A discussão sobre licenciamento de IA na música voltou a ganhar força depois que a Music Creators North America (MCNA) questionou o que chamou de ‘falta de transparência’ no acordo entre a Udio e a Universal Music Group (UMG). O entendimento da entidade é que, sem acesso ao contrato completo, não há como avaliar de forma realista o impacto do modelo de opt-in prometido para criadores.
O movimento ocorre no mesmo momento em que a base de usuários da Udio reage ao bloqueio temporário de downloads de faixas geradas na plataforma, uma consequência direta das novas exigências impostas pela parceria com a UMG. Entre insatisfações da comunidade, pedidos de clareza e disputas sobre limites éticos e comerciais, o caso se tornou um símbolo das tensões que impactam o futuro das ferramentas de IA generativa.
Pressões por clareza no acordo

A MCNA detalhou suas preocupações em um comunicado, afirmando que não aceita garantias verbais antes de analisar o documento integral do acordo. A entidade representa organizações como a Songwriters Guild of America e a Society of Composers & Lyricists, o que aumenta o peso da cobrança.
A coalizão criticou especialmente a ideia de que a aceitação do novo modelo dispensaria a transparência. A declaração enviada pela MCNA sintetiza essa posição:
“Os litigantes e seus apoiadores aparentemente acreditam que, como o acordo supostamente exigirá o consentimento opcional dos criadores para torná-los sujeitos aos termos futuros de licenciamento acordados, a transparência total no momento permanece desnecessária.”
O texto segue em tom de alerta:
“Nós discordamos totalmente e permanecemos apreensivos de que tais endossos às cegas sejam evidências de uma estratégia agressiva de pressão de mercado pelos litigantes para cortar a discussão pública sobre os aspectos menos vantajosos do acordo para compositores, letristas e artistas enquanto ainda existe a oportunidade para tais criadores terem uma participação significativa.”
A entidade afirma que só será convencida da eficácia do modelo se tiver acesso ao contrato por completo:
“As experiências passadas com garantias orais de conglomerados multinacionais de música que não se mostraram totalmente precisas tornaram as comunidades de criadores de música e artistas altamente sensíveis a promessas sem prova.”
A MCNA reforçou ainda a necessidade de medidas concretas para proteger quem cria música. No comunicado, a organização afirmou que defende “proteções de IA generativa” capazes de preservar “a viabilidade da criação musical”.
As medidas defendidas incluem “regulamentações nacionais” que obriguem modelos a manter registros de uso de obras, padrões de mercado para obrigar a divulgação pública de termos de licenciamento, tecnologias que identifiquem obras presentes em saídas geradas por IA, uma clarificação urgente do conceito de fair use (uso justo) e o fortalecimento de direitos de imagem.
Revolta dos usuários e resposta da Udio

Enquanto enfrenta pressões externas por transparência, a Udio também lida com críticas de sua comunidade. Após bloquear imediatamente o download de faixas geradas na plataforma, os usuários reagiram com protestos, incluindo composições críticas que chegaram a ocupar a página inicial do serviço.
Para tentar aliviar a crise, a empresa publicou um comunicado oficial:
“Não vamos usar palavras complicadas: odiamos o fato de que não podemos oferecer downloads agora. Sabemos a dor que isso causa a vocês e lamentamos que tenhamos tido que fazer isso.”
O texto reforça que a decisão é consequência direta do acordo com parceiros, incluindo a UMG:
“A Udio é uma empresa pequena que opera em um espaço incrivelmente complexo e em evolução, e acreditamos que fazer parceria diretamente com artistas e compositores é o caminho a seguir. Para facilitar essa parceria, tivemos que desativar os downloads.”
A empresa informou ainda que negociou uma exceção temporária com seus parceiros:
“Uma janela de 48 horas para todos os usuários baixarem suas músicas existentes.”
Mesmo assim, a reação não foi uniforme. Comentários acusando a plataforma de “roubo” ganharam visibilidade, embora exponham um desconhecimento sobre o debate envolvendo treinamentos de IA com catálogos produzidos por artistas e editoras sem autorização prévia.
Caminhos para o futuro da música com IA

O episódio deixa evidente que acordos entre grandes grupos musicais e empresas de IA geram efeitos complexos. De um lado, há a busca por segurança jurídica e modelos de remuneração. De outro, surgem conflitos com comunidades que impulsionaram essas plataformas desde o início.
A posição da MCNA sinaliza que a pressão por contratos mais transparentes deve crescer. Já a reação da base de usuários indica que ajustes estruturais podem ter um custo reputacional elevado para empresas como a Udio. O setor agora observa os desdobramentos, conscientes de que cada nova negociação funciona como um teste para modelos futuros de licenciamento de IA na música.
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