BBC aponta que músicas pop voltaram a ficar mais longas e felizes a partir de 2024

Estudo da BBC mostra que, após anos de compactação para se adaptar ao streaming e ao TikTok, o pop voltou a apostar em faixas mais longas e positivas.
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Nathália Pandeló
BBC mostra que a duração das músicas voltou a subir
BBC mostra que a duração das músicas voltou a subir (Crédito: Reprodução)

Durante boa parte da última década, o tempo médio das músicas pop foi encurtando. Com a ascensão do streaming e a influência de plataformas como o TikTok, produtores e artistas passaram a priorizar faixas mais curtas, com ganchos rápidos e estruturas pensadas para viralizar. No entanto, uma nova pesquisa conduzida pela BBC indica que essa tendência chegou ao fim.

A análise dos principais hits do Reino Unido aponta uma volta das canções com durações mais próximas do padrão tradicional. Dados recentes mostram que músicas com três ou mais minutos voltaram a ocupar um espaço relevante nas paradas, enquanto a sensação de maior liberdade criativa também reflete na mistura de estilos e estruturas menos convencionais.

Em entrevista à BBC, a cantora Jade Thirlwall comentou sobre seu single de estreia solo, considerado uma das faixas que fogem ao padrão radiofônico. “É uma música bastante maluca”, afirmou. “Eu não estava tentando fazer um hit fácil para o rádio.” Ela ainda ironizou o uso de inteligência artificial na criação musical: “Se você pedisse para uma IA escrever Angel Of My Dreams, ela travaria. Explodiria”.

Essas declarações apontam para um movimento mais intuitivo e ousado na música pop atual. A mesma pesquisa sugere que esse retorno ao improviso e à criatividade menos moldada por algoritmos tem relação com a chamada “recession pop”.

A volta do “recession pop”

BBC associa momentos de crise econômica com a música pop
BBC associa momentos de crise econômica com a música pop (Crédito: Reprodução)

O termo “recession pop” foi usado pela primeira vez para descrever o fenômeno musical que se seguiu à crise financeira de 2008. Na época, músicas como “I Got a Feeling” do Black Eyed Peas, “Only Girl (In The World)” de Rihanna e “Bad Romance” de Lady Gaga dominaram as paradas com batidas marcantes e letras leves, voltadas para a diversão.

Agora, em meio a um cenário econômico instável novamente, esse espírito parece ter retornado. A BBC comparou os dados de 2009 e 2024 e identificou uma similaridade: o aumento na “valência emocional” das músicas. Trata-se de uma métrica usada pelo Spotify que indica o quão “feliz” ou positiva uma faixa soa, levando em conta elementos como tonalidade, letra e ritmo.

Dados mostram que as músicas ficaram mais alegres em 2024

Chappell Roan
Chappell Roan (Crédito: Divulgação)

A análise feita a partir do banco de dados do Spotify, que inclui cerca de 100 milhões de faixas, avaliou a valência emocional dos 40 maiores sucessos do Reino Unido em diferentes anos. Em 2024, a média de positividade das músicas chegou a 60%, a mais alta desde 2009 (61%).

No topo da lista aparece “Hot To Go”, de Chappell Roan, com uma pontuação de 96% em valência emocional. Já “APT”, colaboração entre Rosé e Bruno Mars, alcançou 94%. Em contraste, músicas como “Beautiful Things”, de Benson Boone, marcaram apenas 22%, mostrando que há espaço para diversidade emocional, mas a tendência geral se inclinou para faixas mais alegres.

Mesmo assim, especialistas alertam que essa análise deve ser feita com cuidado. O produtor Nathanson ponderou que nem sempre é adequado relacionar diretamente eventos históricos à música popular. “Ninguém chama disco music de ‘pop da crise do petróleo’. Ninguém diz que The Carpenters fizeram ‘música do impeachment do Nixon’”, declarou.

A era da ousadia e da atenção recuperada

Benson Boone paradas
Benson Boone

Outro dado revelado pela pesquisa da BBC é que a atenção do público aos poucos está voltando a permitir composições mais longas. Durante a febre do TikTok, músicas com pouco mais de dois minutos se tornaram comuns, com estruturas simplificadas e refrões acelerados. Agora, o cenário está mudando.

Segundo a compositora Ines Dunn, responsável por hits recentes do pop britânico, “ainda não sei se vamos voltar à duração de uma ‘Bohemian Rhapsody’, mas acho que o tempo de atenção das pessoas está voltando a crescer. E isso mostra que o público se importa, o que é música para os meus ouvidos”. Ela completa: “Fico animada em poder compor uma música de três minutos novamente!”.

Essa mudança indica que o ciclo da música pop está mais uma vez se transformando, com maior liberdade para artistas explorarem sons, letras e estruturas que não se encaixam nos moldes rápidos da era digital. A busca por hits instantâneos continua, mas há também espaço para canções mais longas, mais felizes e menos previsíveis.

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