões importantes sobre o uso de inteligência artificial na música. Enquanto alguns argumentaram que esta aplicação da tecnologia representa um uso ético e respeitoso, por ter sido aprovada pela família de Lennon e pelos membros sobreviventes da banda, outros expressaram preocupação sobre o precedente que isso poderia estabelecer para o uso futuro de vozes e composições de artistas falecidos. O debate se estendeu para questões mais amplas sobre autenticidade artística e os limites éticos do uso de IA na música, embora neste caso específico, a tecnologia tenha sido utilizada principalmente como uma ferramenta de restauração e não de criação.
Repercussão nas plataformas
Apesar das indicações ao Grammy, “Now and Then” registra o menor número de reproduções entre as músicas que concorrem a Record of the Year. A faixa acumula 78 milhões de streams no Spotify, número distante dos concorrentes na categoria.
O desempenho nas plataformas digitais, contudo, não diminui a relevância histórica do lançamento. As indicações ao Grammy abrem precedentes para o uso de inteligência artificial na música. A Academia de Gravação reconhece oficialmente obras que utilizam essa tecnologia, sinalizando mudanças nas regras do principal prêmio da indústria musical.
A presença dos Beatles entre indicados evidencia como novas tecnologias podem conectar diferentes gerações da música. O resultado será conhecido em fevereiro de 2025, quando a cerimônia do Grammy acontece em Los Angeles.