A aquisição da Downtown Music Holdings pela Universal Music Group (UMG) passa por mais uma contestação. Nesta sexta (03), representantes de 20 países entregaram à Comissão Europeia a publicação “100 Voices”, uma coletânea de depoimentos de mais de 100 líderes e artistas do mercado independente. O documento alerta para os riscos que o acordo representa em termos de competição, diversidade e acesso justo a serviços fundamentais para a indústria musical.
A iniciativa, encabeçada por IMPALA (associação europeia de gravadoras independentes), A2IM (associação das gravadoras independentes dos Estados Unidos), WIN (rede mundial que reúne associações independentes de diferentes países) e AIM (associação que representa as gravadoras independentes do Reino Unido), ganhou um hotsite, chamado Block The Deal.
O movimento se soma a uma carta aberta assinada em julho por mais de 200 executivos de gravadoras, selos e associações independentes, além do apoio de entidades como a European Composer Songwriter Alliance. Agora, com a entrega direta do material ao comissário Valdis Dombrovskis, responsável pela investigação de Fase 2, a pressão sobre a Comissão Europeia aumenta. A decisão final, que inicialmente estava prevista para dezembro, foi adiada para 2026, sem data definida.
O que está em jogo no acordo

A Downtown é responsável por serviços estratégicos para artistas e selos independentes, como as distribuidoras FUGA e CD Baby, a plataforma de prestação de contas de royalties Curve e a administradora editorial Songtrust. A preocupação dos opositores é que, ao adquirir esse ecossistema, a UMG consolide controle sobre infraestruturas essenciais que hoje atendem concorrentes diretos.
“O real risco está nas majors adquirirem sistematicamente os distribuidores e prestadores de serviço de que os independentes dependem. Essa onda de aquisições elimina concorrentes, reduz opções para selos e artistas e concentra dados e sistemas de royalties nas mãos de poucos grupos dominantes. Ao reforçar o modelo de ‘super-majors’, esses acordos aumentam custos, enfraquecem a concorrência justa e colocam em risco a diversidade cultural e a sustentabilidade de ecossistemas musicais locais no Chile, na América Latina e além”, explica a presidente da IMICHILE, Francisca Sandoval.
Preocupação com a concentração de poder
A Worldwide Independent Network (WIN), que reúne associações de independentes no mundo todo, também endossou a mobilização.
“Através da aquisição do grupo Downtown, a UMG vai solidificar seu papel como intermediário crítico no mercado de música gravada, integrando várias linhas de negócio para controlar uma infraestrutura essencial da qual seus concorrentes dependem. Isso permitiria à UMG influenciar o mercado e potencialmente explorar dados coletados de rivais que usam seus serviços para prejudicá-los. Esse acordo precisa ser barrado para garantir que todas as partes da indústria musical global tenham chance justa de crescer e prosperar”, afirmou a CEO da WIN, Noemí Planas.
Além disso, segundo os argumentos da liderança independente, há receio de que o avanço reduza as opções para artistas emergentes, dificultando o surgimento de novos nomes em diferentes países.

Mobilização global contra o acordo
O site da campanha, blockthedeal.com, reúne relatos de empresários, artistas e associações que defendem a necessidade de barrar a transação. Entre os signatários estão nomes como Martin Mills (Beggars Group), Martin Goldschmidt (Cooking Vinyl), Alan Hauser (Jungle Records), além de lideranças regionais da Europa, América Latina e Oceania. Alguns optaram por manter anonimato, mas contribuíram com depoimentos sobre como suas operações seriam afetadas caso a UMG passe a controlar as ferramentas da Downtown.
O movimento reflete uma tendência de resistência a processos de concentração no setor musical. Nos últimos anos, grandes gravadoras vêm ampliando sua presença não só no licenciamento de fonogramas, mas também em áreas como distribuição digital, administração de direitos e soluções tecnológicas. Para os independentes, esse avanço coloca em xeque a diversidade de modelos de negócios e o equilíbrio competitivo necessário para sustentar a inovação.
O impacto sobre artistas e selos independentes
Segundo os opositores, a independência de artistas e gravadoras depende da existência de múltiplos provedores de serviços. Caso a UMG passe a comandar a infraestrutura de distribuição, contabilidade e administração editorial de larga escala, a escolha por parte de músicos e selos ficaria limitada, enfraquecendo a autonomia criativa e comercial de quem atua fora das majors.
A decisão da Comissão Europeia será determinante para definir os rumos da concorrência no mercado global. Enquanto isso, a campanha segue convidando novos depoimentos, com a promessa de manter a pressão até que a análise esteja concluída.
Confira a lista completa de signatários aqui.
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