Balanço 2025: Monica Brandão, da Altafonte Brasil, analisa maturidade do mercado e força do catálogo

A série Balanço 2025 traz a leitura de Monica Brandão, da Altafonte, sobre crescimento qualificado, superfãs e estratégias de longo prazo na música brasileira.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Monica Brandão, Country Manager, Altafonte Brasil
Monica Brandão, Country Manager, Altafonte Brasil. Foto: Divulgação

Dando continuidade à série de entrevistas “Balanço 2025”, o Mundo da Música conversa com executivos que acompanham de perto a transformação do mercado brasileiro a partir de diferentes frentes da indústria. A proposta segue sendo ouvir quem está na operação, com foco em comportamento do público, estratégias de desenvolvimento artístico e indicadores que ajudam a entender para onde o setor caminha.

Nesta edição, o olhar se volta para curadoria, catálogo e construção de carreiras em um momento de maior maturidade do mercado. Em um cenário menos orientado por picos e mais por consistência, temas como superfãs, recorrência de consumo e valor de longo prazo passaram a ocupar o centro das decisões estratégicas.

A entrevistada é Monica Brandão, Country Manager da Altafonte Brasil. Com mais de 22 anos de atuação na indústria da música, Monica analisa como foi 2025 para o mercado brasileiro, os critérios que guiam a operação da Altafonte, os desafios do ano e as expectativas para um próximo ciclo marcado por crescimento mais qualificado.

Balanço 2025 com Monica Brandão, Country Manager da Altafonte Brasil

Mundo da Música: Quando você olha para 2025 como um todo, quais números melhor resumem o desempenho do mercado de música no Brasil este ano? Pode incluir receita, consumo, catálogo, shows, marketing ou qualquer indicador que tenha sido decisivo, na sua visão.

Monica Brandão: Quando olho para 2025 como um todo, os números que melhor resumem o desempenho do mercado brasileiro são aqueles que revelam um crescimento moderado, porém mais qualificado. O streaming continuou avançando, mas quem realmente puxou o resultado foram os indicadores de qualidade do consumo: maior recorrência de ouvintes, sustentação mais longa dos lançamentos e fortalecimento do catálogo.

Também vimos um aumento consistente de ouvintes vindo dos superfãs, o que mostra que o público passou a se relacionar com a música de forma mais profunda, acompanhando carreiras e não apenas momentos virais. É um sinal de maturidade do mercado, tanto do público quanto das estratégias das empresas.

Em resumo, 2025 foi o ano em que o Brasil consolidou um movimento importante: menos sobre velocidade e picos, mais sobre consistência, comunidade e valor de longo prazo.

Mundo da Música: E olhando para dentro da sua empresa, quais métricas vocês usam como termômetro de crescimento? Quais indicadores mostram que 2025 foi (ou não foi) um ano de expansão?

Monica Brandão: A Altafonte tem no seu DNA a curadoria e o desenvolvimento de carreiras. Por isso, o nosso principal indicador de sucesso é a performance dos lançamentos e, também, a capacidade de sustentação a longo prazo. Não medimos impacto por picos ou posições em charts, medimos por trajetórias. Quando vemos um artista crescendo de forma consistente, ampliando sua base, fortalecendo repertório e construindo comunidade, crescendo de forma orgânica, sabemos que estamos no caminho certo. 

Mundo da Música: Quais áreas da operação cresceram mais em 2025 e quais ficaram estáveis ou em queda? Que leitura esses movimentos geram sobre o momento do mercado?

Monica Brandão: A Altafonte tem uma equipe enxuta, mas muito focada. Viemos ganhando força principalmente pela consistência do trabalho e pela clareza da nossa atuação no mercado.

Observamos ao longo do ano um crescimento da marca. Essa percepção positiva fez com que mais artistas e equipes nos procurassem espontaneamente, reconhecendo a curadoria do nosso casting e a forma personalizada que cuidamos dos projetos.

Vitor Kley e equipe Altafonte (Crédito: Gabriella Ribeiro)
Vitor Kley e equipe Altafonte (Crédito: Gabriella Ribeiro)

Mundo da Música: Como evoluiu o consumo de música no Brasil em 2025 na sua perspectiva? O que mudou nos números de streams, catálogo, repertório local, superfãs, descoberta ou formatos?

