Balanço 2025: Rodrigo Vicentini, da Deezer, analisa crescimento do mercado, IA e hiperpersonalização de experiências

A série “Balanço 2025” segue com executivos do mercado. Rodrigo Vicentini, da Deezer, ajuda a entender como a indústria brasileira atravessou esse ano de transformação.
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Nathália Pandeló
Rodrigo Vicentini, General Manager da Deezer na América Latina
Rodrigo Vicentini, General Manager da Deezer na América Latina (Crédito: Flavia Vicentini)

Nesta edição da série “Balanço 2025”, do Mundo da Música, o foco recai sobre as mudanças e inovações que marcaram 2025, com um olhar especial para a inteligência artificial e a crescente importância da hiperpersonalização das experiências musicais. Rodrigo Vicentini, General Manager da Deezer para a América Latina, compartilha sua visão sobre o desempenho do mercado, o crescimento do consumo e as métricas que ajudaram a empresa a se conectar ainda mais com superfãs, além de destacar os impactos da IA no consumo e nas estratégias de marketing.

Rodrigo Vicentini traz mais de 20 anos de experiência na interseção entre entretenimento, marketing e construção de marca. Antes de assumir o comando da Deezer, Rodrigo teve passagens pela NBA Brasil, UFC, Globo e Unilever, sempre com foco em criar experiências marcantes para o consumidor e fortalecer parcerias estratégicas. Com o objetivo de expandir os negócios da Deezer na região, Rodrigo se destaca por sua abordagem voltada para superfãs e pela liderança de iniciativas inovadoras que aproximam artistas e fãs.

Balanço 2025 com General Manager da Deezer para a América Latina

Mundo da Música: Quando você olha para 2025 como um todo, quais números melhor resumem o desempenho do mercado de música no Brasil este ano? Pode incluir receita, consumo, catálogo, shows, marketing ou qualquer indicador que tenha sido decisivo, na sua visão.

Rodrigo Vicentini: O mercado de música no Brasil segue muito quente. O brasileiro continua entre os povos que mais escutam música no mundo, mantendo uma média diária que gira em torno de  2h30 a 3h de consumo — e isso se reflete em praticamente todos os indicadores do setor.

O volume de shows, festivais e eventos também permaneceu em alta. Vivemos um calendário tão intenso que o público já sente uma espécie de FOMO cultural: é humanamente impossível acompanhar tudo o que acontece. Isso mostra a força da música como território de experiência — e como essa demanda movimenta toda a cadeia, de artistas independentes a grandes turnês internacionais.

No streaming, o consumo vem crescendo 2 dígitos no últimos anos, e 2025 reforçou que a música é um dos setores mais vibrantes do Brasil.

Mundo da Música: E olhando para dentro da sua empresa, quais métricas vocês usam como termômetro de crescimento? Quais indicadores mostram que 2025 foi (ou não foi) um ano de expansão?

Rodrigo: Somos, antes de tudo, uma empresa de tecnologia com um propósito muito claro: aproximar nossos superfãs de seus artistas favoritos. Tudo o que fazemos — dentro e fora do app — passa por essa lógica de hiperpersonalizar a experiência e criar conexões reais entre fã e artista.

Por isso, usamos uma combinação de KPIs que refletem profundidade de relação, não apenas volume: engajamento diário: horas streamadas, frequência de retorno e momentos do dia em que nossos usuários escolhem ouvir música. Analisamos também o consumo qualificado: crescimento do uso de playlists editoriais e personalizadas, repetição de faixas e peso do catálogo no hábito musical, dentre inúmeras outras métricas.

Mas, no final do dia, existe um indicador que resume tudo: o nível de conexão entre os superfãs e os artistas que eles realmente amam.

Quando vemos superfãs consumindo mais, participando de experiências, comparecendo a encontros, audições e momentos presenciais, entendemos que a Deezer está cumprindo seu papel.  E que 2025 conseguimos de fato entregar isso para nossos fãs e artistas.

Mundo da Música: Quais áreas da operação cresceram mais em 2025 e quais ficaram estáveis ou em queda? Que leitura esses movimentos geram sobre o momento do mercado?

Rodrigo: Em 2025, as áreas que mais cresceram foram justamente aquelas ligadas à hiperpersonalização das experiências. Investimos de forma consistente em entender cada vez melhor o comportamento dos nossos fãs e, com isso, refinamos significativamente nossas playlists e ambientes de descoberta dentro do app. A curadoria ficou ainda mais precisa, mais contextual e, principalmente, mais alinhada ao que move o superfã brasileiro.

Fora do app, vimos uma expansão importante das iniciativas que aproximam artistas e fãs. Realizamos experiências muito potentes — como os encontros do Purple Door com o Grupo Menos É Mais, os projetos de verão com o Dilsinho e a Pabllo Vittar no Deezer Summer Sessions, além de presenças em territórios culturais como São Paulo Fashion Week, Festival Heineken No Lineup, Festival Indigo, e ainda encontros de fanxp super exclusivos no nosso escritório em São Paulo com o Dinho Ouro Preto do Capital Inicial, Péricles, e até Audrey Nuna, da banda Huntr/x, entre outros.

