Tidal oferece US$ 1 milhão em concurso para artistas independente mediante a licenciamento das músicas participantes

Tidal lança recurso de upload direto e promove concurso de até US$ 100 mil por ganhador, apresentando regras específicas para o uso das faixas enviadas.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Tidal lança concurso Headliners
Tidal lança concurso Headliners (Crédito: Divulgação)

O Tidal colocou no ar uma ferramenta que permite a artistas independentes enviar músicas diretamente para a plataforma, sem a mediação de distribuidoras. A novidade marca uma tentativa de atrair criadores que buscam visibilidade rápida e novas oportunidades de exposição dentro do streaming. 

O recurso chega acompanhado de um concurso que pode pagar até cem mil dólares para cada um dos dez vencedores. Apesar de estar disponível apenas para quem vive nos Estados Unidos, o movimento interessa a artistas brasileiros por antecipar caminhos que outras plataformas podem adotar no futuro.

O upload direto aceita até duzentas músicas por artista e permite escolher se cada faixa será pública ou privada. As músicas entram no catálogo em cerca de sessenta segundos e ficam acessíveis inclusive para quem não é assinante. O ponto central está no modelo de remuneração. Faixas enviadas dessa forma não recebem royalties de streaming, o que cria um funcionamento diferente daquele usado por distribuidoras e agregadoras.

Como o pagamento funciona no Tidal Upload

O Tidal afirma que sua equipe editorial revisa continuamente os envios feitos pela ferramenta. Quando uma música é selecionada para destaque em playlists ou na página inicial do serviço, o artista recebe cem dólares por dia via Cash App enquanto permanecer nesse espaço. O modelo busca valorizar materiais que chamam atenção rapidamente, aproximando o streaming de ambientes que trabalham com descoberta e experimentação.

Para criadores brasileiros, essa lógica chama atenção porque sugere que o streaming pode testar sistemas alternativos de remuneração, nos quais visibilidade e exposição dividem espaço com pagamentos diretos. É também uma forma de entender como plataformas internacionais escolhem conteúdos que podem ser apresentados ao público sem depender de ciclos completos de lançamento.

Interface do Tidal
Interface do Tidal (Crédito: Divulgação)

O concurso Upload Headliners

O lançamento da ferramenta veio acompanhado do Upload Headliners, concurso que vai distribuir um milhão de dólares entre dez artistas. Cada vencedor receberá cem mil dólares, desde que envie uma faixa original pelo recurso de upload. A avaliação é feita pela equipe editorial do Tidal, que analisa qualidade e potencial de adequação às playlists internas.

No Instagram, o Tidal informou: 

“Nossos editores destacam as melhores faixas publicadas e as adicionam a playlists em destaque, dando a você uma oportunidade de conquistar novos ouvintes, fãs e prêmios em dinheiro do Tidal via Cash App.”

O concurso termina em 31 de dezembro. Para participar, é necessário ter mais de dezoito anos, viver nos Estados Unidos e possuir conta no Cash App em situação regular. O regulamento também determina que músicas criadas com inteligência artificial não são elegíveis.

O que os vencedores ganham e do que abrem mão

As regras foram disponibilizadas na íntegra no site do concurso. Do lado mais visível, o pacote para quem vence o Upload Headliners é simples de entender. O concurso vai escolher dez artistas vencedores, cada um com direito a 100 mil dólares pagos pelo Cash App. O valor é individual, não é parcelado e, no caso de bandas ou grupos, entra inteiro na conta da pessoa indicada como representante. O regulamento deixa claro que tudo o que diz respeito a divisão do prêmio dentro do grupo é responsabilidade exclusiva desse representante, sem qualquer mediação do Tidal ou da Block.

Além do dinheiro, o vencedor ganha exposição dentro do serviço. A faixa vira uma espécie de cartão de visitas dentro do ecossistema do Tidal, já que a plataforma pode usar a música em playlists, destaques editoriais e conteúdos institucionais. Esse uso não se limita à própria faixa. O regulamento prevê que o Tidal pode usar nome, cidade e estado, foto de perfil, imagens, capa do álbum, biografia, postagens em redes sociais e declarações sobre o concurso, sobre o serviço ou sobre a empresa.

Em troca, o artista que vence concede ao Tidal uma licença sobre a faixa premiada em termos bem amplos. A licença é descrita como não exclusiva, isenta de royalties, totalmente paga, transferível, sublicenciável e válida no mundo todo. Na prática, isso significa que o artista continua dono da obra, mas autoriza o uso da música pelo Tidal sem pagamento adicional, tanto dentro da plataforma quanto em materiais de divulgação, campanhas e ações ligadas ao serviço ou à empresa controladora.

O texto também prevê uma renúncia a direitos morais sempre que a lei permitir. Isso inclui o direito de ser identificado como autor e o direito de contestar usos considerados desrespeitosos ou prejudiciais para a obra. O regulamento ainda lembra que a música pode ser redistribuída ou compartilhada por terceiros dentro do próprio Tidal e em outros ambientes digitais. Para quem se inscreve como grupo, há outra camada de responsabilidade: o representante assume sozinho qualquer disputa interna sobre uso da música ou divisão de valores e se compromete a isentar o Tidal de conflitos entre integrantes.

Há ainda o efeito fiscal. O prêmio pode ser tratado como renda tributável nos Estados Unidos. O regulamento informa que a Block pode emitir formulários fiscais com o valor recebido, e os vencedores ficam encarregados de declarar e pagar os impostos devidos. O artista também é responsável por qualquer outro tipo de repasse ligado ao prêmio, como splits contratuais, pagamentos a parceiros criativos ou taxas bancárias, caso existam. Em resumo, o concurso entrega um valor alto e uma vitrine relevante, mas pede em troca uma licença extensa da música vencedora e abre mão de proteções que, em outros contextos, costumam ser tratadas com mais cautela em contratos autorais.

O que esse movimento representa para o Brasil

Essas condições despertam atenção no Brasil porque mostram como concursos internacionais costumam formular contratos amplos, especialmente quando envolvem premiações financeiras de grande porte. Ler esse tipo de documento com cuidado ajuda artistas e equipes a tomar decisões mais informadas caso oportunidades semelhantes cheguem ao mercado brasileiro.

Mesmo que o recurso esteja disponível apenas nos Estados Unidos, o impacto chega ao mercado brasileiro pelo comportamento das plataformas globais. Serviços internacionais costumam testar ferramentas em fases. Programas com pagamentos extras, concursos vinculados a upload direto e modelos alternativos de distribuição podem, no futuro, se tornar parte da operação em outros países.

Observar esse tipo de iniciativa permite que artistas e profissionais do Brasil entendam o cenário e avaliem como novas formas de participação podem dialogar com suas estratégias de carreira. O Tidal Upload revela um formato em que exposição, premiação e condições contratuais se combinam, algo que pode influenciar como artistas lidam com o streaming.

Leia mais: