Streaming já responde por 75% da receita da música, mas adesão da geração Z cresce mais devagar, aponta pesquisa da MIDiA

A pesquisa da MIDiA mostra que o streaming domina o mercado, mas jovens de 16 a 19 anos têm crescimento mais lento nas assinaturas.
Foto de Nathália Pandeló
Nathália Pandeló
Plataformas de streaming - Spotify, Apple Music, IFPI
Plataformas de streaming (Crédito: Cottonbro Studio)

O modelo de streaming que consolidou a indústria da música na última década pode estar entrando em um novo ciclo. Relatórios recentes da MIDiA Research, em análise assinada por Mark Mulligan, indicam que, embora o setor ainda represente cerca de 75% da receita do mercado fonográfico (excluindo direitos acessórios, como merchandising e shows), a adesão entre os jovens de 16 a 19 anos cresce “muito mais lentamente” do que entre outras faixas etárias.

Desde que o Spotify surgiu em 2008, o streaming se tornou a forma dominante de ouvir música. A praticidade atraiu tanto os ouvintes mais assíduos quanto o público que consumia música de forma esporádica, acelerando o declínio do download pago e até da pirataria. Agora, no entanto, esses dados apontam que a chamada geração Z tem aderido com menos intensidade, especialmente entre jovens de 16 a 19 anos.

Acomodação e desafios do modelo atual

Superfans / superfãs - Live Nation
Crédito: Unsplash

As plataformas foram desenhadas para atender em massa os ouvintes ocasionais, o que acabou tornando a experiência mais homogênea. A proposta inicial de catálogo ilimitado, somada a recomendações algorítmicas, priorizou a conveniência. Para os fãs mais engajados, esse formato resultou em uma sensação de perda de identidade e descoberta, aspectos antes associados a buscar álbuns em lojas físicas ou acompanhar programas de rádio.

Segundo análise de Mark Mulligan, da MIDiA Research, a ausência de diferenciação entre o público casual e o aficionado representa um paradoxo econômico: ambos pagam o mesmo valor, mas enquanto os primeiros encontram no streaming a solução ideal, os segundos migram parte do gasto extra para shows e merchandising. Esse movimento ajuda a explicar por que ingressos e produtos de artistas se tornaram peças centrais na receita do setor.

A busca por experiências menos previsíveis

Uma das propostas em debate é a introdução de “fricção” no uso das plataformas, ou seja, elementos que tornem a descoberta musical mais ativa. Exemplos incluem sistemas de recompensas por explorar catálogos ou criar perfis públicos com conquistas musicais. A ideia é que a experiência de garimpar faixas escondidas traga a mesma satisfação subjetiva que a busca por discos raros em lojas físicas.

Embora a maioria dos usuários prefira a praticidade, oferecer caminhos opcionais de exploração pode aproximar as plataformas dos públicos mais jovens, que hoje encontram esse tipo de estímulo em redes sociais ou lojas de vinil.

O comportamento da geração Z

Geração Z ouve música (Crédito RDNE Stock project)
Geração Z ouve música (Crédito: RDNE Stock project)

Estudos indicam que a geração Z descobre música principalmente em ambientes visuais, como TikTok e YouTube, consumindo trechos curtos em fluxos constantes. Esse padrão facilita o acesso, mas pode reduzir a conexão emocional com os artistas, já que a busca ativa é substituída pelo fluxo algorítmico.

Outro traço dessa geração é a valorização de hits de décadas passadas. Clássicos resgatados em redes sociais, regravações e remixes ganham espaço em trends. Soma-se a isso o interesse crescente por formatos físicos como vinil e CD, simbolizando uma experiência de posse que o streaming não oferece. Esse movimento abre novas oportunidades de mercado, já que produtos físicos geralmente têm uma margem de lucro maior do que as assinaturas digitais.

Implicações para o mercado fonográfico

Para as gravadoras, o cenário indica a necessidade de equilibrar investimentos. O crescimento do catálogo se mostra estratégico diante do potencial de nostalgia da geração Z. Paralelamente, a dificuldade para novos artistas em se destacar deve aumentar, já que catálogos consolidados e nomes consagrados concentram mais consumo e licenciamento.

O futuro do streaming, portanto, não indica um colapso, mas um imperativo de adaptação. É necessário incorporar experiências que unam conveniência com possibilidades de descoberta, ao mesmo tempo em que dialoga com hábitos fora das plataformas digitais.

Novos caminhos em construção

Segundo a MIDiA, os próximos anos devem trazer soluções híbridas, combinando eficiência com engajamento de nichos. Entre elas estão versões premium voltadas para superfãs, iniciativas de gamificação e a integração entre streaming, redes sociais e produtos físicos.

A música sempre se adaptou às transformações tecnológicas e comportamentais, e o streaming não será diferente. O desafio agora é atender tanto ao público que busca praticidade quanto àqueles que desejam uma conexão mais profunda com a música.

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