Mundo da Música: Como evoluiu o consumo de música no Brasil em 2025 na sua perspectiva? O que mudou nos números de streams, catálogo, repertório local, superfãs, descoberta ou formatos?

Rodrigo: O consumo de música de 2025 refletiu de uma forma muito interessante, e que mostra a força da música brasileira, no nosso ranking anual, o My Deezer Year, com o sertanejo que lidera a primeira colocação da música brasileira já há alguns anos. A surpresa nesse ano foi o crescimento do pagode, que atingiu a segunda posição do ranking com Menos é Mais, que saiu da décima para a segunda posição, e Sorriso Maroto, que saiu da sexta para a quinta. Além disso, o brega se destacou na lista com Natanzinho Lima na nona posição. Outra surpresa foi o Charlie Brown Jr. na décima posição e mostra a força do consumo de um catálogo forte.

Deezer revela estudo sobre IA
Deezer revela estudo sobre IA (Crédito: Divulgação)

Mundo da Música: Há algum dado interno de comportamento do público em 2025 que você acredita ser relevante para o mercado conhecer? Algo que tenha alterado decisões ou estratégias, por exemplo.

Rodrigo: Sim — 2025 marcou uma mudança profunda no comportamento do público, impulsionada principalmente pela inteligência artificial, que já é maior do que a própria revolução que o streaming representou no passado.

Estamos vivendo uma nova era no nosso setor, e a IA passou a influenciar diretamente a forma como fãs descobrem, consomem e se relacionam com a música. Para nós, esse movimento ficou nítido em três áreas muito concretas:

  • A IA reforçou a capacidade de hiperpersonalização.

Usamos tecnologia para entender com mais precisão o contexto de cada fã.

Recursos como o SongCatcher e o Flow ficaram ainda mais relevantes em 2025.

  • IA como segurança e integridade do catálogo.

Desenvolvemos uma solução proprietária de IA focada em detecção de fraudes, essencial diante do volume crescente de conteúdos.

  • Transparência virou um valor central para o fã.

Decidimos aplicar tags para identificar faixas 100% geradas por IA.

Uma pesquisa recente que realizamos com a Ipsos mostrou que 97% dos brasileiros não conseguem distinguir uma música feita por IA e 73% querem transparência total.

Esse comportamento alterou nossas decisões estratégicas.

A música continua sendo sobre emoção, verdade e conexão — e a IA, quando usada com responsabilidade, pode amplificar tudo isso em vez de substituir.

Mundo da Música: Falando em artistas, que tipo de crescimento vocês observaram no desempenho de lançamentos, marketing, turnês ou retenção de público em 2025? Há métricas concretas que ilustram essa evolução?

Rodrigo: Mais uma vez podemos analisar aqui os destaques do My Deezer Year, que traz uma restrospectiva dos artistas mais ouvidos de 2025. Além dos gêneros que já citei acima, com destaque para os artistas do sertanejo e do pagode, que ocupam as primeiras posições do ranking, podemos destacar também algumas curisiodades, como o fato de Lady Gaga ter sido a única artista internacional a entrar na lista das músicas mais ouvidas; o fato de Marília Mendonça ainda estar na primeira colocação entre as mulheres mais ouvidas. Isso mostra que mais do que lançamentos, é preciso ter uma base de fãs engajada para garatir a retencão do público.

Deezer revela balanço do primeiro semestre de 2025

Mundo da Música: Se você tivesse que escolher um único indicador que mostra onde a indústria brasileira está indo, qual seria? E como esse número evoluiu em 2025?

Rodrigo: O mercado brasileiro de streaming já é um mercado extremamente importante mundialmente, o maior da América Latina e com um potencial único de crescimento para os próximos anos. Como já falamos acima, o mercado vem crescendo 2 dígitos nos últimos anos e deve continuar nesse mesmo patamar nos próximos 5 anos.

Mundo da Música: Que oportunidade de 2025 apareceu de forma mais clara quando vocês analisaram os dados internos? Pode ser um comportamento, um formato, um tipo de artista ou uma dinâmica de mercado.

Rodrigo: 2025 de fato mostrou que a IA foi uma pauta de extrema relevância não só para a Deezer, mas para toda a nossa indústria.

Recebemos cerca de 150 mil novas faixas diariamente, sendo que 34% já são geradas por IA. Isso evidencia tanto o potencial quanto os desafios desse novo momento.

Conseguimos ser pioneiros no tema, oferecendo soluções que melhoram as experiências dos nossos fãs, rastreiam fraudes e, principalmente, ajudam a entender como o público enxerga o uso de IA na música.

Mundo da Música: Para 2026, quais projeções numéricas vocês já conseguem antecipar? Não precisam ser números exatos, mas tendências ou estimativas que indiquem o que esperar do próximo ciclo.

Rodrigo: Estamos muito animados para 2026. O que podemos antecipar, olhando para os dados e para o comportamento do público, é que nossos fãs irão se conectar ainda mais com seus artistas favoritos, tanto dentro do app quanto fora dele, por meio de experiências cada vez mais exclusivas e hiperpersonalizadas. Vem muita coisa boa por aí!

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