Experiência ao vivo em 2025: como preços, consumo e comportamento redefiniram os shows no Brasil

A experiência ao vivo revelou um setor aquecido, com consumo recorde, custos maiores e público mais exigente com estrutura e clareza.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Público com cerveja em shows - Crédito Yannick Monschau Tomorrowland
Crédito: Yannick Monschau

O impacto da experiência ao vivo em 2025 ficou evidente nos números do setor e no comportamento do público. Segundo o Radar Econômico da ABRAPE, baseado em dados do IBGE e do Ministério do Trabalho, o segmento cresceu 4,6% até o 1º trimestre de 2025, acima da média nacional de 3,5%. O movimento aparece também no consumo, que alcançou R$ 68 bilhões entre janeiro e junho, o maior valor da série histórica iniciada em 2019.

Esse avanço econômico caminhou junto de mudanças percebidas na prática por quem frequenta shows e festivais. Preços mais altos, maior pressão por transparência, ajustes de estrutura e expectativas mais claras criaram um ano em que a experiência ao vivo serviu como espelho do mercado. A combinação de demanda forte e público mais atento orientou decisões de produtores, plataformas e artistas.

Enquanto o Brasil registrou recordes de consumo, o cenário global reforçou a importância da música ao vivo. O estudo “Living for Live”, da Live Nation, aponta que mais de 130 milhões de fãs compraram ingressos em 2025. O levantamento mostra que shows são hoje a forma de entretenimento preferida no mundo, escolhidos por 39% das pessoas, acima de cinema e eventos esportivos. Esse contexto ajuda a entender por que o setor brasileiro viveu um ano tão movimentado.

Pressão por preços e demanda consistente

Público em show sertanejo
(Crédito: Elise Bunting)

A experiência ao vivo encarou um ano de valores mais altos em diferentes etapas da produção. Com logística mais cara, deslocamento de equipes com custos elevados e aluguel de equipamentos que pesaram mais nos orçamentos, os eventos precisaram ajustar modelos. Essa realidade coincidiu com recordes de consumo. Só em junho, a estimativa chegou a R$ 11,5 bilhões, segundo o Radar Econômico da ABRAPE.

Mesmo com valores maiores, a demanda permaneceu em alta. O estudo global da Live Nation mostra que 80% das pessoas preferem gastar com experiências do que com produtos, e esse comportamento se refletiu no Brasil. O público seguiu presente, mas passou a questionar taxas, modalidades de compra e regras de reembolso com mais frequência.

As plataformas de venda e as produtoras responderam detalhando processos, explicando composições de preço e ajustando políticas de troca. A mensagem recorrente dos fãs nas redes mostrou que, em 2025, o quanto se paga importa, mas a clareza importa tanto quanto.

Festivais e estrutura em revisão

Público em festival
Público em festival (Crédito: Wendy Wel)

Os festivais tiveram importância central na experiência ao vivo e passaram por uma reorganização visível. Para equilibrar os custos, muitos eventos apostaram em line-ups regionais e formatos itinerantes, que permitiram dividir despesas entre cidades. Esse movimento ajudou a manter as edições robustas sem recorrer a estruturas que se tornariam inviáveis financeiramente.

A estrutura física dos eventos também mudou. Rotas de circulação mais claras, áreas cobertas maiores e protocolos climáticos comunicados com antecedência se tornaram comuns. O comportamento global aponta claramente a importância da preparação. O estudo da Live Nation diz que a assistência a estádios triplicou no ano, o que mostra como grandes públicos exigem um planejamento mais detalhado.

No Brasil, filas, acessos e banheiros seguiram como temas sensíveis. Festivais que aumentaram suas equipes de apoio e integraram transporte com aplicativos tiveram avaliações melhores. Já produções que não acompanharam o ritmo das exigências enfrentaram críticas intensas.

Empregos em alta e o peso das reclamações

Montagem de palco do Coldplay no MorumBIS - Crédito Reprodução
Montagem de palco do Coldplay no MorumBIS (Crédito: Reprodução)

O setor de eventos consolidou-se como um dos motores da economia brasileira. Segundo o Ministério do Trabalho, o core business do segmento alcançou 331.987 vagas formais em maio de 2025, uma alta de 74,6% em relação a 2019. A atividade de “organização de eventos” apresentou um salto ainda maior: passou de 47.262 trabalhadores formais em 2019 para 109.025 em 2025, crescimento de 130,7%.

O aumento da força de trabalho, porém, não eliminou problemas recorrentes. Reclamações sobre som, atrasos e falhas técnicas apareceram ao longo do ano. As produtoras responderam reforçando equipes, melhorando o monitoramento e ajustando fluxos internos. A repetição das queixas mostrou que o público, mais informado, passou a avaliar a experiência de maneira mais abrangente.

Tendências e lições de 2025

Lady Gaga em show na Praia de Copacabana (Crédito Alexandre Macieira Riotur), experiência ao vivo
Lady Gaga em show na Praia de Copacabana (Crédito: Alexandre Macieira/Riotur)

Tanto no Brasil quanto mundialmente, 2025 deixou claro que a experiência ao vivo está mais ligada à jornada completa do que apenas ao show. O estudo da Live Nation indica que 70% dos fãs planejam viagens e metade planeja roupas com semanas de antecedência. Esse comportamento comprova a ideia de que cada apresentação é um marco, o que aumenta o peso das expectativas.

Com consumo recorde, mais empregos, públicos diversos e busca por experiências emocionais mais intensas, o ano mostrou que clareza, estrutura e cuidado definem a percepção do público. A experiência ao vivo em 2025 se consolidou como um espaço que movimenta economia, cultura e comportamento, e que exige atenção constante para acompanhar um público cada vez mais exigente.

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