Monica Brandão: Na minha opinião, o consumo de música no Brasil em 2025 evoluiu de forma mais artística e inteligente. Houve crescimento qualitativo. O público passou a ouvir com mais intenção, valorizando narrativas, projetos completos e artistas capazes de construir comunidade e consistência ao longo do tempo.

Mundo da Música: Há algum dado interno de comportamento do público em 2025 que você acredita ser relevante para o mercado conhecer? Algo que tenha alterado decisões ou estratégias, por exemplo.

Monica Brandão: Um ponto importante para destacar em 2025 foi a força do catálogo. Quando o artista ativa repertório, seja em turnê, em conteúdo próprio ou em colaborações, o impacto no consumo aparece imediatamente. Isso reforça para nós a importância de acompanhar as carreiras de maneira contínua e orientar nossos parceiros com visão de longo prazo.

Por isso acreditamos que projetos com identidade forte, narrativa e coerência estética tendem a performar melhor e por mais tempo. Isso não muda a comunicação dos artistas, mas guia nosso apoio e estratégia dentro da distribuição.

Mundo da Música: O ano teve desafios importantes. Quais números deixaram evidente que o setor precisou ajustar expectativas ou revisar projeções?

Monica Brandão: Foi um ano desafiador e para nós acabou ressaltando ainda mais a importância de termos um atendimento personalizado.

Mesmo com o mercado pedindo cautela, conseguimos fazer contratações estratégicas que fortaleceram o casting. E com certeza o resultado mais simbólico desse movimento foi o nosso desempenho no Latin Grammy, onde alcançamos um marco histórico: 21 indicações e 5 vitórias.

Mundo da Música: Falando em artistas, que tipo de crescimento vocês observaram no desempenho de lançamentos, marketing, turnês ou retenção de público em 2025? Há métricas concretas que ilustram essa evolução?

Monica Brandão: O crescimento que mais conseguimos observar nos artistas foi menos sobre explosões pontuais e muito mais sobre consolidação. A performance de lançamentos evoluiu de forma mais madura: vimos trajetórias mais estáveis, catálogos ganhando peso e artistas ampliando sua base de ouvintes de maneira consistente, especialmente aqueles que trabalham narrativas de longo prazo.

Mundo da Música: Se você tivesse que escolher um único indicador que mostra onde a indústria brasileira está indo, qual seria? E como esse número evoluiu em 2025?

Monica Brandão: A quantidade de ouvintes mensais, que indica a capacidade de um artista manter uma base estável que está sempre consumindo seu catálogo.

O mercado já entendeu que o volume bruto de streams pode oscilar, mas a retenção, especialmente entre superfãs e comunidade, cresceu de forma consistente. Isso mostrou que o público está se relacionando com os artistas de maneira mais profunda, acompanhando carreiras, não apenas lançamentos.

Lenine e Altafonte renovam contrato e celebram lançamento do álbum 'EITA'
Lenine e Altafonte renovam contrato e celebram lançamento do álbum ‘EITA’. Foto: Divulgação

Mundo da Música: Que oportunidade de 2025 apareceu de forma mais clara quando vocês analisaram os dados internos? Pode ser um comportamento, um formato, um tipo de artista ou uma dinâmica de mercado.

Monica Brandão: Aprofundar o trabalho com artistas em fase de consolidação, nomes que já possuem público, identidade artística clara e consistência criativa. Esse movimento dialoga diretamente com a curadoria da Altafonte, que sempre priorizou artistas com visão de longo prazo, narrativas sólidas e potencial para desenvolver carreira. 

Mundo da Música: Para 2026, quais projeções numéricas vocês já conseguem antecipar? Não precisam ser números exatos, mas tendências ou estimativas que indiquem o que esperar do próximo ciclo.

Monica Brandão: Dando continuidade ao que vimos em 2025, minha percepção é que 2026 seguirá a tendência de um crescimento mais qualificado e menos acelerado. O mercado entrou definitivamente em uma fase de maturidade, em que o público consome com mais critério, profundidade e expectativa de continuidade.

Cada vez mais, os resultados devem vir de projetos e artistas de longo prazo, capazes de sustentar narrativas, fortalecer comunidade e manter recorrência ao longo dos meses. Não vejo espaço para crescimentos explosivos, mas sim para evoluções consistentes, tanto no catálogo quanto nas carreiras que conseguem construir valor duradouro.

Em outras palavras, o próximo ano deve consolidar a música como um mercado que prioriza a arte e não a velocidade. 

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