Dia Mundial da Música mostra desafios para artistas novos diante de um mercado concentrado

O Dia Mundial da Música, celebrado em 1º de outubro, levanta reflexões sobre como o público descobre lançamentos e quais espaços ainda existem para artistas emergentes.
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Nathália Pandeló
Música e atividades culturais, cultura
Crédito: Keith Wako

O Dia Mundial da Música foi criado em 1975 pelo Conselho Internacional da Música, a partir de uma proposta do violinista Yehudi Menuhin, com a missão de promover a diversidade cultural e a aproximação entre povos por meio da arte. Passados quase 50 anos, a data continua sendo um convite para observar a riqueza da produção musical, como ela é consumida e de que forma novos artistas conseguem (ou não) encontrar espaço nesse ecossistema.

A comemoração, que acontece oficialmente em 1º de outubro, abre espaço para questionar quem está ouvindo música nova hoje e de que maneira esse consumo acontece. O streaming consolidou-se como principal porta de entrada, mas as curadorias de playlists, as redes sociais e os festivais são indispensáveis na visibilidade de artistas emergentes.

Consumo de música nova

Usuário acessando o aplicativo TikTok em um smartphone, destacando a interface do app com a logo do TikTok. O cenário apresenta um ambiente confortável e aconchegante. Estudo da Luminate avalia o impacto do app.

De acordo com a Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI, organização que reúne gravadoras de todo o mundo), 67% do consumo global de música em 2024 veio do streaming. Esse domínio das plataformas digitais transforma o modo como novos artistas chegam ao público, mas também evidencia a concentração de atenção em poucos nomes. 

Entre os jovens, sobretudo a Geração Z, o TikTok tem função central na descoberta de artistas. Uma pesquisa da Luminate mostra que mais de 50% dos usuários dessa faixa etária conhecem músicas primeiro pela rede social antes de encontrá-las em plataformas como Spotify ou YouTube. Esse processo altera a lógica de divulgação: trechos de até 30 segundos podem ser determinantes para o sucesso de uma faixa.

Espaços para artistas emergentes

Palco do festival MADA em sua edição de 25 anos (Crédito: Luana Tayze)
Palco do festival MADA em sua edição de 25 anos (Crédito: Luana Tayze)

No Brasil, line-ups de grandes festivais como Lollapalooza, The Town e Rock in Rio seguem concentrados em artistas mainstream. A presença de novos nomes costuma estar ligada a indicações de selos, gravadoras ou relacionamentos já estabelecidos no mercado, o que gera reclamações recorrentes de artistas independentes.

Paralelamente, cresce um circuito alternativo que amplia as oportunidades. Festivais regionais, como Psica em Belém e MADA em Natal, se consolidam como espaços de visibilidade, apostando em diversidade estética e em novos públicos.

Tendências de mercado

Disco de vinil - Billboard exclui dados de CDs e vinil do

O mercado fonográfico global ultrapassou US$ 28 bilhões em 2023, puxado pelo aumento de assinaturas de streaming e pela força de gêneros locais como afrobeats, música latina e sertanejo. No Brasil, segundo o Ecad, a distribuição de direitos autorais superou R$ 1,4 bilhão em 2024. O sertanejo se mantém como gênero mais tocado, mas segmentos como gospel e funk têm mostrado expansão consistente.

Outro dado que chama atenção é a retomada do consumo físico, especialmente de vinis. O formato cresce em dois dígitos ano após ano, estimulando relançamentos e atraindo públicos jovens para catálogos antigos. Isso revela como a música nova disputa espaço entre artistas contemporâneos e obras revisitadas do passado.

Principais queixas no mercado da música

Investimentos no mercado da música - Uma pessoa segurando diversas notas de dólar, incluindo valores de 20 e 50, ilustrando a gestão financeira e a importância do dinheiro.

Estudos recentes ajudam a compreender os pontos que mais preocupam profissionais do setor. Uma pesquisa conduzida pela IFPI mostrou que grande parte dos músicos está insatisfeita com os valores pagos pelas plataformas de streaming. 

Relatórios da MIDiA indicam que selos independentes também percebem maior dificuldade em conquistar espaço nesse ambiente, já que cerca de 120 mil faixas são lançadas diariamente, o que reduz a visibilidade de novos artistas. Outro ponto recorrente é a falta de transparência em contratos, considerados exploratórios por muitos, sobretudo em acordos de licenciamento digital.

As queixas não se restringem à remuneração. Levantamentos feitos no Reino Unido pelo Help Musicians apontam que 30% dos músicos relataram bem-estar mental em queda, especialmente no início da carreira, em razão da pressão por autopromoção e da instabilidade financeira. 

Um relatório da International Society of Music (ISM) revelou que dois terços dos entrevistados já sofreram algum tipo de discriminação no setor, e mais da metade identificou situações de assédio. Esses dados mostram que, além de desafios econômicos, a indústria da música também precisa lidar com questões estruturais de inclusão, segurança e sustentabilidade de carreira.

Desafios e perspectivas

Se a democratização do acesso à distribuição musical nunca foi tão ampla, a disputa pela atenção do público é igualmente intensa. As plataformas de streaming, os algoritmos de redes sociais e as curadorias de festivais se tornam filtros que definem quem será ouvido. 

Nesse cenário, artistas independentes se apoiam em estratégias próprias de engajamento, muitas vezes utilizando o TikTok, a proximidade com nichos de fãs e a ocupação de espaços alternativos para driblar a concentração.

O Dia Mundial da Música, celebrado desde 1975, propunha inicialmente ser um espaço de união. Hoje, essa reflexão ganha novas camadas: como garantir que a diversidade de vozes e estilos não se perca diante da lógica de concentração? A data, mais do que uma comemoração, é um convite para olhar o mercado em movimento e questionar de que forma ele pode se tornar mais aberto a artistas em início de carreira.

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